12 Mai 2020
“Nos nossos tempos, a credibilidade das religiões depende em grande parte do seu compromisso com a paz através do diálogo inter-religioso e do testemunho comum, em vista dos grandes desafios contemporâneos.” Foi assim que o Patriarca Ecumênico de Constantinopla Bartolomeu I enfatizou a importância da colaboração entre as diversas confissões religiosas no aniversário do Documento sobre a Fraternidade Humana, assinado em Abu Dhabi no dia 4 de fevereiro do ano passado pelo Papa Francisco e pelo Grão-Imã Ahmad al-Tayyeb, de al-Azhar.
A reportagem é de Stefania Falasca, publicada em Avvenire, 09-05-2020. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Indicando como bússola a cultura do diálogo, a colaboração eficaz e o conhecimento recíproco, Bartolomeu I lembrou que “a fé – como lemos no próprio prefácio do documento – sempre leva o crente a ver no outro um irmão a ser apoiado e amado”.
É essa credibilidade que hoje continua a ser proposta no convite dirigido a todos os fiéis, para que juntos atuem ativamente na construção da única família humana em uma cultura do respeito e da solidariedade.
E é exatamente a isso que os nossos tempos nos convidam, tempos de grandes desafios, marcados pela pandemia. A hora que o mundo inteiro está passando é também o momento oportuno “para demonstrar de maneira positiva que a família humana pode conviver fraternamente”.
Porque “a fé – como afirma ainda o Patriarca Ecumênico de Constantinopla – não isenta os humanos das suas responsabilidades no mundo e pelo mundo”. “Pelo contrário – lembra – a fé, para os verdadeiros crentes, deve ser um pressuposto para se aproximar justamente da realidade terrena e das suas contradições: para resistir à injustiça e a todas as tendências que minam a coesão social; para exercer uma crítica sobre a declaração dos indicadores econômicos e do lucro como critérios absolutos da atividade econômica; e para rejeitar a subordinação do ser humano à tirania das necessidades e à transformação até das crianças em consumidores sempre insatisfeitos”.
Portanto, é precisamente ao longo dessa trajetória compartilhada pelo sucessor do apóstolo André que o Papa Francisco aderiu à iniciativa do Dia Mundial de Oração previsto para o próximo dia 14 de maio, “para salvar o mundo inteiro das repercussões sanitárias, econômicas e humanas da grave pandemia da Covid-19”, proposta pelo Alto Comitê da Fraternidade Humana, composto por sete líderes religiosos que se inspiram no histórico documento de Abu Dhabi.
“A pandemia é uma oportunidade para enraizar no nosso futuro o valor da fraternidade e da coexistência comum”, disse o cardeal Miguel Angel Ayuso Guixot, presidente do Pontifício Conselho para o Diálogo Inter-religioso e presidente do Alto Comitê, comentando a vontade do papa de acolher a proposta de um dia comum de oração, de jejum e também de obras de caridade.
Um conceito que foi fortemente reiterado na entrevista concedida nesse domingo, 10, ao jornal Avvenire, na qual ele destacou como “o mundo nos pede fraternidade, solidariedade e paz”, definindo o encontro do dia 14 de maio como “um marco para o diálogo entre as religiões”.
O Alto Comitê está tentando, com base justamente no documento assinado em Abu Dhabi, continuar esse caminho de busca a paz também através da solidariedade, para enfrentar a crise humana e humanitária “na qual somos todos protagonistas e sofremos juntos com quem está sofrendo”.
“Com nuances e práticas sensivelmente diferentes entre si – afirma o cardeal Ayuso Guixot – a oração, de todos os modos, nos predispõem a um ato de amor aberto ao bem do outro e à aceitação. E não é pouco! Jejum e obras de caridade são atos individuais e também comunitários, que exigem uma verdadeira responsabilização e consciência da ação a ser realizada. E esse me parece ser um ponto importante para o “pós-Covid”.
O comitê, criado em agosto de 2019 para implementar os objetivos do documento com programas e iniciativas, realizou a sua primeira reunião no dia 11 de setembro passado na Casa Santa Marta. O papa havia encorajado os membros chamando-os de “artesãos da fraternidade”.
A fraternidade não se refere exclusivamente ao próprio grupo, à própria comunidade, cultura e religião, mas inclui a todos: não é uma abstração, é a dinâmica concreta, como sugere o documento, com a qual se superam as diferenças e se constroem “pontes de convivência para um mundo novo”.
Em um encontro em Genebra, no dia 17 de setembro passado, no texto lido pelo arcebispo Ivan Jurkovic, observador permanente da Santa Sé junto às Nações Unidas em Genebra, enfatizava-se que o Documento sobre a Fraternidade Humana é um “marco” no caminho do diálogo inter-religioso: ele marca o caminho percorrido juntos, mas também é “um ponto de partida”. Não é um mapa, mas sim “um compromisso cotidiano” de trabalhar juntos para promover o bem comum e contribuir, como crentes e ao mesmo tempo com pessoas de boa vontade, “para curar o nosso mundo ferido”.
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14 de maio - Dia de Oração e Jejum: “É hora dos grandes desafios”, afirma Patriarca Bartolomeu - Instituto Humanitas Unisinos - IHU