Valdemar Costa Neto sabe de muita coisa e comanda 65 deputados e 6 senadores no Congresso.
Valdemar Costa Neto é o número 1 do PR, partido envolvido em acusações de pagamento de propina no
Departamento Nacional de Infraestrutura (Dnit).
A reportagem é de
Fernando Gallo e publicada pelo jornal
O Estado de S.Paulo, 10-07-2011.
O ministro
Alfredo Nascimento caiu, mas os Transportes continuarão nas mãos do PR. Porque
Valdemar Costa Neto, o
Boy, sabe de muita coisa e comanda 6 senadores e 65 deputados - os 41 eleitos pelo PR mais 24 de um bloco de partidos nanicos.
Boy foi apelido que
Valdemar ganhou na infância, dado pelo pai,
Waldemar Costa Filho, quatro vezes prefeito de
Mogi das Cruzes, cidade da Grande São Paulo com pouco menos de 400 mil habitantes. "Boy" era pra ser algo como "Júnior", mas calhou com o estilo de vida de
Valdemar Costa Neto na juventude e nunca mais saiu da boca dos mogianos.
Foi na juventude que conheceu o hoje senador
Aécio Neves por meio de um amigo mineiro comum que morava em Mogi. Tornaram-se companheiros de jornada. No governo
José Sarney,
Aécio alocaria
Boy em uma diretoria do Porto de Santos. Era uma das cotas que couberam ao mineiro no latifúndio chamado governo federal caído no colo de
Sarney quando da morte do avô de Aécio,
Tancredo Neves.
Era o primeiro cargo público que
Valdemar ocupava fora de Mogi - ficaria no posto de 1985 a 1990. Antes disso,
Boy presidira, na segunda gestão de seu pai na prefeitura de sua cidade, uma autarquia chamada Companhia de Desenvolvimento de Mogi, então criada para comandar a construção da Rodovia Mogi-Bertioga. A estrada foi feita em parceria com o governo do Estado na gestão
Laudo Natel, e depois na de
Paulo Maluf, de quem
Waldemar pai era amigo e de quem viria a ser secretário.
Waldemar pai dizia o que pensava e não levava desaforo para casa. Queria ficar marcado como um grande tocador de obras. Construiu a Mogi-Bertioga e a Mogi-Dutra em um tempo em que não havia fiscalização de nenhuma sorte. Há quem não entenda com que dinheiro a prefeitura fez obras de tamanho porte.
Conta-se em Mogi, sede da transportadora Julio Simões, que foi
Waldemar Costa Filho, o pai, quem emprestou dinheiro para o empresário
Julio Simões comprar seu primeiro caminhão.
Valdemar Neto, o Boy, também ajudou a transportadora a resolver problemas logísticos quando dirigia o porto.
Em 1990,
Valdemar decidiu concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados e se elegeu pelo PL, então uma legenda pequena, da qual logo viria a ser o número 2. Não teve espaço no governo
Fernando Collor, mas teria entrada com
Itamar Franco. Foi
Valdemar o responsável por ter levado a modelo
Lilian Ramos ao encontro de
Itamar, no Sambódromo do Rio, causando um dos maiores constrangimentos da República brasileira.
Inimigo
De
Itamar conseguiu o controle da Receita Federal no Aeroporto de Guarulhos. Lá, chocou-se com o ministro
Sérgio Motta no início do governo FHC.
Serjão tirou o indicado de
Valdemar do cargo e arrumou um inimigo. O
Boy seria opositor do governo nos dois mandatos de
Fernando Henrique.
Nesse tempo,
Valdemar se aproximou de
José Dirceu, seu colega na Câmara. Com ele, costurou a indicação de
José Alencar, que tinha acabado de atrair para o PL, como vice de
Lula em 2002.
Pela parceria,
Valdemar Costa Neto, o Boy, seria recompensado com o Ministério dos Transportes, que comandaria durante boa parte dos governos Lula, assim como o Dnit.
Luiz Antonio Pagot, chefe afastado do Dnit, foi uma indicação do senador
Blairo Maggi (PR-MT), referendada por
Valdemar. O
Boy, por sua vez, levou dois mogianos de sua confiança para o Dnit. Um deles,
Frederico Augusto Dias, não aparece no organograma do órgão, mas trata de licitações e convênios em um gabinete vizinho ao do diretor-geral do Dnit.
Valdemar, sabe-se, renunciou ao mandato em 2005 para preservar seus direitos políticos. Era acusado de receber mesada para votar projetos de interesse do governo. Sabe de muita coisa. E comanda 65 deputados e 6 senadores.
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Valdemar, o deputado que sabe demais - Instituto Humanitas Unisinos - IHU