25 Junho 2021
"Organizações da sociedade civil junto com a cadeia de alimentos devem trabalhar juntas para dar destino a alimentos doados em condições de consumo, dentro da validade e dignos", escreve Rodrigo “Kiko” Afonso, diretor executivo da Ação da Cidadania, em artigo publicado por EcoDebate, 23-06-2021.
Eis o artigo.
A Ação da Cidadania é absolutamente contrária à doação de alimentos fora do prazo de validade, pois acredita que o combate à fome será efetivamente realizado a partir da construção de políticas públicas neste sentido, e não pelo desmantelamento delas como vemos constatando.
Desde seu primeiro dia de governo, ao extinguir o CONSEA (Conselho de Segurança Alimentar) o governo federal deu seu recado, e tem ampliado o desmanche de políticas públicas de segurança alimentar dos últimos anos.
A redução do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) de pequenos produtores caiu de R$ 1,3 bilhão em 2014 para 151 milhões em 2020. A distribuição de cestas básicas para grupos populacionais tradicionais caiu de 82 milhões em 2014 para 6 milhões em 2020. O programa de cisternas na zona rural caiu de R$ 643 milhões em 2014 para 74 milhões em 2020. O Programa Nacional de Aquisição de Alimentos (PNAE) para estudantes de todos os estados teve redução de R$ 4,9 bilhões em 2014 para R$ 4 bilhões em 2019, uma redução de mais de 20% sem considerar a inflação.
Além disto a lei 14.048/2020 que trazia medidas emergenciais de apoio aos pequenos produtores, estes mesmos que Guedes diz ser importante apoiar, teve vetos significativos por parte do seu governo, retirando auxílios emergenciais para que pequenos produtores pudessem sobreviver e renegociar suas dívidas.
O aumento de quase 70% nos preços de itens como arroz e feijão só de 2020 pra cá é efeito direto da total falta de planejamento do governo que focou seu apoio apenas em grandes exportadores de soja e milho. De 2000 para 2020 a área plantada de arroz perdeu 50% do espaço de produção em hectares, junto com o feijão que perdeu 76,5%. Já a soja e o milho tiveram expansão de 165% e 143% respectivamente. A soma das áreas plantados de arroz e feijão no país, principais alimentos consumidos pela população, tem pouco mais de 10% de hectares do que a área plantada de soja no país, muito mais rentável no mercado internacional e que beneficia poucos.
Sem incentivo e planejamento de segurança alimentar populacional fica óbvio os porquês dos aumentos absurdos de preço dos alimentos mais consumidos pela população mais carente.
Para agravar a situação, o governo federal destruiu o programa de estoques reguladores de alimentos, com os estoques da CONAB zerados e fazendo com que qualquer oscilação temporária afete de forma direta os preços ao consumidor local.
É preciso SIM trabalhar contra o desperdício na cadeia de alimentos que gera aumento de preços dos produtos na ponta. Organizações da sociedade civil junto com a cadeia de alimentos devem trabalhar juntas para dar destino a alimentos doados em condições de consumo, dentro da validade e dignos.
De ração animal a alimentos vencidos, essa tem sido a tônica de quem não tem a menor ideia do que é FOME.
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Não à doação de alimentos com validade vencida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU