03 Setembro 2021
No escuro, sem carne e sem gás de cozinha.
Do zap: "7 de setembro se aproxima..."
Este Brasil é um caixão de surpresas: Augusto Aras deu razão aos Xokleng #MarcoTemporalNao
Algue teria de calcular quanta gente Bolsonaro já matou a esta altura.
Ele que se gaba de matar.
Esses seiscentos mil da covid certamente são subestimados.
Tem o povo morrendo de fome, de sequelas, suicidado, fuzilado na pobreza.
Eu chuto que esse número começa em três milhões.
Uma resposta ao editorial "desonesto" da Folha, dia 26! Vale a leitura. Link para o texto no primeiro comentário.
A charge do Latuff, de 2012, nunca esteve tão atual.
Uma extraordinária crônica de Rubem Alves: "Resta a luz do crepúsculo, essa mistura dilacerante de beleza e tristeza. Antes que ele comece ao fim do dia o crepúsculo começa na gente. [...] colha o dia como um fruto saboroso"
‘Resta, quanto tempo? Não sei. O relógio da vida não tem ponteiros.’ – Rubem Alves
• 04/09/1973 – sequestro realizado pelo II Exército, de Paulo Stuart Wright levado ao DOI-CODI de São Paulo, e morto por torturas, nas primeiras 48 horas do seu cativeiro. Até hoje não se sabe o que fizeram com seus restos mortais. Ruas em quatro capitais brasileiras ostentam o nome de Paulo Stuart Wright. Seu irmão o pastor presbiteriano Jaime Nelson Wright passou toda a sua vida buscando noticias de onde foi colocado o corpo de seu irmão, sem sucesso. Até hoje está desaparecido e sem sepultura digna.
"Estava desempenhado, de alma e corpo ocupados: tecia os delicados fios com que se fabrica a quietude. Eu era um afinador de silêncios."
Mia Couto "Antes de Nascer o Mundo"
A Câmara Municipal de Maringá acaba de rasgar a Constituição Federal ao negar o direito de a população LGBT ser representada em um Conselho Municipal e ter voz e vez em face do poder público na elaboração de políticas públicas. Esse clima de guerra santa que se instituiu é uma expressão do quanto estamos atrasados na escala civilizatória e no respeito à alteridade e aos direitos das minorias.
Que o ministério público se manifeste diante desse flagrante desrespeito aos direitos constitucionais..
É justo dizer os nomes dos vereadores que votaram a favor da existência do conselho, que estão, portanto, excluídos da crítica: Ana Lúcia Rodrigues, Flávio Mantovani, Manoel Sobrinho e Mário Verri.
Via Rosane Pavam
Pelo jeito a TFP (ou arautos do evangelho, ou outra entidade de direita extrema) está de olho nas meninas. No final da tarde de hoje elas saíam uniformizadas do cemitério da Consolação, aqui em São Paulo, supostamente depois de terem passado por alguma espécie de rito, rumo a vans fretadas.
Creio que o cemitério se sentiu feliz por tirar dinheiro dessa gente. De passagem, uma das garotas engraçou-se de dizer que me cobraria “direitos autorais” e eu teria respondido, se ligasse: a grana sobra no cofre de seu chefe, querida, e vocês nem imaginam quanto nos devem.
Na Faria Lima, cobriram o cartaz do Guedes Faria Loser.
No entanto a gente continua vendo o resultado das políticas defendidas pelo Guedes e Bolsonaro.
Não poderia ser mais simbólico.
Almodóvar em Veneza arranca aplausos tímidos para seu 'Madres Paralelas'
BRUNO GHETTI
Foi com um cinema dividido entre as lágrimas e o calor político que o Festival de Veneza inaugurou sua 78ª edição, na manhã desta quarta-feira.
Pedro Almodóvar apresentou o longa “Madres Paralelas”, obra de forte inclinação melodramática, mas que se propõe igualmente a revisitar uma ferida ainda hoje não cicatrizada em seu país — a Guerra Civil Espanhola.
E, já no primeiro dia, o Lido vê uma real candidata ao prêmio de melhor atriz — Penélope Cruz, numa poderosa performance, que marca sua oitava colaboração com o diretor. Ela interpreta Janis, uma mulher que enfrenta a burocracia da Espanha para abrir a fossa comum onde estão os restos mortais de seu bisavô, assassinado por franquistas durante o conflito.
Após uma aventura amorosa, ela engravida e tem uma filha, que nasce na mesma hora da bebê da adolescente Ana —vivida por Milena Smit. Mesmo tendo histórias de vida muito distintas, as colegas de maternidade logo desenvolverão uma intensa ligação emocional.
A partir daí, o filme se desenrolará recorrendo a uma série de mecanismos muito próprios do gênero melodrama — relações conturbadas entre mães e filhas, suspeitas envolvendo identidade paterna (e materna) de bebês, mortes inesperadas. Nesse aspecto, é um “Almodóvar raiz”, embora por vezes traga situações talvez “over” demais mesmo para os padrões almodovarianos.
Alguns espectadores vão erroneamente tomar o longa por uma variação fílmica de alguma telenovela barata, até meio tola. Mas Almodóvar não é um cineasta qualquer. A confecção do longa e a construção do fluxo narrativo são de uma enorme precisão, e embora se possa prever em detalhes cada reviravolta da trama, elas sempre são capazes de contundir, de fazer o espectador responder afetivamente ao que está vendo.
Porque, afinal, o que se está vendo é um grande artista fazendo o que mais sabe — e mais gosta de fazer. E em alguns aspectos, “Madres Paralelas” figura entre o que de melhor Almodóvar já criou.
O tema da maternidade é explorado com admirável completude — não há ali apenas o retrato de uma mãe-coragem, capaz de tudo para defender a cria, como em melodramas mais tradicionais.
“Tenho andado mais interessado nas mães imperfeitas”, disse o diretor na coletiva de imprensa, e isso é perceptível em diversos elementos sobre a maternidade que o filme abarca. Como o das mulheres que se tornam mães a contragosto, ou as que não abrem mão da própria liberdade para criar os filhos.
O filme não culpa nenhuma dessas mães, sobretudo porque entende que têm comportamentos e ambivalências muito específicos do que é ser mulher no mundo contemporâneo; as grandes mães heroicas, que renunciam à própria individualidade em nome da prole, são parte de uma realidade que não existe mais.
Existe de fato uma dimensão política em “Madres Paralelas”, sobretudo nessa observação sobre a mulher no mundo de hoje e na configuração das chamadas “novas famílias”.
No entanto, o cineasta é menos bem-sucedido quando fala das questões relativas à Guerra Civil Espanhola. O filme nunca encontra uma fórmula satisfatória para amalgamar a questão da maternidade a esse tema político de fundo, que parece estar sempre sobrando, como se fizesse parte de um outro material.
Almodóvar disse à imprensa que a o cinema espanhol ainda está devendo obras que se dediquem a falar de temas ligados à guerra civil do país. “É um assunto ainda pendente na sociedade, temos uma enorme dívida moral com as famílias dos desaparecidos”, disse o cineasta.
“Hoje, são os netos e bisnetos que pedem a exumação [dos parentes desaparecidos na guerra], gente que já nasceu na democracia. As pessoas de gerações anteriores tinham um medo quase patológico — nas casas, como na minha, nunca se falava nada sobre a guerra.”
Ele tem razão quanto à Espanha ainda precisar dar atenção a temas espinhosos do passado. Mas, a julgar pelo que mostrou hoje no Lido, não parece que será ele quem vai conseguir fazer um filme a contento sobre o assunto. O longa foi moderadamente aplaudido, num Festival de Veneza de edição esvaziada, marcada por restrições sanitárias devido à pandemia.
Só pode entrar nas salas de exibição quem tem um passe sanitário comprovando ter duas doses de alguma vacina aceita pela União Europeia, ou quem faz, a cada dois dias, um teste com resultando negativo para a presença de coronavírus. Embora nos locais a céu aberto as máscaras estejam dispensadas, nas salas e coletivas de imprensa, são obrigatórias.
Mas não há clima de pânico ou paranoia. Embora a pandemia ainda esteja longe de ser um problema resolvido, o que se nota pelo Lido é uma atmosfera de quem não vê a hora de testemunhar o cinema renascer, após mais de um ano agonizando em todo o mundo.
