01 Setembro 2021
A crise eclesial provocada pela Covid levanta interrogações. O bispo Maniago: “Chega de se lamentar, é preciso ser fermento”. O bispo Gianotti: “É preciso aproximar os distantes”. O liturgista Lameri: “Não aos ritos ‘faça-você-mesmo’”.
A reportagem é de Giacomo Gambassi, publicada em Avvenire, 27-08-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“Não devemos ter medo de dizer que as nossas missas terão números cada vez menores e serão para comunidades reduzidas.” O bispo de Crema, na Itália, Daniele Gianotti, vai direto ao cerne da questão: a pandemia pôs as paróquias à prova e às vezes as “esvaziou”. Há um “rebanho perdido” que se afastou das Igrejas e, portanto, da Eucaristia.
“Não nos escandalizemos se a presença nas liturgias se reduzirem. Uma vez que é o Ressuscitado quem reúne a sua comunidade, é o próprio Senhor quem conserva a liberdade dos fiéis e não a restringe”, continua. Tudo isso significa se resignar? Absolutamente não.
“É preciso tomar consciência da realidade que temos na nossa frente. É bom nos preocuparmos, mas nunca cedermos à lógica do lamento”, esclarece o bispo de Castellaneta, Cláudio Maniago, presidente do Centro de Ação Litúrgica.
O terremoto da Covid que abalou a vida eclesial na Itália entra com toda a sua carga “revolucionária” na Semana Litúrgica Nacional. O tema que serve de fio condutor é “‘Onde dois ou três estão reunidos no meu nome’. Comunidades, liturgias e territórios”. Um evento que voltou após a parada imposta no ano passado pela emergência sanitária e realizado em uma das cidades-símbolo da primeira onda da pandemia: Cremona.
Após quatro dias de reflexão e oração, a conclusão olha para o futuro, “sem se enfaixar a cabeça”, diz Maniago. E acrescenta: “O Senhor começou com poucos e pediu-lhes para serem fermento. Esta é a hora em que cada um de nós deve se tornar um fermento bom em uma situação complexa que somos obrigados a habitar, levando a semente da esperança e da vida nova que brota do Evangelho”.
Também voltam as palavras “provocativas” do Papa Francisco, que, na abertura da Semana, acentuou a “marginalidade” na qual o domingo e a assembleia eucarística parecem “cair inexoravelmente” . É preciso uma “atitude hospitaleira”, de “comunidades abertas”, defende Gianotti na sua conferência conclusiva, proferida entre as naves da Catedral de Cremona. E, ao redor do altar, todos devem “se sentir em casa”: incluindo “os de fora” ou “quem está na margem”, sublinha o bispo de Crema, que é delegado para a liturgia e a catequese da Conferência Episcopal da Lombardia.
De fato, é necessário recomeçar a partir daquela “dinâmica missionária que já está inscrita na própria celebração” e que implica também a urgência de “suportar quem é mais fraco”. Por isso, observa o prelado, é necessário imaginar “a Igreja como uma comunidade que tem entradas e saídas diferentes”, capaz de reconhecer “as variedades de interesses e de caminhos de fé das pessoas que merecem ser todas acolhidas, mesmo sem desembocar em um excessivo personalismo”.
No entanto, é preciso cuidar para não fazer da missa um parêntese, “uma interrupção”, como a define o Mons. Angelo Lameri, professor de Liturgia na Pontifícia Universidade Lateranense e um consultor da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. A celebração “alimenta a vida” e faz com que que cada fiel possa “pôr-se novamente em caminho transformado pelo Senhor, também com um renovado compromisso a se doar ao próximo”.
Portanto, cada comunidade deveria se fazer uma pergunta, adverte Gianotti: “Que imagem damos da nossa fé nas liturgias?”. E o aguilhão: “Se mostrássemos a alegria de nos reencontrar juntos em nome do Ressuscitado, alguém poderia se perguntar de onde vem essa alegria, essa felicidade... E quem sabe ser contagiado por ela”.
Mas também há mais a se considerar. Diante de comunidades já multiformes, é oportuno “pensar em modalidades diferentes de celebrar”, propõe o bispo de Crema. Chega de “uma aplicação automática” do rito a “qualquer assembleia”, independentemente de quem a forma. Se estamos em uma realidade de periferia, “podemos antever adaptações que não significam fazer ‘menos’, mas fazer ‘melhor’”.
Além disso, é interessante levantar a hipótese de formas de ajuda recíproca entre as comunidades: nos cantos, por exemplo, ou na preparação. E ainda: valorizar “as diversas celebrações, não só a Eucaristia”. Mas tudo deve ocorrer sem desembocar nas missas “faça-você-mesmo”. “Não podemos construir liturgias à nossa imagem e semelhança”, adverte Lameri, citando a introdução da Conferência Episcopal Italiana ao novo missal em italiano. Não à “manipulação” de ritos, onde “o ser humano se torna protagonista”, e não o Senhor.
Na história do Centro de Ação Litúrgica, a Semana 2021 é a da “virada”. Pela primeira vez, ela não foi apenas presencial, mas também online, graças à “máquina” de comunicação preparada pela diocese. Com conferências que superaram as 4.000 visualizações na web.
“Nunca tínhamos alcançado um número tão alto de participantes”, sorri Maniago. “Se o CAL serve de suporte para as paróquias para ajudá-las a crescer na consciência da importância da liturgia, então se torna inevitável o recurso às novas tecnologias.”
Uma abordagem que continuará no ano que vem, quando a iniciativa fará uma etapa na Arquidiocese de Salerno-Campagna-Acerno. “Vejamos isso como um dos aspectos positivos da pandemia”, conclui o presidente do CAL. “E não há volta atrás.”
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“As missas estão cada vez com menos fiéis: as comunidades devem ser casas abertas a todos” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU