20 Janeiro 2020
"O cristianismo de hoje, em sua atual situação de dificuldade e desorientação, deveria se lembrar mais frequentemente desse episódio: melhor perto de Deus na precariedade do deserto do que longe de Deus na segurança da Terra Prometida. Sem esse acompanhamento "de perto", não há povo de Deus, não há missão evangelicamente orientada, não há bênção para todos os povos da terra".
A opinião é do teólogo e pastor valdense Eugenio Bernardini, foi moderador da Mesa Valdense, o órgão representativo e administrativo da Igreja Valdense. O artigo foi publicado por Il Fatto Quotidiano, 19-01-2020. A tradução é de Luisa Rabolini.
Que a prática religiosa na Itália (e na Europa) esteja em queda livre não é apenas dito pelas pesquisas sociológicas, mas também a experiência cotidiana de todos nós. Lembro-me de uma mãe muito zangada, em frente à escola da minha filha, que contava a outra mãe a "pretensão" do pároco de que o filho fosse à missa algumas vezes para se preparar para a confirmação: "Mas não basta que ele já está indo ao catecismo?". Simplesmente não entendia. E também no âmbito protestante as coisas não são muito diferentes. A verdade é que a fé, especialmente a fé cristã, é cada vez menos uma questão de tradição e hábito e cada vez mais uma escolha pessoal. O que incide nos números. Bom para alguns, ruim para outros.
Entre as leituras bíblicas propostas para este domingo pelo lecionário Un giorno una parola (ed. Claudiana), encontramos a passagem de Êxodo 33,12-23, na qual Moisés implora a Deus que continue a acompanhar seu povo na longa jornada da escravidão do Egito à liberdade da terra prometida. O que tinha acontecido? Tinha acontecido que, após a fuga milagrosa do Egito e uma longa jornada no deserto, o povo acampou aos pés do Monte Sinai, onde havia recebido as tábuas da Lei (Êxodo 20), mas onde também havia traído a confiança no Deus libertador, adorando um ídolo que havia sido representado com a estátua de um bezerro de ouro (Êxodo 32).
A crise é superada dramaticamente, mas, como nos relata o livro de Êxodo, Deus começa a duvidar poder educar esse povo para ter uma relação leal e confiante com ele. Portanto, decide fazê-lo partir para a Terra Prometida sem ele, mas apenas com o acompanhamento de "um anjo" (33,2). A promessa de Deus, portanto, permanece e será cumprida, mas a sua presença no meio do povo não será plena, mas parcial, não mais próxima, mas distante, pois delegada a um anjo. Por que razão? Porque: “Vocês são um povo obstinado. Se eu fosse com vocês, ainda que por um só momento, eu os destruiria" (33,5).
Moisés não sabe o que fazer. Partir ou não partir? Até lá eles tinham chegado, Deus continua cumprindo sua promessa de levá-los a uma terra onde "emana leite e mel", mas o que acontecerá depois? Que futuro esse povo terá? Poderá e saberá viver sem ser acompanhado "de perto" pelo seu Deus? Moisés sabe que essa presença próxima é vital para ele e para o povo recém-libertado. Então decide lhe dizer: "Se você não vier também, eu não vou me mexer". Moisés não quer liderar um povo de Deus que perdeu Deus pelo caminho! “Se não fores conosco não nos envies. Como se saberá que eu e o teu povo podemos contar com o teu favor, se não nos acompanhares?" (33,15-16).
Como Deus responde? Mais uma vez, ele ouve a oração de Moisés: "Farei o que me pede, porque tenho me agradado de você e o conheço pelo nome" (33,17). Deus continuará caminhando ao lado de seu povo. Moisés não deu como garantida a presença de Deus, e talvez também por essa razão a receba. E isso não acontece por méritos particulares, mas apenas pela "graça". Moisés entendeu isso e apelou a essa graça em sua oração a Deus: três vezes pronuncia essa palavra e, nesse diálogo, três vezes Deus a pronuncia.
O cristianismo de hoje, em sua atual situação de dificuldade e desorientação, deveria se lembrar mais frequentemente desse episódio: melhor perto de Deus na precariedade do deserto do que longe de Deus na segurança da Terra Prometida. Sem esse acompanhamento "de perto", não há povo de Deus, não há missão evangelicamente orientada, não há bênção para todos os povos da terra.
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É melhor estar perto de Deus no deserto do que longe dele na Terra Prometida - Instituto Humanitas Unisinos - IHU