06 Janeiro 2021
"Em um ano de incertezas, somos chamados a olhar o futuro com esperança, a continuar a tomar medidas que nos levem a tornar realidade aquela Igreja sinodal, em saída, missionária, que escuta, que se empenha em construir novos caminhos, a partir da presença na vida cotidiana do povo", escreve Luis Miguel Modino, padre espanhol e missionário Fidei Donum.
O Concílio Vaticano II, que neste mês celebrou seu 55º aniversário, teve como um de seus pontos centrais a reflexão sobre a Igreja como Povo de Deus, que se desdobrou em outros conceitos e pensamentos, entre eles o da sinodalidade, que se refere a caminhar juntos, unidos, propondo um novo modo de ser Igreja, baseado na escuta e no discernimento.
Podemos dizer que esta Igreja sinodal foi deixada de lado durante anos, sendo colocados muitos obstáculos no caminho das Igrejas particulares que tentaram assumir esta forma de caminhada eclesial. A maioria das tentativas de concretizar esta Igreja sinodal foi realizada na América Latina, onde pouco a pouco, utilizando diferentes mecanismos, estes desejos de fazer realidade uma Igreja baseada nas propostas do Concílio Vaticano II foram se extinguindo.
Apesar destes esforços, não é por acaso que o ressurgimento desta forma de ser Igreja ganhou um forte impulso com a chegada do primeiro Papa latino-americano. Muitas vezes são exigidas mudanças radicais ao Papa Francisco, esquecendo que as coisas na Igreja têm um ritmo lento, que o tempo de Deus é diferente e que as mudanças, se queremos que elas permaneçam, têm que vir de baixo, da base, e não podem ser impostas por aquele que esteja no comando em um dado momento.
A sinodalidade é proposta pelo Papa Francisco como o caminho para ser Igreja no século XXI, uma Igreja que se baseia no sacramento do batismo e não no sacramento da ordem. A resistência é forte, especialmente entre aqueles que sofrem de um dos pecados diagnosticados pelo próprio papa, o clericalismo, uma doença que afeta não apenas os ministros ordenados.
Como aconteceu no período pós-conciliar, podemos dizer que, mais uma vez, a sinodalidade foi assumida com maior força na Igreja latino-americana. Tudo o que foi vivido no processo sinodal do Sínodo para a Amazônia está sendo fortalecido, especialmente neste ano que estamos fechando, pelo Conselho Episcopal Latino-americano - CELAM, que, na última assembleia, realizada em maio de 2019, decidiu entrar em um processo de renovação e reestruturação do qual pouco a pouco estamos vendo os frutos.
O CELAM quer ser uma Igreja em saída, missionária e sinodal, elementos nos quais seu presidente, Dom Miguel Cabrejos, insiste constantemente. O episcopado latino-americano e caribenho, com seu presidente à frente, está fazendo um grande esforço de reflexão para tentar concretizar na América Latina e no Caribe tudo o que está presente na proposta eclesial do bispo de Roma. 2020, apesar do distanciamento social, foi um ano em que foi realizado um profundo processo de reflexão, com um grande número de reuniões virtuais nas quais foram dados passos significativos que devem ajudar no futuro da Igreja latino-americana e caribenha.
Não podemos esquecer que foi no continente latino-americano que neste 2020, especificamente em 29 de junho, algo que pode marcar o futuro da Igreja sinodal se tornou realidade, o nascimento da Conferência Eclesial da Amazônia - CEAMA. Incluída dentro da estrutura do CELAM, a nova conferência, que pela primeira vez é eclesial e não episcopal, e devemos insistir que esta mudança foi uma sugestão do próprio Papa Francisco, é apresentada como uma nova forma de organizar os espaços de reflexão e decisão na Igreja.
Na CEAMA, a presença do Povo de Deus, de sacerdotes, religiosos e religiosas, leigos e leigas, entre os quais devem ser destacados os representantes dos povos originários, é apresentada como uma novidade na história da Igreja. A CEAMA é a concretização no território da sinodalidade, sabendo que este "é um processo contínuo, que não vai parar, é um processo permanente", como reconheceu o Cardeal Claudio Hummes, presidente da CEAMA, após a celebração de sua primeira Assembleia Plenária, que em 26 e 27 de outubro reuniu por meios virtuais mais de 250 pessoas, o que foi uma novidade na esfera eclesial.
O futuro deve trazer muitas surpresas, algo em que o Cardeal Hummes insiste, que defende a necessidade de uma conversão eclesial, baseada na necessidade de estar no meio do povo, sabendo que há muitas maneiras de realizar esta tarefa. Se queremos fazer realidade uma Igreja sinodal, uma atitude fundamental, na qual o cardeal brasileiro insiste, é que a Igreja, especialmente os ministros ordenados, aprendam a ouvir e não a falar, tentando encontrar respostas junto ao povo, especialmente aqueles que vivem nas periferias geográficas e existenciais.
Em um ano de incertezas, somos chamados a olhar o futuro com esperança, a continuar a tomar medidas que nos levem a tornar realidade aquela Igreja sinodal, em saída, missionária, que escuta, que se empenha em construir novos caminhos, a partir da presença na vida cotidiana do povo.
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Sinodalidade, um compromisso cada vez mais forte na Igreja da América Latina e do Caribe - Instituto Humanitas Unisinos - IHU