15 Setembro 2011
O Vaticano pediu ao bispo mexicano Raúl Vera López para que dê esclarecimentos sobre a sua posição e o seu trabalho com grupos homossexuais. Mas, não apenas isso. Também sobre o seu apoio à despenalização do aborto e à adoção de crianças por parte de casais do mesmo sexo.
A reportagem é de Andrés Beltramo Alvarez e está publicada no sítio Vatican Insider, 12-09-2011. A tradução é do Cepat.
No começo de setembro o prelado da diocese de Saltillo esteve em Roma convocado pela Congregação para a Doutrina da Fé. A recomendação foi clara: deve definir sua postura em respeito à doutrina da Igreja católica, um pedido que o interessado pareceu ignorar parcialmente.
Na Cúria Romana Vera teve encontros com Marc Oullet, prefeito da Congregação para os Bispos, e com William Levada, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. Além disso, no dia 6 de setembro, teve uma longa conversa com o sacerdote jesuíta espanhol Luis Ladaria Ferrer, secretário do ex-Santo Ofício.
De acordo com revelações feitas por fontes eclesiásticas tratou-se de reuniões cordiais e sem ânimo de admoestar, mas com uma recomendação precisa: o clérigo deveria estabelecer claramente sua adesão aos valores da Igreja à qual pertence, a católica, apostólica e romana. Nestes casos e para maior certeza se sugere que o interessado se retrate através de um texto escrito, talvez um artigo.
Ainda não está claro se efetivamente as autoridades vaticanas exigiram a Vera a redação deste escrito; mas também não ouviram suas explicações e lhe deram uma palmadinha nas costas, como se seu trabalho não tivesse inconvenientes.
Se o convocaram, foi pelas sérias dúvidas sobre a compatibilidade de suas declarações e suas ações com os valores "não negociáveis" defendidos pelo catolicismo no mundo de hoje: tanto a vida humana desde a sua concepção até a sua morte natural como a família fundada sobre o matrimônio entre um homem e uma mulher.
A viagem do pastor de Saltillo a Roma não foi um passeio turístico; foi convocado a comparecer. E assim o fez, explicando – entre outras coisas – que parte de seus mal-entendidos se encontra na agência católica de notícias ACI Prensa, cujo diretor, Alejandro Bermúdez, foi acusado de fazer uma campanha contra ele publicando informações infundadas e calúnias. Tudo parece indicar que o argumento não foi aceito, embora ele o tenha repetido diversas vezes aos seus interlocutores.
De qualquer maneira, as recomendações vaticanas pareceram surtir pouco efeito ou um efeito parcial porque, no seu retorno ao México, Raúl Vera manteve sua postura e antecipou que seu trabalho pastoral com a comunidade homossexual continuará, porque seus integrantes também são cristãos.
Em declarações à imprensa, reconheceu que a Sede Apostólica segue com atenção a pastoral social de sua diocese e que lhe fez uma série de observações, mas apenas de "tipo administrativo". Nada mais.
"Não é nenhuma novidade que a Igreja apóie a diversidade sexual, porque nos Estados Unidos há, pelo menos, 50 dioceses que atendem comunidades homossexuais. A única diferença é que os bispos norte-americanos fizeram uma instrução para balizar a pastoral, coisa que não temos na América Latina", disse.
Adiantou também que vai continuar apoiando as mulheres porque "não é justo" que, quando abortam por razões alheias à sua vontade, como ocorreu com mulheres indígenas, apenas elas são presas e não se pune os médicos e as clínicas onde são praticados os abortos.
"A diocese não tem nada a esconder, tudo é público; de maneira nenhuma nós promovemos a desonestidade, a promiscuidade e a maldade", apontou.
Reconheceu que durante a conversa com Ladaria no Vaticano este lhe disse "algumas coisas que deveria fazer", mas insistiu que estão de acordo na necessidade de atender espiritualmente os homossexuais.
Atacou mais uma vez a ACI Prensa por publicar notícias sobre o seu apoio aos grupos homossexuais com uma suposta "intenção sumamente desagradável". "Da mesma maneira que os fariseus questionavam Jesus para pô-lo à prova, também com esse espírito apresentaram as coisas como queriam", disparou.
Complementou suas declarações falando sobre as crianças adotadas por "casais homossexuais" e apontou: "Eu não vou abandonar essas crianças no momento em que uma lei aprova, e evidentemente que a Igreja parte do direito das crianças, não podemos abandoná-las".
"Não podemos abandonar as pessoas de quem dependem, como também não vou desamparar crianças que num determinado momento estão vivendo com um casal onde houve um divórcio e uma segunda união", sentenciou.
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O Vaticano e o "bispo rebelde" do México - Instituto Humanitas Unisinos - IHU