25 Setembro 2011
A Igreja e os mosteiros gregos não pagarão o novo e muito impopular imposto imobiliário decidido urgentemente no domingo, 11 de setembro, pelo governo grego para responder aos objetivos orçamentais impostos pelos financiadores do país. "A imposição sobre a Igreja ocorrerá sobre os bens por ela explorados comercialmente", afirma, no entanto, um porta-voz do Ministério da Economia diante dos protestos provocados por esse anúncio.
A reportagem é de Alain Salles, publicada no jornal Le Monde, 21-09-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Estariam isentos os lugares de culto e as organizações de caridade. Mas os limites às vezes são incertos e as contas da Igreja Ortodoxa não são transparentes.
"As suas organizações têm um status de direito público que lhes oferece vantagens fiscais importantes. Elas são obrigadas a publicar as suas contas, mas não o fazem", explica Isabelle Depret, da Universidade Livre de Bruxelas, autora de um livro sobre a Igreja Ortodoxa (Ed. L"Harmattan, 2009).
O dinheiro da Igreja continua sendo um tema tabu na Grécia. "A sua renda é tributável, mas há dois grandes problemas", alerta o professor de sociologia da religião da universidade egeia de Rodes, Polikarpos Karamouzis. "Não há um sistema econômico para especificar em detalhe as suas verdadeiras entradas, e ninguém sabe a extensão das suas propriedades, porque não há cadastro". Essa situação convém tanto para a Igreja, quanto para o Estado, "porque os políticos não conseguem se pôr contra as autoridades ortodoxas", explica Stefanos Manos, deputado independente, um dos raros políticos que pedem uma separação entre Igreja e Estado.
"A Igreja grega é uma igreja nacional", explica Polikarpos Karamouzis. "Isso significa que há uma conexão política entre a Igreja e o Estado, que lhe concedeu os seus privilégios. O seu papel espiritual está estreitamente ligado ao seu papel político, o que mantém uma confusão entre fiéis e cidadãos, explorada pelos políticos em busca de votos".
Os popes são transmissores de opinião que os políticos preferem não ofender. Em dezembro de 2010, o Santo Sínodo, que reúne 13 bispos, denunciou, em um texto distribuído em todas as paróquias, a troika – os representantes do Fundo Monetário Internacional, da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu – como uma força de "ocupação estrangeira".
"O governo está muito atento antes de criar impostos para a Igreja ou para os proprietários, enquanto os trabalhadores e os aposentados têm que pagar sem que lhes seja perguntado se isso lhes agrada", irrita-se o líder do partido de extrema esquerda Syriza, Alexis Tsipras, também favorável a uma separação.
A Igreja Ortodoxa é um dos elementos constitutivos da nação grega. A Constituição foi escrita "em nome da Trindade santa e indivisível". Os padres dão a sua bênção por ocasião do primeiro dia de aulas e aos novos governos. O catecismo é ensinado nas escolas públicas. Pessoas de todas as idades fazem o sinal da cruz quando passam em frente a uma igreja.
Em março de 2010, o governo socialista de Georges Papandréou decidiu cobrar das igrejas impostos pelos 20% das receitas comerciais e entre 5% e 10% pelas doações declaradas. Os 10 mil popes e os seus bispos são pagos pelo Estado, por uma despesa orçamental no valor de 220 milhões de euros por ano. O ex-ministro da Economia, Georges Papaconstantinou, procurou reduzir a participação do Estado, mas, enquanto esse tipo de informação vazava, a vontade do governo desaparecia. O atual ministro da Economia, Evangélos Venizélos, muito próximo dos ambientes ortodoxos, não tem esse tipo de veleidade.
As polêmicas levantadas pela isenção do novo imposto imobiliário levaram a Igreja a sair da sua reserva publicando, na sexta-feira 16 de setembro, o montante dos seus impostos. A sua direção dos serviços econômicos afirma ter pago 2.5 milhões de euros em impostos fundiários e de renda em 2010. Indica também possuir 30 propriedades em Atenas (das quais seis estão desocupadas) e 14 em Salônica.
Assim que a Igreja é atacada sobre os seus bens, o que é cada vez mais frequente, o arcebispo de Atenas, Hieronymos, que é a autoridade máxima ortodoxa da Grécia, reage explicando que a riqueza da Igreja é "um mito". Só teriam restado 4% dos bens que ela tinha antes da revolução grega de 1821, dadas as inúmeras apreensões de propriedades pelo Estado.
"A riqueza da Igreja grega não tem nada a ver com a da Itália ou da Espanha. Alguns edifícios públicos foram construídos com bens eclesiásticos, mas a Igreja não recebe nenhuma contrapartida", afirma Vassilis Meichanetsidis, do serviço de comunicação do arcebispado de Atenas.
Os jornais publicaram documentos sobre o patrimônio da Igreja Ortodoxa. Segundo o Kathimerini (da centro-direita), os seus bens em 2008 teriam aumentado para 700 milhões de euros. Stefanos Manos, ex-ministro da Economia, os avalia em mais de um bilhão de euros. Os 2,5 milhões de euros pagos pela Igreja parecem bem pouco em comparação com esses números, não confirmados oficialmente.
Mas trata-se apenas de uma parte dos bens eclesiásticos, geridos pelos serviços centrais da Igreja. Isso não se aplica às paróquias, algumas das quais são muito ricas. Nem às propriedades diretas de 80 dioceses gregas que gozam de grande autonomia. Sem contar os bens dos 450 mosteiros, dependentes ou não da Igreja grega (como os do Monte Athos, que tem um estatuto à parte). Para completar o quadro, seria preciso acrescentar os bens possuídos na Grécia pelos patriarcas ortodoxos de Constantinopla, de Jerusalém ou de Alexandria.
"A Grécia tem uma montanha de dinheiro debaixo dos olhos e faz como se não a visse," indigna-se o escritor Vassilis Alexakis, autor de um romance mordaz sobre o Monte Athos, Ap. J.-C. (Ed. Folio, 2009). A Igreja é o segundo proprietário de terras (depois do Estado grego), com mais de 130 mil hectares de terra. "Trata-se de florestas, de terrenos não construíveis", explica Vassilis Meichanetsidis. Também se trata de imóveis situados nos bairros chiques de Atenas, ou nas ricas periferias balneárias ao da capital.
A Igreja é acionista em 1,5% do Banco Nacional da Grécia e tem um representante no Conselho de Administração, o bispo de Ioannina, Theoklitos, que teria recebido, segundo a revista financeira Forbes, 24 mil euros gratificação por presença. Esse bispo se opôs firmemente ao aumento dos impostos eclesiásticos, declarando: "Recusamo-nos a pagar pelas culpas alheias". Só dois bispos haviam proposto renunciar aos seus salários de 2.200 euros. "São a honra da Igreja grega", explica Jean-François Colosimo, especialista em religião ortodoxa.
Os terrenos também permitem os negócios. Os monges do rico mosteiro de Penteli, ao norte de Atenas, procuram investidores para um valor de 1 bilhão de euros, para explorar uma parte da sua montanha, transformando-a em um parque fotovoltaico e para recuperar a energia solar. É a nova estratégia oficial da Igreja: rentabilizar os seus bens para que suas organizações filantrópicas se beneficiem com isso. A Igreja dedicou mais de 100 milhões de euros em 2010 para as suas atividades de caridade, que cresceram com a crise. "Em Atenas, fornecemos de 10 mil a 12 mil refeições diárias", afirma Vassilis Meichanetsidis.
Mas a vocação filantrópica da Igreja Ortodoxa é relativamente recente e passou por altos e baixos. Em 2010, ela foi obrigada a fechar e a mudar o nome da sua associação Solidariedade, por causa da péssima gestão.