Na entrevista coletiva do júri, o presidente Bong Joon-ho — diretor sul-coreano de “Parasita”— deu o tom sobre o otimismo no ar em Veneza. “A Covid vai passar, e o cinema vai continuar.”
FSP 1.09.2021
O QUE É ISSO?
Dois padres da igreja católica:
um que segue o presidente genocida do Brasil;
um que segue os ensinamentos de Jesus Cristo.
Sabemos que não existe povo de Deus e cristianismo sem perseguição, mas também sabemos do poder da Fé e da oração para nos livrar de todo mal, amém.
Santo Tomás e os padres armados
Prof. Dr. Fernando Altemeyer Junior, Professor da PUC-SP
Um amigo brasileiro que vive atualmente no Canadá me pergunta se é verdade que Santo Tomás teria alguma vez aprovado que padres ou mesmo os bispos católicos usassem armas de fogo? Ele leu em entrevistas recentes nos periódicos O Globo e no Le Monde que alguns padres católicos brasileiros portavam armas em fotos nas redes sociais e defendiam o seu uso a partir do pensamento de papas e mesmo ao citar o Catecismo da Igreja Católica (sic). A origem de tal manipulação emergiu anos atrás pelo canal Youtube, com discursos sibilinos que penetraram no imaginário cristão e pentecostal sem a reação dos pastores e teólogos católicos, grassando como erva daninha em dioceses, seminários e redes católicas de Televisão.
Que Jesus diria disso? E o que de fato escreveu Santo Tomás de Aquino? E os bispos e provinciais atuais? E a Igreja, comunidade do povo de Deus? E a teologia moral? Há, de fato, religiosos e comunidades eclesiásticas envolvidos na querela? Há ou não contradição entre cristianismo e o uso de armas letais?
Tantas vezes Santo Tomás é usado para justificar pensamentos dispares e contraditórios. Não se lê seu texto e pior, se abstrai de seu contexto histórico eclesial. É certo afirmar que tanto Santo Agostinho de Hipona e Santo Tomás são, ambos, caudatários do pensamento da Idade Antiga e Média ao defender guerras justas (obviamente em circunstâncias especiais). Há uma condição prévia que é a de julgar se as guerras poderiam afirmar-se justas? Os dois maiores teólogos da cristandade antiga sempre afirmam que quase todas as guerras são ilícitas por conta das más intenções originárias de quem as declara ou pretende impor. Escreve Santo Agostinho no livro Contra Faustum, XXII, c. 70, ML 42,444: “O desejo de prejudicar, a crueldade na vingança, a violência e a inflexibilidade do espirito, a selvageria no combate, a paixão por dominar e outras coisas semelhantes, são as coisas que nas guerras são julgadas culpáveis pelo direito”.
Tomando distância dos 645 anos que nos separam da morte do pensador dominicano Tomas de Aquino, e levando a sério a evolução do pensamento papal recente contido nos pronunciamento dos papas Pio XII, São João XXIII, São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI, e Francisco, concluímos que estamos em outro momento da Teologia moral cristã.
O papa Pio XII afirmou: “A teoria da guerra como meio apto e proporcional para resolver conflitos humanos está ultrapassada (radio-mensagem no Natal de 1944)”. E ainda: "Pela paz nada está perdido, mas tudo se perderá com a guerra (alocução em 10/11/1956)”.
Ainda mais forte será a pregação do Santo papa Paulo VI: "Mesmo quando as armas não são usadas, o valor dos armamentos já mata os pobres, fazendo-os perecer de fome (discurso em julho de 1976)".
Recentemente a fala lúcida do papa Francisco em mensagem no Twitter de 29 de abril de 2018: "Nós realmente queremos a paz? Então, vamos banir as armas para não ter que viver no medo da guerra”.
A partir desta nova ótica é que devemos ler o texto da Suma Teológica de Santo Tomás para verificar se presbíteros católicos ou mesmo os cristãos leigos podem manipular e usar armas ou essa postura beligerante seria radicalmente contrária ao Evangelho. Tudo parece indicar que rompem com os mandamentos e preceitos de Jesus, homem de paz. Pareceriam mais discípulos de Caim (cainistas gnósticos) de que irmãos de Abel e da mensagem do Deus, pai de Jesus e pai-nosso.
Que Santo Tomás escreveu na Suma sobre armas?
