10 Novembro 2020
Marina Harkot morreu enquanto praticava aquilo a que dedicou a vida: o ciclismo. Sociedade cobra justiça e mais segurança para ciclistas nas cidades.
A reportagem é publicada por Rede Brasil Atual - RBA, 09-11-2020.
A cicloativista e feminista Marina Harkot foi assassinada no domingo (8). Ela foi atropelada por um motorista de uma SUV que fugiu sem prestar socorro. Marina estava na Avenida Paulo VI – extensão da Avenida Sumaré, importante eixo cicloviário da zona Oeste de São Paulo. Em uma via de quatro pistas, a jovem de 28 anos estava no canto da última delas, de acordo com relatos. A velocidade máxima da via é de 50 quilômetros por hora.
Marina teve mestrado concedido em 2018, com o tema "A Bicicleta e as Mulheres: Mobilidade ativa, gênero e
desigualdades socioterritoriais em São Paulo". (Foto: Reprodução/Facebook)
Uma policial de folga estava na região. Ela acionou o socorro e ajudou no relato, inclusive com a placa do carro, que teria sido anotado por um motociclista que perseguiu o autor do atropelamento. A Polícia Civil agora segue em busca do criminoso, já que o proprietário do veículo que consta dos registros do Detran afirma ter vendido o carro em 2017. Ele se comprometeu a apresentar os comprovantes de compra e venda. O boletim de ocorrência foi registrado como homicídio culposo e fuga do local no 14° Distrito Policial, em Pinheiros.
Marina usava sua bicicleta no dia a dia; era seu principal meio de transporte. A cicloativista foi coordenadora da Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade). Seu mestrado pelo Universidade de São Paulo, em 2018, teve como tema “A Bicicleta e as Mulheres: Mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo”.
Sua morte provocou revolta nas redes sociais. A Ciclocidade organizou homenagem a Marina na Praça do Ciclista, que fica no fim da Avenida Paulista. “Hoje, 8 de novembro, vamos nos reunir na Praça do Ciclista para prestar uma homenagem à vida da nossa grande amiga Marina Harkot e protestar sua morte.
O motorista que atropelou a cicloativista Marina Hakort segue foragido. "Basta de mortes de ciclistas e pedestres no trânsito, isso não é normal! #NaoFoiAcidente #BastaDeMortesNoTransito #JusticaPorMarina”, disse o coletivo de ciclistas.
Foram muitos os que se manifestaram em solidariedade à ciclista, à sua família e também à todos os que preferem a bicicleta, um meio de transporte limpo e que traz inúmeros benefícios para as cidades. “A justiça tem que ser feita. Torcendo para que encontrem esse assassino”, disse o humorista e apresentador Gregório Duvivier.
O cartunista André Dahmer também cobrou maiores ações dos políticos em defesa de uma cidade com maior estrutura para ciclistas. “Fico com o coração partido quando fico sabendo de atropelamento de ciclista. Bicicleta deveria ser política pública de mobilidade urbana de maior interesse da sociedade. Uma alternativa inteligente para combater o inferno do trânsito. Meus pêsames para família de Marina Kohler.”
Lideranças políticas também se manifestaram. O candidato à prefeitura de São Paulo pelo PT, Jilmar Tatto, lamentou a morte de Marina. “É com muita tristeza que recebo a notícia do falecimento da Marina Hakort, ciclista muito importante na luta pela mobilidade ativa e igualdade de gênero em São Paulo. Ela foi mais uma vítima da violência no trânsito e perdeu a vida após ser atropelada na noite de ontem.” Tatto foi secretário de Transportes da cidade durante a implementação de 400 quilômetros de ciclovias em quatro anos (2013-2016).
O candidato à prefeitura de São Paulo, Guilherme Boulos (Psol), também se manifestou. “Marina Harkot, ativista do ciclismo em SP que contribuiu com a construção do nosso programa, faleceu nessa madrugada vítima de atropelamento quando andava de bicicleta. O motorista covarde fugiu. Minha solidariedade aos familiares e amigos e vamos levar a luta de Marina adiante!"
A deputada federal pelo Rio de Janeiro Talíria Petrone (Psol) disse estar com o “coração partido” e também cobrou ações do poder público. “É de partir o coração a morte da ciclista e ativista Marina Harkot em São Paulo. É revoltante que o motorista não tenha prestado socorro e que tenhamos cidades que não são pensadas para ciclistas e pedestres. Toda nossa solidariedade para família e amigos. Marina, presente!”
O advogado presidente da Comissão de Defesa das Pessoas com Deficiência da OAB Ceará lamentou a morte da cicloativista Marina. Ele passou por um acidente de trânsito e ficou com mobilidade restrita, mas sobreviveu. “Marina não teve a oportunidade que eu tive após um atropelamento quase fatal: sobreviver para contar a sua história e lutar contra a violência no trânsito. Até quando teremos que conviver com um trânsito que mata diariamente?”, protestou.
A jornalista e escritora Milly Lacombe também lembrou de uma história pessoal para cobrar por justiça. “Perdi minha ex-mulher, tb ciclista, atropelada. Quem apoia aumento de limite de velocidade, quem vota em pulha que usa expressões como ‘acelera, São Paulo’, quem acha que regular velocidade é autoritarismo, é cúmplice da barbárie liberal que vê liberdade como conceito individual.”
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‘Basta!’: sociedade cobra justiça pela morte da cicloativista Marina Harkot - Instituto Humanitas Unisinos - IHU