13 Setembro 2021
O jornalismo é a melhor profissão do mundo, dizia o escritor e jornalista, prêmio Nobel de Literatura 1982, Gabriel José García Márquez. Profissionais das antigas falavam do jornalismo como uma cachaça. Mas se acompanhassem o exercício profissional nos dias de hoje, certamente teriam que acrescentar: uma das profissões mais perigosas do mundo.
A reportagem é de Edelberto Behs, jornalista.
Sem falar nos repórteres que acompanham guerras convencionais, lutas insurrecionais, e ficando restrito no continente americano, o jornalismo se mostra extremamente perigoso a quem procura praticá-lo, ainda mais envolvendo algum tipo de denúncia, defesa dos direitos humanos, das nações indígenas e de quilombolas.
A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) denunciou, em nota, ataques a jornalistas que faziam a cobertura das manifestações no dia 7 de setembro, provocadas por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro. Em São Paulo ainda houve relatos da omissão de agentes públicos, que viram as agressões, mas nada fizeram.
Ainda na madrugada do dia 7, uma equipe da TV Bandeirantes foi hostilizada na Avenida Paulista, em São Paulo. Durante o dia, ocorreram episódios de violência contra jornalistas do UOL, CNN e Jovem Pan, anotou a Fenaj. Em Ribeirão Preto, uma equipe da TV Clube, afiliada à Band, foi agredida enquanto cobria a manifestação na cidade.
Em Brasília, foram registrados pelo menos dez episódios envolvendo repórteres na Esplanada dos Ministérios. Parte dos profissionais teve que sair da manifestação sob escolta, e outros foram constrangidos por forças de segurança ao relatarem as violências sofridas, acusou o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal.
Em Londrina, Paraná, o repórter Silvano Brito, da TV Tarobá, foi intimidado e ofendido em duas entradas ao vivo durante a cobertura das manifestações. Em Manaus, equipe da Band Amazonas foi agredida na orla da praia da Ponta Negra. Apoiadores de Bolsonaro lançaram uma lata de cerveja e avançaram contra os repórteres Luiz Henrique Almeida e Lázaro dos Santos Wanderly Filho. O episódio foi presenciado por policias militares, que ficaram parados.
A presidenta da Fenaj, Maria José Braga, responsabilizou o governo de Jair Bolsonaro “por mobilizar sua base de apoiadores por meio de reiterados discursos que atacam o jornalismo e os jornalistas, em seu projeto tirânico de poder”.
O portal MP Notícias, de Machala, Equador, divulgou vídeos mostrando roubos comuns de cidadãos nas ruas, capturadas por câmeras de segurança. Na noite de 25 de agosto, a casa do jornalista Mario Pinto, do portal, sofreu um ataque com artefato explosivo feito de bananas de dinamite. Um vizinho de Mario viu quando a dinamite foi jogada e gritou para que deixassem a residência.
Na terça-feira, 31 de agosto, 400 soldados da Guarda Nacional e 500 integrantes do Instituto Nacional de Migração (INM) do México agrediram e prenderam migrantes haitianos e de países centro-americanos que passavam pelo município de Mapastepec. Os agentes, narraram jornalistas, chegaram com unidades antimotins e camburões. Repórteres que cobriam a caravana de migrantes também foram agredidos.
No dia 28 de agosto, ocorreu o mesmo numa operação contra migrantes na rodovia Tapachula-Arriaga. Forças de segurança formaram equipes antimotins para bloquear a passagem da caravana, detendo pessoas. As operações fazem o serviço sujo por Biden, de “conter” migrantes que se dirigem aos Estados Unidos.
Dois programas de rádio da Nicarágua – Confidencial e Onda Local, que eram transmitidos pela Rádio Corporación -, críticos ao governo de Daniel Ortega, foram cancelados. O jornalista Julio López, do Onda Local, disse em entrevista ao Portal Confidencial que o seu programa “é um espaço crítico e sempre foi uma posição incômoda ao poder. Trata-se de uma decisão lamentável, porque afeta a liberdade de expressão e de imprensa em nosso país”.
A suspensão dos dois programas radiofônicos ocorre duas semanas depois que a Polícia Nacional invadiu o jornal La Prensa, o mais antigo da Nicarágua e crítico de Ortega, e prendeu o seu gerente Juan Lorenzo Holmann Chamorro, investigado pelo suposto crime de “fraude alfandegária e lavagem de dinheiro, de bens e ativos”.
A Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) emitiu, em 28 de agosto, resolução na qual outorgou medidas cautelares a favor de José Alberto Tejada Echeverri e de Jhonatan Buitrago, da Colômbia, por entender que se encontram em situação de gravidade e urgência de risco irreparável aos seus direitos. Tejada é jornalista e Buitrago cinegrafista do Canal 2, de Cali. Os dois estão sofrendo ameaças e perseguições depois de cobrirem protestos e atos de violência ocorridos no país a partir de 28 de abril passado.
O carro do jornalista Vinicius Lourenço foi atingido, no dia 17 de agosto, por quatro tiros em Magé, na Baixada Fluminense. O jornalista escapou do atentado porque o veículo é blindado, informou o G1. A polícia não descarta a hipótese que o caso tenha caráter político. No início de agosto, o veículo do blogueiro Eduardo Cézar, conhecido como Tarja Preta, teve o seu carro incendiado.
Antes mesmo da matéria sobre provável esquema de pirâmide financeira ser apresentada pelo Fantástico, no domingo, 29 de agosto, denunciando Glaidson Acácio dos Santos, líder da GAS Consultoria, grupo de manifestantes vinculado ao empresário, parado em frente à sede do jornalismo da Rede Globo, na sexta-feira, 27, ameaçou e intimidou a repórter Lívia Torres.
A repórter recebeu a solidariedade da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), que aproveitou a nota de apoio à Lívia Torres para criticar o presidente da República. “O episódio é gravíssimo e exige providências imediatas das autoridades, identificando e levando à Justiça os responsáveis. Ameaças a jornalistas têm se multiplicado nos últimos tempos. Em boa medida elas são estimuladas pelo comportamento do presidente Jair Bolsonaro, que hostiliza a imprensa quase diariamente.”
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Jornalismo, uma profissão a cada dia mais perigosa - Instituto Humanitas Unisinos - IHU