Ainda que devêssemos realizar uma larga pesquisa entre os comentadores e teólogos tomistas é permitido tomar o texto lúcido e aristotélico do sábio frade e perceber sua prioridade de leitura e pensamento.
A questão foi proposta na Suma Teológica na Segunda Sessão, Segunda parte, questão 40 artigo 2 (ST II, II, q. 40, a.2) com essa redação: “Utrum clericis et episcopis sit licitum pugnare (É permitido aos clérigos e aos bispos guerrear?)”.
Seguindo seu método de aprovação, contrariedades e reflexão sintética ao final, vemos quatro argumentos que parecem permitir aos padres e bispos guerrear. O número um diz que “as guerras são lícitas e justas na medida em que protegem os pobres e todo o Estado contra as injustiças dos inimigos”. O número dois dirá que o papa Leão IV mandou o povo enfrentasse os sarracenos no porto. Enfim, no terceiro diz que o Decreto do papa Adriano permitiu Carlos Magno de empreender a guerra dando suporte a ela. E no número 4 dirá que fazer a guerra por vezes é honesto. Seria, portanto, hipoteticamente permitido bispos e clérigos guerrear.
Mas, em sentido contrário (sed contra): Jesus diz a Pedro: “Devolve a tua espada à bainha (Mt 26,52)”. Portanto, não é permitido aos padres e bispos combater.
Assim postos os argumentos pró e contra, Santo Tomás de Aquino, passa à resposta ponderada e racional: RESPONDE:
“Exercícios da guerra são totalmente incompatíveis com as funções exercidas pelos bispos e pelos clérigos, por duas razões: primeiro, por uma razão de ordem geral, ao impedir o espírito da contemplação das coisas divinas (como diz o apostolo Paulo na Segunda carta a Timóteo 2,4: Nemo militans Deo implicat se saecularibus negotiis – Aquele que pertence à milícia de Deus não se ocupe com os negócios do século) e, segundo, por uma razão especial: as ordens dos clérigos são ordenadas (destinadas) ao serviço do altar, sob o sinal sacramental, a paixão de Cristo, e, portanto não convém aos clérigos matar ou derramar sangue, e sim estar prontos a derramar seu próprio sangue por Cristo, para imitar por obras o que realizam por seu ministério. Tornaria o clérigo impróprio para a função. Por isso, NÃO É PERMITIDO DE FORMA ALGUMA AOS CLÉRIGOS FAZEREM A GUERRA, QUE LEVA AO DERRAMAMENTO DE SANGUE (grifo meu!)”.
Para enfrentar as quatro afirmações hipotéticas da primeira parte ele concluirá:
Quanto ao primeiro: Clérigos devem enfrentar os lobos, raptores e tiranos, não usando armas materiais, mas armas espirituais.
Quanto ao segundo: Se enviados para a guerra não devem usar armas em suas mãos. Que alguns, combatam com as próprias mãos, é um abuso.
Quanto ao terceiro: Compete aos clérigos preparar e encorajar os outros a fazer guerras justas. Estão eles impedidos de combater porque tal atividade não convém a suas pessoas (tale exercitium eorum personae non congruit).
Quanto ao quarto: Ainda que seja meritório fazer guerra justa, é ilícito aos clérigos porque foram convocados para atividades mais meritórias. Clérigos devem cuidar dos votos que fizeram em vista de um bem maior.
Duas conclusões necessárias:
A primeira é que todas as "guerras e armas são satânicas" (Papa Nicolau I, em 866). Portanto, entre padres e armas deve existir uma distância infinita, ou dito de outra forma: uma incompatibilidade total. Contraditio in terminis et in actionis. Padre e armas não conjugam os verbos do Evangelho. São uma aberração e manipulação que fere a fé em seus fundamentos de paz, justiça e fraternidade.
A segunda: o ministério sacerdotal deve assumir como único instrumento de sua ação pastoral: a Palavra Viva de Deus. Há muito que fazer para ser fiel ao ministério da palavra e da Eucaristia. Armas não servem para nada que não seja produzir morte e dor, sendo efetivos instrumentos do demônio. Como seguidores de Jesus, negamos tal senhorio das armas como idolátrico. Nosso Deus é o Deus dos vivos e da Verdade.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Breves do Facebook - Instituto Humanitas Unisinos - IHU