Pensar o feminino, repensar o masculino

Foto: D cole | Flickr

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

29 Janeiro 2021

Na tradição judaica se fala que Deus recolhe todas as lágrimas das mulheres. Paulo, em uma das passagens mais inspiradas, proclama o fim de toda diferença graças a Jesus, inclusive aquela entre homem e mulher. "Então, por que é tão difícil para os homens não entender, mas sentir que masculino e feminino são a mesma coisa, uma dupla versão do único Adão, do único Terrestre?", pergunta o teólogo Brunetto Salvarani no prefácio de La donna nel Nuovo Testamento e nella Chiesa (Edb, p. 78, € 9,00). Um ensaio curto e interessante, do qual Salvarani é o editor, no qual o pastor valdense Paolo Ricca, a teóloga Cristina Simonelli e a biblista Rosanna Virgili analisam o feminino no cristianismo. E nas comunidades eclesiais.

O comentário é de Lucia Capuzzi, jornalista italiana, publicado por Avvenire,27-01-2021. A tradução é de Luisa Rabolini.

A legislação civil finalmente reconheceu a plena cidadania à mulher, permitindo a esta última evidenciar atitudes há muito ignoradas. A Igreja tem sido capaz de apreciá-las e usá-las? O questionamento combina as diferentes intervenções. Não se trata de reivindicar poder, mas de garantir a plena comunhão de homens e mulheres, feitos um em Cristo. Afinal, enfatiza Virgili, é apenas com o advento de Eva no Éden que o Adam, o animal terrestre, se torna homem em sentido moral. É do pecado que surge não um castigo divino, mas a ruptura da comunhão entre os dois viventes e a submissão da mulher ao homem. “Aconteceu uma corrupção: o que era conatural à pessoa humana - a adesão mútua, o canto da correspondência - tornou-se um terreno de luta, dor e dominação”, afirma a biblista que também se confronta com a misoginia exegética e a leitura, no sentido patriarcal, de algumas passagens paulinas.

Ricca, por outro lado, concentra-se no fundamento teológico da ministerialidade feminina. A ponto de se confrontar, do ponto de vista protestante, com a questão do ministério ordenado. Embora não reconhecendo a diferença de essência entre o sacerdócio ordenado e o comum, somente no decorrer do século XX, a partir da Alemanha, é que as Igrejas Protestantes introduziram o pastorado feminino, originalmente devido à escassez de aspirantes do sexo masculino por causa da guerra. “Portanto, não é de todo óbvio que este inédito absoluto na história da Igreja depois do tempo apostólico veja a luz na maioria das Igrejas cristãs, de hoje e de amanhã”, é a tese de Ricca.

Falar de feminino na esfera eclesial implica também uma séria reflexão sobre a masculinidade. Uma questão, diz Simonelli, sobre a qual persiste uma espécie de “maculopatia” de gênero: “Nos contornos a visão é de alguma forma preservada, mas o centro do campo visual fica turvo, quando não completamente anulado”. A chave para construir uma relação harmoniosa mulher-homem é a sinodalidade. Em seu horizonte “homens e mulheres podem compartilhar seus dons e competências, para que suas diferenças não tenham que se hierarquizar e a diaconia de corpos e das ideias, das mãos e das palavras, da reflexão crítica e da ação solidária forme uma harmonia que pode ser discordante, mas nunca humilhante, que não tenha necessidade de um inferior ou de um inimigo para se produzir e se compor”.

Leia mais