“Uma carta aberta ao papa Francisco”, por José María Castillo

Foto: Vatican News

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

24 Setembro 2020

“A Igreja em saída é a Igreja que deixa de viver bloqueada pelos ritos e normativas dos séculos passados”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em carta aberta ao papa Francisco, publicada por Religión Digital, 23-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.

Eis a carta.

Granada, 22 de setembro de 2020.

Estimado padre Jorge Mario, bispo de Roma, papa Francisco,

Há mais de dois anos sinto o desejo intenso de lhe escrever, para lhe expressar minha gratidão pelo bem que está fazendo ao mundo e à Igreja. Queria enviar esta carta em privado, mas vejo que não é seguro que uma carta assim chegue ao Papa.

Meu desejo, ao escrever esta carta, é destacar e insistir que o centro e o eixo da Igreja não é a religião cristã e a fiel observância de seus ritos e suas normas. O centro e o eixo da Igreja é o Evangelho de Jesus. Segundo apresentam os evangelhos que acabo de indicar, a Religião e o Evangelho são incompatíveis. Por isso os dirigentes da religião condenaram e mataram Jesus.

A submissão às observâncias religiosas tranquiliza as consciências. Por isso, nossa experiência religiosa já não é de fiar. A vontade de Jesus ficou resumida nos três mandatos que o próprio Jesus nos deixou na última ceia. Não somente em um mandato, o da eucaristia, mas em três:

1º) Lavar os pés dos demais, isso é, viver servindo como escravos;

2º) Compartilhar o pão e o vinho, onde Jesus faz-se presente em nossas vidas;

3º) Aceitar e viver o “novo mandamento”, no qual a “novidade” está em que Jesus já não fala de amor a Deus e ao “próximo”, mas somente do “amor mútuo”.

Nisto está o distintivo que define e caracteriza o cristão. E por isto mesmo, no juízo final, que anuncia Jesus em Mateus 25, tampouco se menciona Deus “que fizestes a um destes, terás feito a mim”.

A “Igreja em saída” é a Igreja que deixa de viver bloqueada por ritos e normativas de séculos passados. É a Igreja que vive para humanizar este mundo tão desumanizado e sobrecarregado de desprezo pelos mais fracos.

A partir deste projeto, o Espírito do Senhor nos levará à verdade plena, vivendo unidos ao Bispo de Roma, cabeça do Episcopado segundo a sucessão apostólica.

Cordialmente unidos e sob a proteção da Virgem,

José María Castillo

 

Leia mais