A posição do Vaticano sobre uniões homossexuais é “não-bíblica”, constatam teólogos

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13 Mai 2021

 

O Instituto para Pesquisa Católica Wijngaards publicou estudos de teólogos reconhecidos internacionalmente, incluindo antiga autoridade do Vaticano da congregação da Doutrina da Fé.

A reportagem é de Madeleine Davison, publicada por La Croix International, 11-05-2021. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Um grupo internacional de teólogos e acadêmicos publicou uma declaração acadêmica no último 04 de maio, alegando as inconsistências nos argumentos do Vaticano contra as relações homossexuais, e urgindo à Igreja para revisar seu posicionamento à luz das pesquisas modernas.

“Quando as pessoas sofrem, por causa de doutrinas, leis e disciplinas, sobre sobre cuja correção existem agora dúvidas bem fundamentadas, as autoridades da Igreja competentes têm o dever religioso e cristão de revisá-los cuidadosa e empaticamente”, escreveu o padre teólogo Krzysztof Charamsa, ex-funcionário da Congregação para a Doutrina da Fé do Vaticano no prefácio da declaração.

Os autores argumentaram que a Bíblia nunca condena relacionamentos consensuais e fiéis com pessoas do mesmo sexo. Eles também disseram que as evidências de que as orientações não heterossexuais ocorrem naturalmente e o fato de que a Igreja permite que casais heterossexuais inférteis se casem minam os argumentos da lei natural do Vaticano contra os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo.

A declaração foi publicada pelo Instituto para Pesquisa Católica Wijngaards e assinada por 20 colaboradores e mais de 40 outros teólogos e acadêmicos que representam mais de uma dezena de países em todo o mundo, incluindo os Estados Unidos, Filipinas, Alemanha, Austrália, Malásia e Brasil.

A maioria dos contribuintes e signatários são teólogos e especialistas em ética, alguns especializados em estudos de gênero, enquanto outros são estudiosos da Bíblia ou biólogos.

Os signatários incluíam irmã Margaret Farley, professora emérita de ética cristã na Yale University Divinity School e autora de “Just Love: A Framework for Christian Sexual Ethics” (“Apenas amor: Um marco para a ética sexual cristã”, em tradução livre); Todd Salzman, professor de teologia católica na Creighton University e autor de vários livros sobre ética sexual; e Mary McAleese, ex-presidente da Irlanda e atual chanceler do Trinity College em Dublin.

“Precisamos de algo novo”, disse Farley ao NCR em uma breve entrevista sobre o comunicado. “Porque as pessoas estão sofrendo e sendo prejudicadas”.

Salzman disse que era “oportuno” que a declaração do Instituto Wijngaards fosse divulgada logo após o decreto do Vaticano de 15 de março, divulgado pela congregação doutrinária e aprovado pelo Papa Francisco, de que o clero não tem permissão para abençoar uniões do mesmo sexo porque Deus “não pode abençoar o pecado”.

“Acho que [o decreto do Vaticano] foi o limite para muitas pessoas... foi incrivelmente irresponsável e doloroso a CDF emitir essa declaração”, disse Salzman ao NCR.

Os autores da nova declaração escreveram que as orientações não heterossexuais são parte da diversidade natural da sexualidade humana.

Os cientistas descobriram que a orientação sexual é determinada antes do nascimento, principalmente pela genética e pelos hormônios, escreveram os autores. Ser gay, bissexual ou queer também não é uma escolha – as pessoas LGBTQ não são mais responsáveis por sua orientação sexual do que os heterossexuais, acrescentaram.

A declaração separa os argumentos oficiais da Igreja Católica que declaram as relações entre pessoas do mesmo sexo “intrinsecamente desordenadas” em duas categorias principais: baseadas nas leis naturais e bíblicas.

O argumento da lei natural do Vaticano diz que a intimidade entre pessoas do mesmo sexo é intrinsecamente pecaminosa porque não pode gerar um filho, afirmaram os autores. Mas a igreja diz que casais heterossexuais podem fazer sexo mesmo que o ato biologicamente não possa levar à concepção, observaram os autores.

Os autores acrescentam que casais heterossexuais inférteis também podem se casar; eles citam a teologia católica e o direito canônico, citando: “a esterilidade não proíbe nem anula o casamento”.

“A Igreja aceita relações de heterossexuais que não têm filhos por causa da infertilidade... essa é uma relação válida por outras razões, como o apoio mútuo, compromisso, amor e trabalho compartilhado pelo bem comum”, disse Kathryn Lilla Cox, uma pesquisadora visitante de teologia e estudos religiosos na Universidade de San Diego, que estuda sobre infertilidade e ajudou na revisão da declaração.

“Em relacionamentos não-heterossexuais essas coisas também existem – é sobre identidade, é sobre amor, é sobre compromisso”, disse ela.

À luz das inconsistências entre a doutrina da Igreja e a pesquisa científica moderna, os autores pedem à Igreja para começar um “processo oficial de consulta” com um grupo representativo de teólogos e especialistas em ética das relações homossexuais “como uma matéria de urgência”.

As opiniões reunidas na consulta devem ser divulgadas, eles disseram.

Natalia Imperatori-Lee, uma professora de estudos religiosos no Manhattan College, que é uma das signatárias, disse que a declaração é parte de uma antiga tradição de teólogos interpretando a Bíblia à luz da nova ciência e entendimento da natureza humana.

“Embora eu ame a Igreja, eu penso que a Igreja é errada sobre isso, e eu estou orgulhoso de ser parte de um grupo de pessoas que está tentando ajudar a Igreja a atravessar esse pântano”, afirmou Imperatori-Lee.

 

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