07 Julho 2020
Embora sem evidências definitivas, crescem sinais de contágio pelo ar, mesmo com distanciamento. Hipótese reforça importância crucial das máscaras, desprezadas por Bolsonaro. E mais: o sucesso de São Caetano (SP) contra a pandemia.
A reportagem é de Maíra Mathias e Raquel Torres, publicada por Outras Palavras, 06-07-2020.
Desde que o novo coronavírus começou a se espalhar pelo mundo, cientistas estudam se a transmissão pelo ar é um componente importante. Até agora, várias pesquisas têm sugerido que esse vírus consegue ficar em suspensão no ar, flutuando durante algum tempo em pequenas gotículas, ou aerossóis. Assim, lugares fechados e com pouca ventilação seriam especialmente perigosos, mesmo quando há distanciamento social entre as pessoas. Mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) não corrobora essa forma de transmissão.
De acordo a entidade, o vírus só infecta de duas formas: por gotículas respiratórias grandes passadas por pessoas próximas (que, uma vez expelidas, caem rapidamente no chão); ou em menor escala, por meio de superfícies contaminadas. Um grupo de 239 cientistas de 32 países escreveu à ONU elencando as evidências que mostram que partículas menores podem infectar pessoas e pedindo que a OMS reveja suas recomendações. A carta deve ser publicada esta semana e ainda não se sabe qual efeito terá. Em sua última atualização, do dia 29 de junho, o organismo indica que a transmissão aérea só seria possível após procedimentos médicos que produzem gotículas pequenas, como intubações.
Quando se assume que a transmissão pelo ar desempenha papel importante na pandemia, há consequências nos modos de prevenção. A mais óbvia é a necessidade de usar máscaras em todos os ambientes fechados. A matéria do New York Times cita outras: sistemas de ventilação nas escolas, asilos e empresas talvez tenham que ser totalmente modificados, para reduzir a recirculação de ar e ter filtros mais poderosos; podem ser necessárias luzes ultravioletas para matar partículas virais suspensas.
Benedetta Allegranzi, líder técnica da Organização das Nações Unidas para o Controle de Infecções, disse ao NYT que as evidências para isso ainda não são convincentes. “Temos declarado várias vezes que consideramos a transmissão aérea possível, mas certamente não suportada por evidências sólidas”. Mas os quase 20 cientistas entrevistados pelo jornal receiam que a Organização esteja fora de sintonia com as últimas descobertas. Dão como exemplo o fato de que houve demora para a OMS acatar as evidências sobre máscaras e recomendar seu uso para a população em geral; e, sobre a transmissão por assintomáticos, ela ainda sustenta que se trate de um evento raro.
“Não há provas incontestáveis de que o SARS-CoV-2 viaje ou seja transmitido significativamente por aerossóis, mas não há absolutamente nenhuma evidência de que não seja”, diz Trish Greenhalgh, médico da Universidade de Oxford. Muitos cientistas acreditam que a OMS deveria adotar do “princípio de precaução”: mesmo sem evidências definitivas, assumir o pior cenário, aplicar o bom senso e recomendar a melhor proteção possível.
As hesitações da entidade podem não ser meramente técnicas: “Se a OMS pressionar por medidas rigorosas de controle sem evidências claras, os hospitais de países de baixa e média renda podem ser forçados a desviar recursos escassos de outros programas cruciais”, justifica Paul Hunter, membro do comitê de prevenção de infecções e professor de medicina da Universidade de East Anglia, no Reino Unido. “Esse é o equilíbrio que uma organização como a OMS tem que alcançar. É a coisa mais fácil do mundo dizer: ‘Precisamos seguir o princípio da precaução’ e ignorar os custos disso'”.
Na sexta, foi sancionado o projeto que torna obrigatório o uso de máscaras em locais públicos e meios de transporte do país inteiro, mas com vetos de Jair Bolsonaro que tiram dele o principal: ficou de fora a obrigatoriedade em estabelecimentos comerciais, industriais e de ensino, além de templos religiosos e outros locais fechados em que haja pessoas reunidas. E esses estabelecimentos ficam dispensados de fornecer máscaras aos funcionários. Para o presidente, foi preciso vetar o texto porque ele era muito “abrangente” e poderia configurar “violação de domicílio”. É óbvio que em lugar nenhum o projeto mencionava a necessidade de usar máscaras dentro de casa.
Mas tudo bem, porque o líder do governo no Congresso, senador Eduardo Gomes (Solidariedade), disse que usar máscaras se tornaria logo uma obrigação “obsoleta”… Outro veto foi em relação à imposição de multa para quem desrespeitar a lei. “Pessoas que não têm dinheiro para comer vão pagar multa de máscara? É uma questão de bom senso”, prosseguiu Gomes. Tá certo. A questão é que Bolsonaro também vetou o trecho que obrigava o Estado a fornecer gratuitamente máscaras para as populações de baixa renda.
Há dois problemas graves nas reaberturas econômicas vistas Brasil afora. O primeiro tem a ver com o “timing”: as cidades autorizaram o funcionamento de cada vez mais serviços quando as suas curvas de contágio ainda estavam na ascendente. Resultado? Mais infecções.
O movimento foi verificado em 12 capitais brasileiras pelo Estadão, que viu que, após o retorno de atividades não essenciais, houve aumento dos registros no fim de junho nos seguintes locais: São Paulo, Belo Horizonte, Vitória, Curitiba, Florianópolis, Porto Alegre, Brasília, Campo Grande, Cuiabá, Salvador, João Pessoa e Palmas. Dá para comparar com os gráficos de locais onde a reabertura não levou a aumento, como Recife, Fortaleza e São Luís.
Reforçando esse argumento, outra análise, essa da CNN, comparou Brasil, Estados Unidos e Índia – que começaram a reabrir antes que a contagem de casos começasse a cair – com outros 15 países que receberam aval da União Europeia para retomar as viagens para aquele continente. A epidemia foi controlada em locais onde as flexibilizações começaram depois de quedas constantes nos novos casos diários de covid-19. Aliás: entre os países latino-americanos, nós somos o que tem a pior avaliação popular em sua resposta à pandemia.
E uma vez iniciado, o processo de reabertura econômica não pode ser sinônimo de volta “ao normal” como se não houvesse coronavírus. Hoje, a cidade de São Paulo se prepara para reabrir bares e restaurantes. Vimos desde a última quinta-feira cenas fortes no Rio de Janeiro, onde pessoas sem máscara se abarrotaram nas ruas e houve também quem se recusasse também a cumprir o horário de funcionamento reduzido, que vai até às 23h. “Eu não vou embora”, cantou um grupo num bar da Barra da Tijuca durante uma fiscalização da Vigilância Sanitária.
Como bem disse o historiador Luiz Antonio Simas, quem delira que é imortal ao mesmo tempo naturaliza a morte alheia. “Morra quem morrer”, resumiu o prefeito da baiana Itabuna, Fernando Gomes (PTC), sobre a decisão de reabrir o comércio essa semana. Detalhe: Gomes, que está no quinto mandato, já foi condenado por irregularidades no uso de verbas para o combate à fome e num escândalo de superfaturamento de ambulância, além de ser citado pela ONG Repórteres Sem Fronteiras como suspeito de ser o mandante do assassinato de Manuel Leal de Oliveira, jornalista que investigava sua gestão.
Uma longa matéria da Vox trata de como aqueles que sempre ignoraram a importância do distanciamento social ajudaram (e ajudam) a espalhar o novo coronavírus. Nos Estados Unidos, viralizaram posts de redes sociais de gente se gabando de continuar seguindo a vida normalmente. Alguns especialistas ouvidos pela reportagem apontam que há uma questão “difícil de entender” quando as medidas parecem ser mais importantes para proteger outras pessoas do que nós próprios.
“As pessoas estão acostumadas a conversar com seus médicos sobre sua saúde pessoal, mas assumir a responsabilidade pela saúde de outras pessoas surge com pouca frequência (…). Nosso julgamento pode ser ofuscado pelo viés de otimismo, a tendência de acreditar que você tem menos probabilidade do que outros de experimentar algo negativo”, diz o texto, mencionando que, em fevereiro, pesquisadores entrevistaram cerca de quatro mil pessoas na França, Itália, Reino Unido e Suíça, e descobriram que metade delas acreditavam (sem evidência alguma) ter menos probabilidade de contrair o coronavírus do que o resto da população.
Mas o desrespeito ao isolamento não pode, é claro, cair só na conta dos indivíduos, mesmo quando vem da parte de pessoas que em tese não precisariam sair de casa. As trapalhadas políticas têm um peso enorme nisso.
Um estudo da Rede CoVida, ligada à Fiocruz e à Universidade Federal da Bahia, usou análises matemáticas para ver onde as medidas de distanciamento social foram mais eficazes para frear o avanço da pandemia no Brasil. E os pesquisadores observaram algo interessante: nos estados que estabeleceram certas medidas e depois foram intensificando essas restrições, a adesão da população foi maior. Foi o caso do Ceará, Amapá, Bahia Pernambuco, Acre e Maranhão. Mas nos estados que criaram medidas, depois flexibilizaram e depois voltaram a enrijecê-las, a adesão das pessoas após o novo endurecimento é menor do que no início. Aconteceu em Santa Catarina, por exemplo, que já fez diversas flexibilizações e retornos: a cada retorno, a taxa de adesão diminui.
