11 Fevereiro 2012
Houve enormes custos materiais. Verdade. Assim como é verdade que também houve, muitas vezes, especulações de todos os tipos, inclusive legais. Algumas odiosas. Mas tudo isso importa até certo ponto. Ou, melhor, como foi dito em alto e bom som, não importa "nada". Porque todo outro evento colateral desaparece diante dos casos de abuso sexual cometido contra menores por parte de pessoas da Igreja.
A reportagem é de Salvatore Mazza, publicada no jornal dos bispos italianos, Avvenire, 10-02-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
O que realmente importa é que, infelizmente, alguns abusos ocorreram. Ferindo a Igreja no seu corpo, muitas vezes também com a negação da realidade. Ferindo diretamente a sua missão. E pouco importa também a marginalidade do dado estatístico. Mesmo um só caso já seria muito. E, ao invés disso, foram milhares ao longo dos anos. Aconteceu. E não deve acontecer de novo. Nunca mais.
O simpósio que, por quatro dias, na Universidade Gregoriana de Roma, abordou de rosto aberto o escândalo dos abusos sexuais, certamente pode ser lido em uma chave muito secular, uma espécie de "operação transparência" em apoio do novo percurso com "tolerância zero"que, embora iniciado há mais de dez anos, só agora, depois do reconhecimento das feridas abertas, chega a se concretizar totalmente em um projeto global.
E o próprio objetivo declarado do encontro – ajudar as Conferências Episcopais nacionais a elaborar as suas próprias "linhas diretrizes" para enfrentar o problema, e que cada uma deverá preparar ainda este ano – poderia levar a crer que foi apenas, ou principalmente, um momento técnico, jurídico-pastoral, de testemunho, orientação e discurso. E o foi, de algum modo.
Mas, no fundo, as coordenadas da ação Rumo à cura e à renovação já estavam todas no magistério e nas iniciativas de João Paulo II e de Bento XVI, e, portanto, reduzi-lo a essa dimensão seria um pouco como remexer uma panela para tirar sempre a mesma sopa.
Na realidade, a escolha de transformar em um "evento" o encontro da Gregoriana, até "expor na praça" a fraqueza humana presente na Igreja também, foi um sinal poderoso da vontade de fazer entrar em profundidade no tecido de uma instituição que, às vezes, no passado, diante do escândalo, havia se mostrado hesitante e amedrontada, a mesma vontade determinada de Bento XVI não só de fazer limpeza, mas, acima de tudo, de evitar que a sujeira possa voltar a se acumular. Fazendo com que mesmo os mais distantes entendam como uma "coisa" intrinsecamente "boa" como a Igreja fundada por Cristo, embora suja pelos comportamentos horrendos e vergonhosos de alguns, continua se mostrando e fazendo o bem. Fazendo entender como ela pode se curar e ajudar a curar. Como ela pode se renovar. Como ela também pode ser um exemplo, nesse sentido, como disse o cardeal Ouellet na vigília penitencial, "às outras comunidades e estruturas da sociedade, igualmente atingidas por essa tragédia". Da mesma forma, disse o homem de Deus, muito mais podemos e devemos admitir secularmente como cidadãos e como jornalistas que mantêm seus olhos abertos.
No simpósio, mais uma vez, foi reafirmado que as vítimas dos abusos pedófilos vêm em primeiro lugar, e que a atenção a elas e o acompanhamento devem preceder todo o resto: não por acaso, quem abriu o encontro foi justamente o testemunho de uma vítima, e foi, talvez, o momento mais intenso. Reafirmou-se que a busca da verdade é um dever de justiça exigente e inevitável. Que é preciso estar atentos, por isso, de um modo igualmente exigente, à formação (e à seleção) das pessoas candidatas ao sacerdócio e à vida consagrada, e é indispensável colaborar sem hesitação com as autoridades civis empenhadas no combate à pedofilia.
Acima de tudo, no entanto, nos dias do encontro na Gregoriana, quem foi "exposta na praça" foi a oração da Igreja e a sua fé em uma Misericórdia Divina que é a única que pode curar e renovar realmente. Porque, como escreveu Bento XVI na carta aos católicos irlandeses, "o arrependimento sincero abre a porta ao perdão de Deus e à graça do verdadeiro emendamento".
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Pedofilia: o dever da verdade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU