02 Junho 2012
"Economia perdeu vigor por falta de investimento das empresas e do governo e medo do colapso europeu", analisa Vinicius Torres Freire, jornalista, em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo, 02-06-2012.
Eis o artigo.
O pibinho ainda menor que o esperado, expectativa que já era miúda, não vai fazer lá muita diferença a não ser para a política e para as estatísticas do primeiro biênio de Dilma Rousseff.
Para o mundo real, não há novidade. Os problemas continuariam os mesmos ainda que o crescimento do primeiro trimestre tivesse sido de 0,5%, em vez de 0,2%.
O país não vai crescer 3% em 2012, mas 2,5%? Um pouco pior, decerto, mas esse meio ponto pode ser recuperado de modo razoável com um pouco mais de investimento e de sorte. Sim, sorte.
O nosso futuro depende da situação econômica mundial, a respeito do que nada podemos fazer.
O que significa recuperar o atraso de "modo razoável"? Primeiro, é preciso que o governo não entre em pânico politiqueiro e se entregue ao voluntarismo desesperado, à tentativa de tentar estimular ainda mais o consumo.
Dilma Rousseff está obcecada pela meta de crescimento de curto prazo. Está assombrada pela possibilidade, quase fato, de que o país cresça em 2011-12 a uma taxa parecida com a da média dos anos FHC (2,3%).
Segundo, é preciso dar algum estímulo ao investimento (em máquinas, equipamentos, instalações produtivas). A economia está rateando porque o investimento cai faz três trimestres. Por quê?
1) Porque está relativamente caro investir. O retorno do investimento ("lucro") está menor, pois os custos no Brasil estão altos demais;
2) Por causa do "vai indo que eu não vou". Muita empresa tinha no início do ano planos razoáveis de aumentar a despesa de investimento, à espera da retomada mais forte, que não veio até agora. Como a retomada não veio, as empresas "não foram";
3) Porque a situação da economia mundial é assustadora. Além de andar devagar, quase parando, há o risco de novo colapso financeiro, talvez de dimensão semelhante ao de 2008, aquele que nos provocou a recessãozinha de 2009. Na dúvida, as empresas jogam na retranca;
4) Porque a indústria não cresce. Não cresce porque parte do consumo é capturada por importados e porque a procura de produtos brasileiros anda mal no exterior;
5) Porque falta crédito ou vontade de fazer crediário para a compra de bens mais caros (como carros);
6) Por fim, o investimento não cresce porque a despesa do governo em obras (investimento público) vai mal.
No curto prazo, no próximo ano e pouco, como é possível alterar esse quadro?
Aumentando o investimento público. O setor privado decerto pode investir mais se vir sinais de vida mais animadodores, os quais em alguma medida virão, dados a queda dos juros e os estímulos pontuais ao consumo disso ou daquilo, cortesia do governo.
Mas é difícil acreditar em aumento adicional relevante do consumo, que no conjunto vai bem e não tende a melhorar muito mais, dado o nível de endividamento das famílias. Enfim, o governo não pode se afobar e forçar a barra. Tem de pensar no longo prazo. O que não tem feito.
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Em vez de forçar a mão no consumo, governo deve investir - Instituto Humanitas Unisinos - IHU