Por: André | 13 Setembro 2012
E agora? Responder a esta pergunta tornou-se crucial para a esquerda mexicana após sua derrota nas eleições presidenciais de 1º de julho passado e ver rechaçada há algumas semanas pelo Tribunal Eleitoral sua pretensão de anular as eleições por suposta compra de votos por parte do Partido Revolucionário Institucional (PRI). O que fazer com os mais de 15 milhões de votos que a transformaram na segunda maior força do país? Obstinar-se em não reconhecer a vitória de Enrique Peña Nieto e aferrar-se à superioridade moral da qual se gaba o candidato do Movimento Progressista, Andrés Manuel López Obrador [AMLO], ao mesmo tempo em que lança uma campanha de mobilizações contra os poderes de fato? Manter-se unidos em uma aliança de moderados e radicais numa verdadeira alternativa de poder que trate de ocupar o centro e atenda às demandas das novas classes médias?
A reportagem é de Luis Prados e está publicada no jornal espanhol El País, 09-09-2012. A tradução é do Cepat.
Na hora decisiva para a esquerda deste país todos os sinais apontam para a ruptura. López Obrador anunciou no último domingo às dezenas de milhares de partidários reunidos no Zócalo da capital que nesta quarta-feira [ontem] se decidirá a transformação do Movimento Regeneração Nacional (Morena), seu veículo particular de conexão com as massas constituído há quase um ano, em partido político. A iniciativa irá acompanhada de “ações de resistência civil, sempre pacíficas” contra a “imposição de um presidente ilegítimo”, em uma reedição light do que aconteceu em 2006. Dar esse passo o colocará fora do Partido da Revolução Democrática (PRD), o maior partido da coalizão progressista. Seus líderes já declararam sua aceitação de Peña Nieto.
Um grupo de notáveis do PRD como Marcelo Ebrard, chefe de Governo do DF; seu sucessor, Miguel Ángel Mancera; o três vezes candidato a presidente Cuauhtémoc Cárdenas; o senador Manuel Camacho Solís e o ex-reitor da UNAM, Juan Ramón de la Fuente, por sua vez, se pronunciarão nos próximos dias a favor de um novo projeto político, que alguns chamam de “opção socialdemocrata”, afastando-se tanto de López Obrador como dos apparatchiks do PRD, conscientes de que as velhas estruturas partidárias já não servem.
Quem conhece o projeto garante que o novo partido político buscará construir uma verdadeira alternativa de governo para ganhar as eleições de 2018, que seja capaz de superar o desânimo atual da sociedade mexicana e enfrentar a batalha cultural e ideológica do PRI nos seis próximos anos.
A urgência da renovação das forças progressistas vem motivada também pela coincidência na agenda de reformas exibidas pelo PRI e pelo Partido Ação Nacional (PAN), do atual presidente Felipe Calderón, em final de mandato, e grande derrotado nas eleições. O PAN, profundamente dividido, precisa do apoio do poder para não perder pé na nova etapa e se oferece como aliado do velho partido hegemônico, o que pode marginalizar a esquerda. “São duas versões da direita, a autoritária e a católica, e vão se entender”, afirma Roger Bartra, sociólogo da UNAM, convencido de que “a teimosia de López Obrador e a via dos protestos apenas fragilizam a esquerda”.
A chamada opção socialdemocrata não está pela oposição frontal ao novo presidente. Tem muito a dizer em matéria de segurança, como a ideia de forjar de uma vez por todas um pacto nacional contra a violência, e quer influir nas reformas anunciadas: energética, fiscal e trabalhista. Mas traça linhas vermelhas em seu desenvolvimento, como a não aceitação do aumento do IVA e uma maior flexibilidade do emprego. Em troca, apoiará tudo o que significar mais democracia interna e transparência econômica dos sindicatos.
A esquerda mexicana é um conglomerado de forças – PRD, Partido do Trabalho, Movimento Cidadão – e correntes, as chamadas popularmente “tribos”, que sempre estiveram unidas ao carisma de seu líder, primeiro Cárdenas, depois López Obrador.
O professor do Colégio do México, Sergio Aguayo, sustenta que “os problemas do PRD são muito mais profundos que a personalidade de López Obrador” e enumera os quatro principais: “Divisão interna; não ter sabido processar as lideranças carismáticas como Lula no Brasil conseguiu, nem o que fazer com os governos estaduais e a desorganização”.
Em sua opinião, a exceção neste panorama e a solução para os seus males encontra-se no Distrito Federal, onde a candidatura de Mancera arrasou em julho com mais de 60% dos votos, quase 800.000 a mais que os obtidos por López Obrador, e que a esquerda converteu em um exemplo nacional de gestão democrática e modernidade. Nisso concorda Ramón Alberto Garza, diretor do jornal Reporte Índigo, que considera que “López Obrador não claudicará, mas que, atualmente, o homem a vencer em 2018 é Mancera”. “A esquerda mexicana está em seu melhor e pior momento. Nunca antes havia tido tantos votos entre as classes médias ou inclusive em Estados conservadores como Nuevo León e Jalisco. O negativo é que essa acumulação de poder propicia sua quebra”, acrescenta.
Os bons resultados obtidos não descartariam uma terceira candidatura presidencial de López Obrador – Lula e Rajoy chegaram ao poder na terceira tentativa – e o temperamento político mexicano induz ao pacto. É nisso que acredita o jornalista e analista político Jorge Zepeda: “AMLO buscará uma saída digna como líder moral e sua resistência será mais simbólica que real. Não vejo uma ruptura dramática da esquerda. Construíram um patrimônio de convivência e, caso romperem, destruirão o patrimônio”. A solução, sem demora.
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Briga pós-eleitoral provoca ruptura da esquerda mexicana - Instituto Humanitas Unisinos - IHU