O trabalho no contexto da globalização

"O que de fato está ocorrendo, sendo perceptível é que essas novas tecnologias informáticas permitem, em primeiro lugar, a redução do número de trabalhadores para, já em processo, a dispensa completa dos trabalhadores", escreve José Afonso de Oliveira, sociólogo formado pela PUC Campinas e professor aposentado da UNIOESTE.

Eis o artigo.

Estamos vivendo diante de uma realidade que está posta que é o processo de globalização. Isto só é possível hoje, por conta dos avanços científico/tecnológicos que nos possibilitaram criar essa realidade da globalização atual, onde estamos em um determinado local e, simultaneamente estamos no mundo como um todo.

Conseguimos algo bastante importante e inédito que é exatamente um avanço científico/tecnológico que nos possibilita produzirmos em grandes escalas industriais e em reduzidíssimos tempos, isto é, a uma velocidade muito elevada.

Como todo esse trabalho é realizado através de sistemas informatizados ficam pendentes questões muito significativas e importantes que dizem respeito a duas essenciais a saber: as altas taxas de desemprego existentes e, não menos importante, as reduções de direitos trabalhistas sem que ocorra nada em sua substituição.

Mas isso também é possível e viável na medida em que há uma mobilização de mão-de-obra disponível das áreas periféricas para as áreas centrais, ou melhor dizendo dos mercados dependentes, para os mercados centrais. Na visão Branko Milanovic isso está ocorrendo sendo mesmo perceptível que há uma diferença onde trabalhadores dos países centrais mantém seus direitos de cidadania e migrantes não dispõe de qualquer direito. Observa-se isso com os filhos das nossas classes médias migrando para os países centrais em busca de empregos melhores, não dando qualquer importância a fatores como direitos sociais, sindicais ou mesmo de cidadania.

De outra forma Domenico de Masi trabalha essas questões apresentando novas perspectivas de criação de novos empregos, através de várias e diferentes formas, mas todas tendo em comum a superação dos graves problemas do desemprego.

O que de fato está ocorrendo, sendo perceptível é que essas novas tecnologias informáticas permitem, em primeiro lugar, a redução do número de trabalhadores para, já em processo, a dispensa completa dos trabalhadores. Esse é um fato inédito, pois que em momentos anteriores as tecnologias inicialmente geravam desemprego, mas em seguida os surgimentos de outras tecnologias possibilitavam recuperar os empregos anteriormente perdidos.

Agora isso não está sendo mais possível dado que as novas tecnologias são completamente distintas das anteriores e também por conta de terem conseguido resolver a essência de todo o processo industrial, no que diz respeito às quantidades de bens produzidos e o tempo de produção.

Diante disso é preciso pensar em novas formas de vida, no contexto desse processo de produção atual, de sorte a termos uma nova harmonia e organização da sociedade.

Leia mais

• O “contrato social da globalização”: outra promessa sem amanhã?
• “A pandemia e o retorno do trabalho artesanal”. Entrevista com Branko Milanović
• A Revolução 4.0 e a reedição das lógicas das revoluções burguesas. Entrevista especial com Gaudêncio Frigotto
• Robótica eliminará até 800 milhões de empregos até 2030
• Revolução 4.0 e a necessidade de reinvenção do mundo do trabalho na América Latina
• 2017 pode registrar aumento significativo do trabalho automatizado
• A tecnologia que confina o humano. Entrevista especial com Marildo Menegat
• A nova gramática da divisão do trabalho digital e os desafios da plataformização. Entrevista especial com Lucas Hertzog
• Uber: assim começam as greves do futuro
• Mudanças tecnológicas, exclusão digital e os desafios da proteção social