24 Setembro 2020
“A Igreja em saída é a Igreja que deixa de viver bloqueada pelos ritos e normativas dos séculos passados”, escreve José María Castillo, teólogo espanhol, em carta aberta ao papa Francisco, publicada por Religión Digital, 23-09-2020. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Granada, 22 de setembro de 2020.
Estimado padre Jorge Mario, bispo de Roma, papa Francisco,
Há mais de dois anos sinto o desejo intenso de lhe escrever, para lhe expressar minha gratidão pelo bem que está fazendo ao mundo e à Igreja. Queria enviar esta carta em privado, mas vejo que não é seguro que uma carta assim chegue ao Papa.
Meu desejo, ao escrever esta carta, é destacar e insistir que o centro e o eixo da Igreja não é a religião cristã e a fiel observância de seus ritos e suas normas. O centro e o eixo da Igreja é o Evangelho de Jesus. Segundo apresentam os evangelhos que acabo de indicar, a Religião e o Evangelho são incompatíveis. Por isso os dirigentes da religião condenaram e mataram Jesus.
A submissão às observâncias religiosas tranquiliza as consciências. Por isso, nossa experiência religiosa já não é de fiar. A vontade de Jesus ficou resumida nos três mandatos que o próprio Jesus nos deixou na última ceia. Não somente em um mandato, o da eucaristia, mas em três:
1º) Lavar os pés dos demais, isso é, viver servindo como escravos;
2º) Compartilhar o pão e o vinho, onde Jesus faz-se presente em nossas vidas;
3º) Aceitar e viver o “novo mandamento”, no qual a “novidade” está em que Jesus já não fala de amor a Deus e ao “próximo”, mas somente do “amor mútuo”.
Nisto está o distintivo que define e caracteriza o cristão. E por isto mesmo, no juízo final, que anuncia Jesus em Mateus 25, tampouco se menciona Deus “que fizestes a um destes, terás feito a mim”.
A “Igreja em saída” é a Igreja que deixa de viver bloqueada por ritos e normativas de séculos passados. É a Igreja que vive para humanizar este mundo tão desumanizado e sobrecarregado de desprezo pelos mais fracos.
A partir deste projeto, o Espírito do Senhor nos levará à verdade plena, vivendo unidos ao Bispo de Roma, cabeça do Episcopado segundo a sucessão apostólica.
Cordialmente unidos e sob a proteção da Virgem,
José María Castillo
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“Uma carta aberta ao papa Francisco”, por José María Castillo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU