02 Dezembro 2021
Francisco, que inicia uma visita papal de cinco dias para as nações do Mediterrâneo nesta quinta-feira, planeja retornar para casa com 50 requerentes de asilo.
Papa Francisco inicia uma viagem de cinco dias para o Chipre e a Grécia nesta quinta-feira, uma viagem que ele espera que ajude a atrair a atenção do mundo sobre o sofrimento dos migrantes.
A visita papal, a qual se estende até a próxima segunda-feira, inclui paradas em Nicósia e Atenas.
O papa, que completa 85 anos em 17 de dezembro, fará sua segunda viagem para Lesbos, onde ele visitará refugiados nos centros de recepção e identificação.
No fim da sua primeira visita à pequena ilha grega em 2016, ele voltou para Roma com 12 refugiados em situação de vulnerabilidade.
Desta vez, Francisco ajudará 50 refugiados que estão atualmente presos no Chipre à espera de serem enviados a Roma, graças a um acordo entre o Vaticano, a Comunidade Santo Egídio, Chipre e a Itália.
François Héran, sociólogo e cátedra de Migrações e Sociedade no Collège de France em Paris, disse ao La Croix que a viagem papal enviará uma mensagem a países como a França que não estão fazendo sua parte em acolher os exilados.
A entrevista é de Matthieu Lasserre, publicada por La Croix International, 01-12-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Durante sua visita apostólica o Papa ajudará em torno de 50 requerentes de asilo a virem para Roma. Qual é o significado simbólico de tal gesto?
Primeiro de tudo, a escolha do Chipre é muito judiciosa.
Quando nós olhamos os países que mais tem recebido requerentes de asilo em seu solo em relação com o tamanho da população local, nós vemos que o Chipre é o país da União Europeia que enfrenta a maior pressão migratória.
Junto com outros países como Malta e Grécia, está na linha de frente. Essa é a grande injustiça da Regulação de Dublin.
Politicamente, há também um importante aspecto simbólico. O Papa é muito consistente no tema dos migrantes.
Ele é fiel à sua orientação, para os valores cristãos de hospitalidade e acolhimento que estão inscritos no Evangelho: “Eu era um estranho e tu me acolhestes” (Mt 25, 35).
Para o Vaticano, 50 requerentes de asilo não é insignificante.
Essa é uma mensagem dirigida a países como França e Reino Unido que não aceitam exilados em seus territórios e deixam os pequenos países enfrentando dificuldades.
Essa ação poderia ofender certas facções políticas, especialmente na França onde a imigração será um problema maior na próxima eleição presidencial.
Há de fato uma resistência forte a isso, inclusive em círculos conservadores e católicos fundamentalistas. Seus argumentos são de que o Papa deveria ser mais político e menos moral.
Mas eu penso que é um erro dizer que fechar fronteiras é um ato político e as abri-las é um ato moral.
Não oposição entre convicção e responsabilidade, os dois estão proximamente ligados.
Desde esse ponto de vista, o Papa Francisco está dando uma lição de moral na Europa assim como está lembrando do seu dever político.
A única reprovação que poderia ser avaliada nele é que está participando da política de seleção de requerentes de asilo sem acordo.
Na Nigéria, por exemplo, 200 mil pessoas estão esperando para ser realocadas.
A França prometeu acolher em torno de 5 mil deles, mas é muito cuidadosa em selecionar os que irá receber.
Mas o significado do gesto do Papa é muito maior que esse.
Em 2016, o Papa já levou em seu avião 12 migrantes sírios que estavam vivendo em Lesbos. Cinco anos depois, qual impacto que esse gesto teve sobre as atitudes?
Desde 2014 e o começo da “crise migratória”, muitos grupos foram criados e deram passos com o governo nessa questão.
Algumas associações como CIMADE (sigla em inglês para Comitê de Movimento para Ajuda aos Exilados) tiveram seus números dobrados.
Quando esses ativistas perguntaram sobre seus compromissos, muitos deles, crentes ou não, referente à ação do Papa Francisco o citaram como um exemplo.
Embora a política de família da Igreja, por exemplo, não seja totalmente seguida na sociedade, a questão dos migrantes ressoa com muitos católicos.
O trabalho da Igreja, em particular a Secours Catholique (Caritas da França), é extraordinário. Nós podemos ver isso pelo que ocorre em Calais.
Essas pessoas, sem ser extremistas, denunciam vigorosamente os maus-tratos a refugiados e mostram que derrubar barracas e evacuar os acampamentos não para o fluxo de requerentes de asilo.
Nesta quinta-feira, 02 de dezembro, às 17h30min, no IHU Ideias, a Profa. Dra. Giuliana Redin, da Universidade Federal de Santa Maria e Cátedra Sérgio Vieira de Mello - ONU, proferirá a palestra "À Deriva: O sujeito migrante internacional à luz da psicologia social".
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Papa Francisco procura atrair atenção mundial para os migrantes durante sua viagem ao Chipre e à Grécia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU