16 Setembro 2011
De acordo com os organizadores, 30.000 pessoas saíram às ruas para protestar pela educação no Chile. Os jovens retomam a iniciativa política após o acidente aéreo que enlutou o país. Duras negociações com o governo de Piñera.
A reportagem é de Christian Palma e está publicada no jornal argentino Página/12, 15-09-2011. A tradução é do Cepat.
Após dois dias de intenso calor em Santiago, nesta quarta-feira amanheceu um pouco mais ameno, como se a temperatura mais baixa pressagiasse o mesmo que aconteceu em torno da discussão sobre a educação no Chile durante as últimas semanas, depois do acidente aéreo em Juan Fernández que estremeceu o país. O movimento estudantil tomou fôlego e já se prepara para continuar as negociações com o governo de direita de Sebastián Piñera.
Na quarta-feira, a Confederação de Estudantes do Chile (Confech) convocou uma nova marcha, um pouco para medir forças e outro tanto para demonstrar que o movimento continua forte. Estava claro que a morte dos 21 passageiros da aeronave acidentada no arquipélago, entre os quais estava o popular animador da TV chilena Felipe Camiroaga, e a proximidade das Festas da Pátria chilenas tiraria a adesão à marcha que começou às 11h na Universidade de Santiago.
Para aqueles que acompanharam o tema, era obvio que a aposta dos estudantes era arriscada, pois o foco de atenção da opinião pública se concentrou na dor nacional. Entretanto, pouco a pouco, os estudantes compareceram. De acordo com os organizadores, 30.000 jovens saíram às ruas para protestar pela educação no Chile. Foram vistos poucos adultos e famílias inteiras como das outras vezes, é certo, mas as bandeiras, faixas, lenços e estandartes das faculdades, universidades e colégios outra vez se fizeram presente. O dia, de trabalho, não foi impedimento para que uma vez mais a população se expressasse, e o grito de guerra "e vai cair a educação de Pinochet" retumbava nas mais de 10 quadras que a fila alcançou, entre outros cantos irreproduzíveis e muitos tambores de fundo.
No final da marcha, em um cenário em que se apresentaram diversos músicos nacionais, Camila Vallejo, presidente da Federação de Estudantes do Chile, voltou a exigir que as autoridades cumpram as reivindicações de uma educação pública gratuita e de qualidade, além de acabar com a lógica do mercado no sistema.
"Este movimento não perdeu unidade, continua vivo, não perdeu a transversalidade que teve... Embora estejamos dispostos a dialogar com o Executivo, não deixaremos de estar mobilizados. O governo manteve suas propostas de maneira intransigente; mas nós queremos debater, é necessário para que haja avanços, mas se no final do dia isto não prosperar, nós seguiremos em frente e não abandonaremos as nossas demandas e o governo terá que se responsabilizar pelas consequências de suas respostas. Nós queremos avançar e trabalhar, mas não abandonaremos as reivindicações", garantiu.
Reconheceu, além disso, que "esta luta não é nada fácil. Muitos de nós estamos há mais de quatro meses mobilizados apesar de que nos desprezaram e ameaçaram com a não entrega das bolsas de estudo. Mas não podemos cair no jogo das divisões, temos que manter a convicção do movimento. É para isso que fomos convocados".
Nesse sentido, Camila Vallejo confirmou que na próxima semana – quando as festividades nacionais já tiverem passado – será realizada uma greve nacional, marcada em princípio para o dia 22 de setembro.
No começo desta semana, os estudantes entregaram uma contraproposta ao governo de Piñera, na qual pedem quatro garantias: congelar projetos de lei de educação enviados pelas autoridades ao Congresso; transparência no debate pela televisão; definir o fim do lucro privado no uso de recursos públicos e estender o semestre acadêmico para que os estudantes não percam suas bolsas de estudo estatais.
A mobilização desta quarta-feira aponta para a resposta que o governo deveria dar hoje [ontem] ou amanhã [hoje], embora não tenha sido claro em precisar datas, o que poderia estender a discussão.
A jornada se uniu à greve de 48 horas dos funcionários da saúde municipal contra o lucro do setor privado no sistema público, sendo este outro tema que pouco a pouco começa a emergir nos setores críticos ao modelo econômico chileno e ao governo de Piñera, que se recusa a fazer mudanças estruturais.
Nesse contexto, o presidente Piñera considerava "um paradoxo o fato de que enquanto tantos chilenos se esforçam e trabalham desde muito cedo até muito tarde para construir um país melhor, para levantar o Chile, haja outros que façam justamente o contrário e que também se esforçam, mas para destruir o Chile, para causar dor, sofrimento, incendiar escolas, atentar contra carabineiros e outros cidadãos".
A intendente de Santiago, Cecilia Pérez, qualificou a marcha de forma positiva. "Mais importante que o fato de a marcha de hoje [ontem] seja a terceira marcha estudantil que, de maneira consecutiva, se realiza pacificamente e respeita o traçado autorizado, aqui o urgente é outro tema: o mesmo diálogo construtivo e liderança responsável que os dirigentes demonstram ao coordenar cada mobilização já é hora de serem colocados a serviço de mesas de trabalho que melhorem a educação chilena", destacou Pérez através de um comunicado.
A mobilização terminou depois das 13h e foram registrados apenas incidentes menores nas imediações, que terminaram com 10 pessoas presas.
A marcha desta quarta-feira foi a de número 98 neste ano em Santiago.
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Os estudantes chilenos continuam suas marchas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU