27 Mai 2021
À luz do 500º aniversário da excomunhão, em 1521 pelo Papa Leão X, do reformador protestante Martinho Lutero, o grupo de discussão ecumênico alemão Altenberg voltou a divulgar, por ocasião do Pentecostes, um apelo em que exortam as autoridades católicas e luteranas a retirarem as condenações mútuas impostas naquela época.
A reportagem é de Malo Tresca, publicada por La Croix Afrique, 26-05-2021. A tradução é de André Langer.
Martinho Lutero, em vias de se tornar... um ex-excomungado? Na esteira do 500º aniversário do banimento, em janeiro de 1521 pelo Papa Leão X, do reformador protestante Martinho Lutero, um grupo de trinta teólogos alemães filiados a ambas as confissões voltou a divulgar (1) um apelo intitulado A reconciliação 500 anos depois, pedindo às autoridades católicas e luteranas para que retirem as condenações mútuas impostas naquela época.
Fundado em 1999 perto de Colônia, o grupo de discussão ecumênico de Altenberg pede, assim, principalmente a anulação da bula papal Decet Romanum Pontificem que confirma a excomunhão do autor das 95 teses, mas também a renúncia, por parte dos protestantes, à qualificação luterana do Papa Leão X como “Anticristo”.
“[Esta caracterização] deveu-se menos às suas verdadeiras convicções teológicas e mais ao ‘estilo retórico da época’, bem como aos ‘grandes medos apocalípticos’ que o reformador teve à medida que foi envelhecendo”, contextualizou, no entanto, durante uma conferência em junho passado, a teóloga católica Johanna Rahner, professora na Universidade de Tübingen, ao sul de Stuttgart, e integrante desse coletivo. “A trágica história, que tornou Martinho Lutero e o Papa Leão X adversários irreconciliáveis, ainda chama a nossa atenção 500 anos depois dos acontecimentos”, insiste o grupo de Altenberg no preâmbulo do seu texto.
“Hoje, devemos reconhecer que existe a possibilidade de ver as coisas de maneira mais justa e serena. (…) Durante os diálogos ecumênicos que se seguiram ao Concílio Vaticano II, tornou-se cada vez mais evidente que essas acusações não são mais mantidas pelo luteranismo”, especificam seus membros, antes de recordar as principais aberturas das últimas décadas: “o resultado desses diálogos é que Martinho Lutero, outrora acusado de heresia, talvez seja melhor compreendido como uma ‘testemunha de Jesus Cristo’, como está formulado na Declaração da Comissão Mista Luterana-Católico Romana (1983)”.
“Além disso, a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação (DCJ) de 1999 elaborou a mensagem da redenção através de Jesus Cristo como a base da fé que une profundamente não apenas luteranos e católicos, mas também as comunhões mundiais dos metodistas, dos reformados e dos anglicanos”, destaca o documento.
Este último documento recomenda várias outras etapas para “o presente e o futuro do ecumenismo”, a primeira das quais são dois pedidos: um, dirigido diretamente ao Papa Francisco para que a bula papal que excomunga Lutero não se aplique aos protestantes de hoje; e a outra, conclamando o pastor Musa Panti Filibus, arcebispo da Nigéria e presidente da Federação Luterana Mundial, a declarar que a condenação dos papas como “Anticristo” não se aplique ao papado atual.
Na mesma linha, este apelo exorta finalmente a Conferência Episcopal Alemã (DBK) e a Igreja Protestante da Alemanha (EKD) a emitir uma “declaração pública conjunta” de arrependimento sobre os fatos dos anos 1500, que estão na origem destas graves tensões recíprocas. “[Elas] mostrariam, assim, a preocupação de revogar condenações anteriores e evitar uma recaída das divergências mútuas, até mesmo das condenações”, argumentam os teólogos. Estas iniciativas marcariam, segundo eles, um significativo passo em frente na reconciliação entre as duas grandes famílias cristãs, com relações outrora tão turbulentas.
[1] Inicialmente, esta declaração foi emitida em 31 de maio de 2020, por ocasião do Pentecostes.
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Teólogos alemães querem anular a excomunhão de Martinho Lutero - Instituto Humanitas Unisinos - IHU