Revista jesuíta dos EUA e a beatificação de João Paulo II

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29 Abril 2011

No mundo do catolicismo norte-americano, há diversas vozes contrárias à pressa nos tempos desejada pelo Vaticano para levar João Paulo II à beatificação. Entre elas, os jesuítas, que, na prestigiosa revista America, não deixam de argumentar não só sobre as luzes, mas também sobre as sombras que se projetaram nos 26 anos e meio de pontificado wojtyliano.

A reportagem é de Paolo Rodari, publicada no jornal Il Foglio, 28-04-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Mas, escreve nestas horas James Martin, na America, agora chega. Martin não é uma voz qualquer. As suas ideias o levaram a estar frequentemente em feroz contraste com Roma. Basta lembrar o endosso pelos sacerdotes homossexuais quando, há um ano, o secretário de Estado vaticano, Tarcisio Bertone, durante uma viagem ao Chile, relacionou o problema da pedofilia no clero à homossexualidade.

"Sou um católico liberal, mas também sou um admirador do beato João Paulo II, apesar de ele não ter sido um grande fã dos jesuítas", escreve. Porque é verdade que "houve lamentos por causa de um pontificado não isento de erros". Entre eles, "o apoio dado por muito tempo a Maciel Degollado", o fundador dos Legionários de Cristo, protagonista de uma vida privada problemática. Mais de uma vez "se escreveu sobre o fato de que, apressando o processo, deu-se a impressão de querer favorecer um candidato sobre os outros". Mas, diz Martin, "eu mesmo, que tive minhas diferenças Wojtyla – quem jamais discordou do seu próprio `chefe`? – reconheço que um milagre ocorreu pela sua intercessão e que, portanto, Deus colocou a sua assinatura sobre a beatificação".

Os atritos entre os jesuítas e Wojtyla tiveram o seu apogeu na "remoção sem precedentes em 1981 do padre Pedro Arrupe, o amado superior-geral de todos nós, jesuítas", escreve Martin. Ele foi suspeito de "ter trabalhado em favor da teologia da libertação", mas foi simplesmente mal aconselhado, tanto que depois "mudou o seu ponto de vista sobre nós. Pouco antes de morrer, sem encontrou com Arrupe", o qual, "aliás, foi um verdadeiro santo".

Não é um mistério que Wojtyla, diante de Arrupe, preferiu Josemaría Escrivá. Ambos espanhóis, um basco e outro aragonês, tinham sensibilidades diferentes. Wojtyla amava o Opus Dei e o seu carisma, enquanto, diz-se, o nome de Pedro Arrupe o incomodava. Se alguém o pronunciasse em sua presença, fazia entender que era melhor mudar de assunto.

Uma das testemunhas dessa intolerância foi, dentre outros, o padre Giuseppe Pittau. Mais de uma vez, ele lembrou como apenas a referência a Arrupe bastava para "deixar Wojtyla nervoso". Pittau era o homem de confiança de Wojtyla entre os jesuítas. Era um conservador, mas de visão aberta, moderno. Foram essas qualidades que convenceram o Papa a escolhê-lo para levar os jesuítas do liberal Arrupe a margens mais próximas de si mesmo. Tanto que, quando os jesuítas escolheram como seu chefe o holandês Peter-Hans Kolvenbach, todo o resto, para Wojtyla, havia sido feito: Arrupe não tinha mais a Companhia em suas mãos.

Segundo Martin, a beatificação deve remover esses atritos, até porque "os santos, todos os santos, são humanos e, como tais, não podem ser perfeitos". Equivoca-se, portanto, o Vaticano, que, há muito tempo, busca destacar Wojtyla do seu pontificado: "É impossível separar o homem das suas ações" e, por isso, Wojtyla deve ser beatificado.