Com os processos de reabertura, novos casos aparecem – isso ocorre mesmo em lugares que reabrem com segurança, tendo esmagado (ou quase) o coronavírus, e obviamente com uma intensidade muito maior em países como Brasil e Estados Unidos, que fazem essa reabertura de qualquer jeito. O que alguns pesquisadores estão se concentrando em buscar, agora, são formas de localizar novos focos nesse cenário. Países como a China conseguem realizar dezenas de milhões de testes em poucos dias para identificar todos os infectados em uma cidade ou região. Isso não vai ser possível em todos os países. Uma das apostas para simplificar e baratear esse rastreamento está nos esgotos.
Já contamos aqui sobre alguns monitoramentos feitos no Brasil a partir da análise dessas águas para detecção do SARS-CoV-2. No Reino Unido, cientistas querem desenvolver um sistema padronizado para isso. De acordo com eles, tal estratégia ainda poderia detectar surtos de infecções até dez dias antes do que com os métodos atuais (por testagem). “Ao coletar amostras de águas residuais em diferentes partes da rede de esgotos, podemos reduzir gradualmente um surto para áreas geográficas menores, permitindo que as autoridades de saúde pública atinjam rapidamente intervenções nessas áreas com maior risco de espalhar a infecção.”, explica, Andrew Singer, coordenador do projeto, no Independent. O trabalho deve durar até outubro do ano que vem e está sendo liderado pelo Centro Britânico de Ecologia e Hidrologia, envolvendo cientistas de uma série de universidades e centros de pesquisa.
A interiorização da covid-19 tem entre as suas piores consequências a demora no acesso ao atendimento adequado. Isso porque aproximadamente cem milhões de pessoas vivam em locais sem esse tipo de atendimento. E os 32 milhões que residem nos 3.670 municípios com até 20 mil habitantes são os que correm mais riscos. Apenas 6% das cidades brasileiras têm leitos de UTI, sendo que as capitais concentram quase a metade dos leitos de terapia intensiva para adultos no país.
O Nordeste está nessa situação, segundo o comitê científico do consórcio criado para coordenar as ações dos estados da região. Há o temor de uma “avalanche” de casos vindos do interior para as capitais e principais cidades. No Recife, 65% dos leitos de UTI ocupados hoje atendem pessoas vindas de cidades do interior pernambucano.
E porque até hoje o Ministério da Saúde não cumpriu a promessa feita ainda na gestão Luiz Henrique Mandetta de disponibilizar um mapa nacional das UTIs, os estados ficam amarrados a sua própria regulação de leitos. “Muitas vezes há leitos ociosos em cidades maiores que fazem fronteira com outro estado onde há demanda por internação. Mas os sistemas não conversam“, disse à Folha Ederlon Rezende, da Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
Outros problemas identificados pela reportagem são a dificuldade de diagnóstico precoce, falhas na estabilização dos doentes para que eles possam ser levados a uma UTI – e o próprio transporte via ambulância.
São Caetano do Sul, em São Paulo, parece ser um oásis de bom senso no enfrentamento à covid-19. Tem hoje 1,8 mil casos e 98 mortes, um número considerado baixo devido à média de idade da população, que é mais alta que a do resto do Brasil. O que a cidade tem feito é basicamente o que toda cidade deveria fazer (e poderia, já que temos um sistema público de saúde com alta capilaridade): usar a atenção primária para pescar novos casos imediatamente, isolá-los e monitorá-los.
“Com dores de cabeça e no corpo, perda do olfato e do paladar, vômito e febre, a secretária Ariana dos Santos, 27, de São Caetano do Sul, ligou para um 0800. Foi orientada sobre o que deveria fazer e recebeu em casa um kit de autocoleta de secreções da garganta e do nariz para o teste da covid-19. Em 48 horas, foi avisada que o resultado deu positivo e teve que se isolar por 14 dias. Durante o período, esteve monitorada a distância por profissionais da saúde”, descreve a jornalista Claudia Collucci, na Folha. São Caetano do Sul já testou 25% da população; todo caso positivo é isolado e, além disso, a pessoa recebe a visita de um médico da atenção primária para avaliação clínica e medição do nível de oxigênio, já que, como sabemos, às vezes a doença se desenvolve de forma silenciosa. Além disso, estão sendo feitos testes em massa em asilos.
Saíram na quinta os resultados finais do Epicovid-BR, estudo coordenado pela Universidade Federal de Pelotas que investigou o espalhamento do novo coronavírus pelo país e as características da população afetada. Foram testadas e entrevistadas 89.397 pessoas em 133 cidades de todos os estados brasileiros. Na terceira e última fase do estudo, que aconteceu entre 21 e 24 de junho, a prevalência do vírus foi verificada em 3,8% da população – o dobro do índice encontrado na primeira fase, realizada de 14 a 21 de maio.
Os resultados estão aqui e, novamente, há várias cidades em que a prevalência diminui com o tempo. Particularmente na região Norte, onde a prevalência chegou a 9% na segunda fase (feita entre 4 e 7 de junho) e ficou em 8% na terceira. Outra Saúde entrou em contato com a assessoria de imprensa da pesquisa, que nos respondeu que a hipótese mais provável é que os anticorpos caiam com o tempo.
A região onde a epidemia está mais acelerada é o Nordeste, onde a prevalência saltou de 0,8% para 5,1%. No Sudeste, a prevalência está em 1,1%. No Centro-Oeste, 0,9% e no Sul, 0,4%.
Ainda de acordo com a pesquisa, o país pode ter até seis vezes mais casos do que as estatísticas oficiais dão conta. Então, se ontem ultrapassamos a marca de 1,6 milhão de casos confirmados, na realidade já poderíamos ter chegado a cerca de 9,5 milhões de infecções.
Apenas 9% dos infectados foram assintomáticos. Alteração de olfato e paladar (62,9%), dor de cabeça (62,2%) e febre (56,2%) foram os sintomas mais relatados entre os doentes.
Os mais pobres foram bem atingidos em comparação com os mais ricos, e têm uma taxa de prevalência de 4,1% contra 1,8%. A pesquisa dividiu a população em cinco estratos de renda. Da mesma forma, os indígenas detêm a maior taxa de infecções (5,4%) em relação aos demais grupos, e muito acima do 1,1% encontrado na população branca. Não houve diferenças marcantes entre homens e mulheres em relação ao risco de contrair o vírus.
Mas em relação ao risco de morrer, um levantamento do Ministério da Saúde na base de dados sobre Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) revelou que dos 54.294 registros de óbitos com confirmação para covid, 59% das vítimas fatais são homens – 71,4% têm mais de 60 anos e 35,5% têm cor parda. Das 148.785 internações por covid-19, metade se encaixa nesse perfil.
Voltando ao Epicovid-BR, a taxa de letalidade da doença no Brasil está na casa do 1,15%. Oficialmente, após as 535 novas mortes confirmadas ontem, o país acumula 64,9 mil vítimas fatais da covid-19. Em entrevista à Folha, o ex-secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson Oliveira, revelou que, em março, sua aposta para o início de julho era de 42 mil óbitos. A diferença entre essa projeção e a realidade tem a ver com a adesão ao distanciamento social. E a pesquisa nacional coordenada pela Universidade de Pelotas mostra que estamos piorando nesse quesito: entre maio e junho, a porcentagem de pessoas que afirmam ficar sempre em casa caiu de 23,1% para 18,9%. Já as que disseram sair diariamente saltou de 20,2% para 26,2%.
Outra projeção, feita pelo Ministério junto com a Organização Pan-Americana da Saúde (Opas), previa cem mil mortes por covid-19 até setembro, caso não fossem adotadas medidas de prevenção. O Palácio do Planalto foi avisado, garante o ex-secretário. Parece que estamos mais próximos de concretizar esse pior cenário. Ou ultrapassá-lo. “Se mantiver esse padrão, mesmo olhando a curva caindo ao longo do tempo, perto do fim do ano posso ter 110 mil, 120 mil”, previu Wanderson Oliveira.
Ainda não se sabe o que torna o coronavírus fatal para umas pessoas e pouco perigoso para outras; além da idade, de doenças pré-existentes e da desigualdade social, há fatores genéticos que estão sendo estudados. Um deles pode ser a existência de um trecho de DNA transmitido pelos neandertais há 60 mil anos, segundo um estudo publicado neste fim de semana (ainda sem revisão de pares). Não se sabe ainda por que ele gera agravamento. É possível que, há dezenas de milhares de anos, esse pedaço de DNA proporcionasse benefícios, talvez até contra outros vírus: talvez essa resposta imune funcionasse bem antigamente, mas seja exagerada contra o novo coronavírus.
A mesma vacina de Oxford que começou a ser testada no Brasil também terá ensaios clínicos na África do Sul. Mas, por lá, houve intensas manifestações contra os testes. A desconfiança tem sua razão de ser. “Houve algumas pesquisas relativamente recentes que mostraram uma grande revogação da ética – um abandono completo dos princípios éticos. Em particular, durante o apartheid, havia um ramo inteiro do governo dedicado ao que os médicos que o administravam chamavam de “guerra contra pessoas anti-apartheid”. Um de seus objetivos declarados – declarado abertamente – era desenvolver contraceptivos que pudessem ser administrados clandestinamente aos negros e torná-los inférteis sem o seu conhecimento”, lembra Harriet Washington, professora de bioética da Universidade de Columbia, em entrevista à NPR. Houve mais: “Também foram administrados agentes prejudiciais às pessoas – venenos.(…). Se eu morasse na África do Sul, também ficaria cautelosa“, diz.
Harriet ainda critica o fato de que esses testes estejam sendo noticiados no Brasil como um grande benefício para o país ou mesmo para os voluntários que vão tomar a picada. Afinal, não há nenhuma garantia de nada. Se houvesse, nem seriam necessários ensaios…
Prefeitos e secretários de saúde estão insatisfeitos com a distribuição feita pelo Ministério da Saúde da verba de R$ 11,3 bilhões para o combate ao novo coronavírus. Segundo a coluna Painel, da Folha, a avaliação é que houve vantagem de cidades menores e discrepâncias, apesar de a pasta informar que a população era um dos critérios de rateio. Curitiba (1,9 milhão de habitantes) receberá quase R$ 113 milhões. Já Recife (1,6 milhão) ficará com cerca de um terço: R$ 35 milhões. Capitais como Manaus (AM), Rio Branco (AC), Aracaju (SE) e Palmas (TO) receberão menos verbas por habitante do que os outros municípios de seus estados. Já no Piauí, todas as cidades vão receber mais do que a média nacional.
“Prefeitos e secretários dizem, reservadamente, acreditar que o dinheiro esteja ajudando a irrigar a política paroquial no interior em ano de eleição municipal”, dizem Mariana Carneiro e Guilherme Seto. As verbas foram liberadas na última quinta-feira depois de uma negociação de semanas envolvendo o Ministério da Saúde, a Secretaria de Governo, os gestores e o Centrão.
Por outro lado, os prefeitos estão preocupados com as verbas da educação. Com as escolas fechadas, afirmam não conseguir gastar os recursos e correr o risco de não aplicar o valor mínimo (25%) previsto pela Constituição para a área. A ideia é tentar flexibilizar essa regra em 2020 via PEC no Congresso Nacional. É um movimento bastante arriscado que pode, é claro, acabar abrindo caminho para uma flexibilização eterna – como já previa uma outra proposta (“PEC do Pacto Federativo”) enviada ao Senado pelo governo federal no ano passado.
Falando em educação, depois da recusa de Renato Feder feita pelas redes sociais ontem há novo nome na bolsa de apostas para assumir o MEC. Trata-se de Ilona Becskehazy, atual secretária de Educação Básica da pasta. Ela também tem uma história curiosa: vinda das entidades que defendem as pautas empresariais na educação (foi diretora da Fundação Lemann) participou da campanha de Ciro Gomes (PDT). Mas passada as eleições, ela passou a apoiar Jair Bolsonaro e sua atuação lhe rendeu o convite de Abraham Weintraub para integrar o Ministério. Por conta disso, ela – diferente de Feder – teria o apoio da ala olavista.
A ciência brasileira pode ser responsável pelo terceiro caso da história de eliminação do vírus HIV. Nos dois primeiros casos, os pacientes foram submetidos a um transplante de medula óssea. Mas o estudo conduzido pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) busca testar um “supertratamento” em que o coquetel de medicamentos antirretrovirais é combinado com outros quatro remédios, seguido de uma vacina personalizada, feita com o DNA de cada paciente. O estudo global começou em 2013 e, desde então, acompanhou 30 homens que viviam com o vírus indetectável e que estavam em tratamento há mais de dois anos.
No sábado, começou a circular a notícia de que um desses pacientes está há 17 meses sem o HIV. O homem não quis se identificar, mas foi entrevistado pela CNN Brasil. O estudo é coordenado pelo infectologista Ricardo Sobhie Diaz e está paralisado devido à pandemia. Mas deve contar ainda com mais uma fase, com 60 pessoas, incluindo mulheres. Ainda não há muita informação a respeito, mas vamos ficar de olho.
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Uma nova forma de transmissão da covid-19? - Instituto Humanitas Unisinos - IHU