22 Janeiro 2020
O digital consome muitos metais, cuja extração tem um forte impacto ambiental e está se tornando escassa. Existem soluções para evitar a escassez e reduzir a poluição.
A reportagem é de Antoine de Ravignan, publicada por Alternatives Économiques, n. 397, edição de janeiro de 2020. A tradução é de André Langer.
Índio e germânio. Ouro e prata. Tântalo e lantânio. Um smartphone condensa quase todos os elementos da tabela periódica no bolso. Ele contém cerca de sessenta, incluindo quarenta metais. Se a humanidade viveu há milênios com um punhado de minerais diferentes, a implantação do digital em um quarto de século repousa sobre uma gama extremamente vasta. Longe de nos libertarmos das matérias extraídas das entranhas da Terra, nossas sociedades ditas desmaterializadas são mais do que nunca dependentes delas. Uma dependência que é sinônimo de vulnerabilidade, no que diz respeito à disponibilidade dos recursos, por um lado, e dos impactos de sua extração e processamento, por outro.
A grande diversificação dos metais utilizados deve-se em parte aos avanços do digital, principalmente a miniaturização. “Os capacitores já foram feitos de alumínio e papel mata-borrão. Hoje, são objetos minúsculos, produzidos a base de tântalo ou paládio”, indica Philippe Bihouix, engenheiro e autor de vários livros sobre os impactos da economia digital. O neodímio, um metal que pertence ao grupo dos lantanídeos, ou metais de terras raras, possui propriedades que permitem aumentar o poder dos ímãs permanentes ou, inversamente, miniaturizá-los em potência equivalente. Assim, é possível produzir microfones, alto-falantes e motores liliputianos. O índio tem a vantagem de ser condutor e transparente: um elemento-chave das telas sensíveis ao toque... As quantidades necessárias para fabricar cada unidade podem ser muito pequenas, mas multiplicadas por 4,5 bilhões de smartphones, 500 milhões de televisores, 600 milhões de computadores de mesa, laptops, tablets e outros monitores colocados no mercado nos últimos cinco anos [1], isso começa a ser muito.
Obviamente, esses materiais não são os únicos envolvidos. “O silício é um componente importante no digital, mas a maior parte da extração vai para a metalurgia e os silicones”, recorda Olivier Ridoux, professor da Universidade de Rennes I e membro do EcoInfo [2]. O digital representa apenas 6% do consumo mundial de cobre [3]. Mas, para o estanho – usado em soldas –, essa participação aumenta para 35%. E, continua Olivier Ridoux, torna-se muito majoritário em alguns casos: 60% para o tântalo ou 80% para o índio.
Esses metais eventualmente acabarão? Para o ouro, a prata ou o estanho, a relação entre reservas e produção anual (R/P) é entre quinze e vinte anos. Antoine Boubault, pesquisador do BRGM (Bureau de Recherches Géologiques et Minières), lembra, no entanto, o caráter relativo desses números: “A noção de reserva corresponde a recursos identificados e considerados exploráveis de acordo com as condições técnicas, econômicas e ambientais do momento. E essas condições estão mudando constantemente!” Para o cobre, a maioria das reservas de alta concentração foi extraída e a qualidade do minério é muito menor do que no passado. No entanto, a produção continua atendendo à crescente demanda. “No final, durante várias décadas, as reservas de cobre foram estimadas em cerca de trinta a quarenta anos”, observa o pesquisador. Se a relação R/P começar a cair rapidamente, os preços subirão, o que poderia justificar o reinvestimento na exploração e, por sua vez, levar à identificação de novas reservas. “A previsão é um exercício muito incerto”, observa Antoine Boubault.
Especialmente porque a “criticidade” dos materiais não é apenas uma questão de raridade física. Muitos outros fatores devem ser levados em consideração, como a localização das minas (o caso do cobalto e do tântalo em um país instável como a República Democrática do Congo) ou a aceitação social da extração (geralmente inversamente proporcional ao nível de riqueza). Uma mina, lembra Olivier Ridoux, modifica inevitavelmente as redes hidrográficas: a água tende a se infiltrar no local da extração, pode reagir quimicamente com minerais e ser levada aos aquíferos. E após a extração da rocha, vem seu tratamento para isolar os metais: uma descarga de energia (fóssil), de água e de produtos químicos cujos efluentes acabam com frequência na natureza.
As famosas terras raras não são tão raras: elas estão presentes em todos os lugares da crosta terrestre, mas em níveis muito baixos de concentração. Se a China é o maior produtor (85% do mercado mundial), não é apenas uma história de geologia: é também que este país aceita (e impõe às populações vizinhas) os elevadíssimos custos ecológicos de uma atividade estratégica para sua economia, enquanto se esforça hoje para reduzi-las através de um melhor controle.
Limitar os impactos ambientais e enfrentar a eventual ameaça, com o tempo, a escassez física requer o controle do consumo de metais brutos. Tornar sistemática a reciclagem dos aparelhos em fim de vida útil? Isso é essencial, mas continua sendo uma solução parcial. De fato, é relativamente fácil recuperar o que está em escala macroscópica ou que tem alto valor econômico: metais ferrosos, ouro, cobre, prata, às vezes platinoides... Aliás, conseguiríamos mais e melhores condições sociais e ambientais, se os processos de reprocessamento fossem melhor controlados e organizados. E se houvesse mecanismos para garantir a rentabilidade. Hoje, eles absorvem apenas 50% dos resíduos dos equipamentos elétricos e eletrônicos em toda a França, 10% em todo o mundo. Por outro lado, para metais presentes no estado microscópico (európio, neodímio, índio etc.), sua recuperação é extremamente difícil, se não impossível. “No final, ela não é menos poluente e consumidora de energia do que se tratássemos minério bruto”, indica Olivier Ridoux.
Nessas condições, “a primeira maneira de limitar a extração é fabricar menos aparelhos e trocá-los com menos frequência, resume Philippe Bihouix. Devemos aumentar sua vida útil, aumentar sua reparabilidade, mas também lutar contra a obsolescência dos desejos criados pelo marketing e reduzir a obsolescência sistêmica”. A partir de 20 de janeiro, a Microsoft não fornecerá mais manutenção e atualizações para o Windows 7, o que poderá tornar 400 milhões de máquinas obsoletas [4]. No entanto, não há nenhuma razão física para que um PC ou um smartphone dure menos que um carro.
Sem uma intervenção pública forte (obrigação de tornar os dispositivos mais facilmente reparáveis, garantia estendida por vários anos, alta tributação sobre o consumo de recursos e sobre o desperdício final, sensibilização sobre a sobriedade nas escolas, etc.), será impossível estender a vida útil dos objetos e fazer surgir uma cadeia de reparação, acrescenta Olivier Ridoux. O recente pedido de administração judicial da empresa Remade, localizada perto de Avranches e especializada em recondicionamento de smartphones, ilustra isso [5]. Os metais representam dois euros no preço de venda de um novo smartphone, lembra Philippe Bihouix. Nesse nível, não devemos esperar que a chamada economia imaterial valorize espontaneamente o uso racional da matéria.
[1] Introduction aux impacts environnementaux du numérique.
[2] EcoInfo – Pour une informatique éco-responsable.
[3] Pelo menos se a fiação não for levada em consideração.
[4] When Windows 7 Dies, Don't Rely on Microsoft to Keep Your PC Safe.
[5] Remade : le champion du reconditionnement de smartphones est en panne.
O Instituto Humanitas Unisinos – IHU promove o XIX Simpósio Internacional IHU. Homo Digitalis. A escalada da algoritmização da vida, a ser realizado nos dias 19 a 21 de outubro de 2020, no Campus Unisinos Porto Alegre.
XIX Simpósio Internacional IHU. Homo Digitalis. A escalada da algoritmização da vida.
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Os impactos sociais e ambientais dos metais raros na era do digital - Instituto Humanitas Unisinos - IHU