O estreito vínculo entre fé e confiança

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04 Dezembro 2019

"Não se trata de acreditar que a humanidade seja naturalmente boa ou que uma nova estrutura política e social colocará fim à maldade, mas sim acreditar na possibilidade de se humanizar cada vez mais, de combater a injustiça e a violência, de encontrar caminhos de paz e liberdade que não excluam ninguém, mas que levem particularmente em conta os fracos, os menos favorecidos e os indefesos, sempre presentes na sociedade", escreve Enzo Bianchi, fundador da Comunidade de Bose, em artigo publicado por La Repubblica, 02-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

É cada vez mais urgente que nossa sociedade recupere a confiança, uma fé comum, isto é, uma convicção, uma adesão a princípios e valores compartilhados. Toda sociedade pode viver e reunir seus membros em torno de um horizonte comum; caso contrário, mais cedo ou mais tarde será votada à deterioração e, portanto, à decomposição.

Essa confiança comum deve ser a fé no humano, nos homens e nas mulheres reais que hoje vivem lado a lado nesta nossa terra europeia. A democracia morre quando o partido dos "sem confiança" se torna majoritário, porque a convivência civil é filha do acreditar uns nos outros.

Não se trata de acreditar que a humanidade seja naturalmente boa ou que uma nova estrutura política e social colocará fim à maldade, mas sim acreditar na possibilidade de se humanizar cada vez mais, de combater a injustiça e a violência, de encontrar caminhos de paz e liberdade que não excluam ninguém, mas que levem particularmente em conta os fracos, os menos favorecidos e os indefesos, sempre presentes na sociedade.

Nenhuma concorrência entre a fé dos crentes cristãos em seu Deus e a fé no homem, também porque esta última é sempre vontade de fraternidade universal e princípio de esperança, como afirmava Ernst Bloch. Na verdade, de acordo com a mensagem cristã, apenas sobre uma transparente fé no homem, a fé em Deus pode se inserir, porque, se não há fé nos homens e nas mulheres que podemos ver, não pode haver fé em um Deus que não se consegue ver.

Essa fé-confiança nos seres humanos é gerada pelo olhar o rosto do outro, pela escuta do outro, pela mão estendida que espera por um aperto; não está na ordem das ideias, mas vem da vivência, da experiência. A primeira tarefa de quem ensina é, portanto, transmitir confiança, confiar, mostrando pessoalmente ser digno de confiança. Justamente a falta de confiança permite a multiplicação e o crescimento dos medos, porque o oposto da confiança é o medo, e os medos criam o inimigo, facilmente identificável pela comunidade naqueles que são diferentes: o estrangeiro, o cigano, o judeu, aquele que tem uma orientação sexual diferente, que é pobre demais para ser visto e suportado. Crer significa quebrar preconceitos, ir ao encontro do outro e trocar palavras, e é dessa maneira que se acredita em si mesmos e nos outros, porque somente confiando nos outros cada um desenvolve e afirma a própria identidade.

Sem a operação de acreditar no outro não há acesso ao amor: o que é uma história de amor senão uma história de confiança? Como Hannah Arendt escreveu: "Existe um futuro para a polis, se houver nela cumplicidade em acreditar, confiar uns nos outros".

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