15 Fevereiro 2012
O porta-voz do Vaticano afirma: quem espera impedi-lo com os vazamentos de documentos se equivoca. É "moralmente rude" quem lê o que está acontecendo como lutas de poder.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no sítio Vatican Insider, 14-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O porta-voz do Vaticano, padre Federico Lombardi, divulgou nesta segunda-feira, 13 de janeiro, uma nota sobre a "circulação de documentos, que tendem a desacreditar o Vaticano e a Igreja". Ele garantiu que o processo de rigor e de transparência financeira desejado por Bento XVI e levada adiante pelos seus colaboradores irá continuar e deu a entender que o vazamento de documentos está relacionado com a vontade de "desencorajar" esse empenho.
Lombardi disse que é preciso "manter todos os nervos firmes, porque ninguém pode se surpreender com nada", e assim como o governo norte-americano "teve o Wikileaks, o Vaticano tem agora os seus leaks, os seus vazamentos de documentos que tendem a criar confusão e perplexidade e a facilitar que se jogue uma má luz sobre o Vaticano, sobre o governo da Igreja e, mais amplamente, sobre a própria Igreja".
Portanto, é preciso "calma e sangue frio", e "muito uso da razão, o que nem todos os meios de comunicação tendem a fazer". O diretor da Sala de Imprensa do Vaticano distingue, portanto, os documentos "de natureza e de peso diferentes" publicados nas últimas semanas: "Uma coisa são as discussões sobre uma melhor gestão econômica de uma instituição com muitas atividades materiais como o Governatorato [a referência é às cartas do atual núncio nos Estados Unidos, Carlo Maria Viganò, que havia falado sobre episódios de "corrupção"]; outra coisa são as notas sobre questões jurídicas e normativas em discussão e sobre as quais é normal que existam opiniões diversas [a referência é ao "memorando" do IOR que falava da não retroatividade das novas regras antilavagem de dinheiro]; outra coisa ainda são os memorandos divagantes que nenhuma pessoa com a cabeça sobre o pescoço considerou como sérios, como o recente sobre o complô contra a vida do papa [a nota anônima que chegou até Bento XVI pelas mãos do cardeal Darío Castrillón Hoyos]".
"Juntar tudo isso – continua Lombardi – ajuda a criar confusão. Uma informação séria deveria saber distinguir as questões e entender o seu significado diferente. É óbvio que as atividades econômicas do Governatorato devem ser geridas sabiamente e com rigor; é claro que o IOR e as atividades financeiras devem se inserir corretamente nas normas internacionais contra a lavagem de dinheiro. Essas são evidentemente as indicações do papa. Entretanto, é evidente que a história do complô contra o papa, como disse desde o início, é uma divagação, uma loucura e não merece ser levada a sério".
Lombardi chama de "triste" o fato de que "documentos sejam passados deslealmente de dentro para fora, de modo a criar confusão", falando de uma responsabilidade "de uma e de outra parte", isto é, "de parte de quem fornece esse tipo de documentos, mas também quem se dá ao trabalho de usá-los para fins que certamente não são o puro amor pela verdade". Uma crítica a quem fez vazar cartas, "memorandos" e notas dos arquivos da Secretaria de Estado, uma crítica igualmente forte a quem levou esses documentos à TV ou imprimiu-os em uma página.
A força dos ataques, observa o diretor da Sala de Imprensa vaticana e da Rádio do Vaticano, "é sinal de que alguma coisa importante está em jogo". Lombardi indica como "à grande série de ataques contra a Igreja sobre a questão dos abusos sexuais correspondeu justamente um compromisso sério e profundo de renovação clarividente. Não uma resposta de curto fôlego, mas sim de purificação e renovação". O mesmo vale para o "sério empenho para garantir uma verdadeira transparência do funcionamento das instituições vaticanas também do ponto de vista econômico" que está em andamento.
"Foram publicadas novas regras", especifica Lombardi. "Foram abertos canais de relações internacionais para o controle. Agora, diversos documentos recentemente difundidos tendem justamente a desacreditar esse empenho. Paradoxalmente, isso constitui uma razão a mais para buscá-lo com decisão, sem se deixar impressionar. Se muitos se enfurecem, vê-se que é importante. Quem pensa em desencorajar o papa e os seus colaboradores nesse empenho se equivoca e se ilude".
Com essas palavras duras, o porta-voz vaticano parece atribuir a divulgação de documentos sobre o IOR e sobre as leis antilavagem de dinheiro a uma específica vontade de bloquear a renovação e a transparência nas finanças vaticanas desejadas por Bento XVI e conduzidas pelos seus colaboradores – os cardeais Tarcisio Bertone e Attilio Nicora, e o presidente do IOR, Ettore Gotti Tedeschi.
Por fim, o padre Lombardi também criticou fortemente todos os observadores e comentaristas que leram nestes dias, por trás do vazamento de documentos, tensões internas e lutas pelo poder, também em vista do futuro conclave, tema explicitamente mencionado na nota entregue por um cardeal ao papa, enviada à Secretaria de Estado e, em seguida, publicada no jornal Il Fatto Quotidiano.
O porta-voz lembra que "os pontífices eleitos neste século foram todos personalidades de altíssimo e indiscutível valor espiritual" e que "os cardeais buscaram e buscam eleger alguém que mereça o respeito do povo de Deus e possa servir à humanidade do nosso tempo com grande autoridade moral e espiritual".
Finalmente, a crítica pesada tanto a quem provocou, quanto a quem fez essa interpretação dos fatos que ocorreram ultimamente, falando de tensões, lutas entre velha e nova guarda, ataques projetados para abalar a cadeira do secretário de Estado. "A leitura em chave de lutas de poder internas – afirma Lombardi – depende em grande da rudeza moral de quem a provoca e de quem a faz, que muitas vezes não é capaz de ver além".
Ler o que aconteceu com o Governatorato, com as acusações sobre a gestão dos contratos feitos pelo atual núncio nos EUA, ler o que está acontecendo com o IOR, e a contínua divulgação de documentos – muito diferentes entre si –, mas todos igualmente reservados e provenientes da Secretaria de Estado, como evidências de confrontos internos poder é sinal – segundo o diretor da Sala de Imprensa vaticana – de "rudeza moral" e da incapacidade de "ver além".
"Quem crê em Jesus Cristo – conclui Lombardi –, por sorte, sabe que, o que quer que se diga ou se escreva nos jornais, as verdadeiras preocupações de quem porta responsabilidade na Igreja são, ao contrário, os problemas graves da humanidade de hoje e de amanhã. Não é por nada que acreditamos e falamos também da ajuda do Espírito Santo".
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
''O Vaticano não se deixa intimidar. A transparência continua'', afirma Lombardi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU