12 Julho 2021
“O que o senhor acha da eutanásia?” A pergunta chega no fim de um encontro com um título sugestivo, “Não se prive de um dia feliz”, que marca a primeira aparição pública de Enzo Bianchi após o seu adeus à Comunidade de Bose, da qual é fundador e onde era prior, que ele abandonou depois de muitas resistências (e polêmicas) por ordem do Papa Francisco. Agora, Bianchi mora em Turim e, precisamente no evento Torino Spiritualità, ele foi protagonista de um evento esgotado.
A reportagem é de Monica Triglia, publicada em Allonsanfàn, 05-07-2021. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
“O que o senhor acha da eutanásia?” Não é uma pergunta por acaso, levando-se em conta que, poucos dias depois, entraria em vigor na Espanha a lei que descriminalizaria a ajuda ao morrer, com a eutanásia e com o suicídio assistido. E levando-se em conta que, na Itália, onde a eutanásia é crime, a associação Luca Coscioni acaba de começar a recolher assinaturas para um referendo que leve a uma lei que a permita.
Bianchi é alguém que fala com clareza. E a primeira palavra que ele usa ao se preparar para responder é “suicídio”, que incomoda um pouco a todos nós que o ouvimos.
“O suicida também tem um desejo de vida”, diz ele. “Eu conheci pessoas que fizeram essa escolha. Que não suportavam o peso de algo que lhes acontecera, que não conseguiam mais enfrentar a vida como ela seria depois dos fatos ocorridos. Então, entregaram-se à morte. Mas não eram pessoas que desejavam morrer. Simplesmente não conseguiam sustentar a vida que tinham pela frente. Certamente, todo suicídio é um enigma. Nós não podemos entrar na mente de quem o faz. Mas, para além das eventuais patologias, o gesto por si mesmo deve ser entendido, e é significativo que a Bíblia não o condene. Pelo contrário, no Antigo Testamento, há suicidas entre os profetas, como Saul, rei de Israel.”
Isso não descarta que a Igreja “tenha condenado e condene o suicídio. No passado, ela não permitia o sepultamento de quem havia tirado a própria vida no cemitério cristão e lhe negava os funerais que hoje, por sorte, são admitidos”.
Existe um mundo “dolorista” – como define Enzo Bianchi – que considera o sofrimento como algo que purifica, que permite expiar os pecados. Um erro. “O sofrimento é insensato”, diz Bianchi, e a sua voz é quase um trovão, “e torna as pessoas ainda mais más. O sofrimento e a doença fazem mal, não fazem bem.”
Sobre isso, Enzo Bianchi também cita uma experiência vivida. “Internado em um hospital, eu gritei por dois dias de dor. Eu gritava, mas era inútil.”
Não é assim para todos. “Pessoas da minha comunidade que têm câncer foram ajudadas para que se evitasse o sofrimento físico. Mas ainda existem muitos lugares onde há relutância em passar para os cuidados paliativos. Então, é preciso ter a coragem de fazer um testamento biológico.” O que Enzo Bianchi, quando era prior, pediu que todos os membros da Comunidade de Bose fizessem. “Porque é importante que a vontade de cada um de escolher os cuidados paliativos para não sofrer seja documentada. Mesmo quando abreviam a vida. No meu testamento biológico, eu recomendei que, em uma situação na qual não haja esperança de um futuro de vida, se passe o mais rápido possível para os cuidados paliativos, para eliminar o sofrimento, porque o sofrimento não tem nenhum sentido. O problema é que ainda não temos uma cultura da dor. E a cultura católica está muito atrás em relação a isso.”
E finalmente chega a resposta. “A eutanásia é outra coisa. Na Igreja e na tradição cristã, ela não é aprovada. Mas eu não a julgo, não a condeno e tenho grande misericórdia por quem a pratica. Pelo contrário, creio que seria justo o acompanhamento religioso durante as últimas fases da vida mesmo para quem a escolhe.”
Fica mais claro o que Enzo Bianchi pensa sobre a eutanásia. Mesmo que o ex-prior de Bose nunca diga um “sim” ou um “não”. “Eu acho”, diz, “que se deve fazer de tudo para que as pessoas que sofrem vivam, não se sintam sozinhas, não se desesperem. Mas se justamente o desejo de vida não existe mais por causa da dor, por causa do peso de um sofrimento que elas não conseguem suportar, eu só posso usar de compaixão, de compreensão, sem julgar.”
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
"O sofrimento não tem nenhum sentido. O problema é que ainda não temos uma cultura da dor". Entrevista com o monge Enzo Bianchi - Instituto Humanitas Unisinos - IHU