03 Novembro 2019
A homilia do papa: as Bem-aventuranças são a nossa carteira de identidade de cristãos. “Ainda hoje muitos irmãos perseguidos são forçados a permanecer nas catacumbas.”
A reportagem é de Mimmo Muolo, publicada por Avvenire, 03-11-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Nas catacumbas de Priscilla, há inúmeras representações pictóricas. E talvez justamente por isso o papa, tendo descido pela primeira vez em uma catacumba (como ele mesmo admitiu no início da sua homilia), quis esboçar uma espécie de “retrato” em “três palavras” do cristão.
Identidade, isto é, as Bem-aventuranças e Mateus 25 (na prática, o juízo universal), carteira de identidade, precisamente, de todos os que creem em Cristo.
Lugar: “O cristão não tem um lugar privilegiado. O lugar mais seguro é nas mãos de Deus chagadas de amor”.
E esperança: “A nossa esperança está no céu, a nossa esperança está ancorada lá. Nós, com a corda nas mãos, apoiamo-nos e olhamos para aquela margem, o rio que devemos atravessar”.
Foi assim que Francisco se expressou, nesse sábado à tarde, na missa de comemoração de todos os fiéis falecidos, celebrada no antigo local de culto e de sepultamento ao longo da Via Salaria. Não sem lembrar, na homilia proferida de improviso, que as “catacumbas” também existem neste século XXI.
“Para mim, é a primeira vez na vida que eu entro em uma catacumba”, começou. “É uma surpresa, isso nos diz tantas coisas. Podemos pensar na vida dessas pessoas que tinham que se esconder. É um momento feio da história, mas ainda não foi superado. Ainda hoje existem tantas situações assim.”
Há países, ressaltou o pontífice, em que “as pessoas devem fingir que estão fazendo uma festa, um aniversário, para celebrar a Eucaristia, porque naquele país isso é proibido. Ainda hoje existem cristãos perseguidos, são mais do que nos primeiros séculos”.
Nesse sentido, Francisco citou o exemplo “daquela freira que estava em um campo de reeducação na Albânia e batizava em segredo. Os cristãos sabiam que essa freira batizava, e as mães se aproximavam com a criança. A freira não tinha um copo. Pegava a água do rio com os sapatos e batizava”.
Para o papa, “a identidade dessas pessoas que se reuniam aqui para celebrar a Eucaristia, para louvar ao Senhor é a mesma dos países onde hoje ser cristão é crime, é proibido, não é um direito”. Por isso, o bispo de Roma introduziu o discurso com as três palavras.
Quanto ao lugar dos cristãos, por exemplo, Francisco desenvolveu o seu raciocínio: “O lugar do cristão é em toda parte. Não temos um lugar privilegiado na vida”. Quem tem um lugar de privilégio, advertiu o papa, são “os cristãos qualificados, mas correm o risco de permanecer qualificados, fazendo cair o ‘cristão’. O lugar do cristão é nas mãos de Deus que são chagadas de amor, são as mãos do Filho que quis levar consigo as chagas para mostrá-las ao Pai e interceder por nós. Lá estamos seguros, aconteça o que acontecer. Seremos bem-aventurados se nos perseguirem, disserem tudo contra nós, mas, se estivermos nas mãos de Deus, estaremos seguros”.
O pontífice, depois, se concentrou na identidade: “A identidade são as Bem-aventuranças. ‘Não, veja, eu pertenço a esta associação...” Todas coisas boas, mas são fantasias diante dessa realidade. A tua carteira de identidade é esta: ou tu vives assim ou não és cristão, foi o Senhor quem disse. ‘Sim, mas não é fácil...’ Há outro trecho do Evangelho que nos faz entender melhor: é Mateus 25, o ‘grande protocolo’ segundo o qual seremos julgados. Com essas duas passagens do Evangelho, as Bem-aventuranças e o ‘grande protocolo’, nós daremos a ver a nossa identidade de cristãos. Sem isso, não há identidade, há a ficção de ser cristão”.
Portanto, é assim que “esses cristãos, com essa carteira de identidade, que viviam e vivem nas mãos de Deus, são homens e mulheres de esperança”. Por isso, a terceira palavra da homilia é precisamente esperança: “Aquela visão final onde tudo é refeito, a Pátria para onde todos nós iremos. E, para entrar lá, não são necessárias coisas estranhas ou atitudes um pouco sofisticadas: é preciso apenas mostrar a carteira de identidade: ‘Está tudo certo, siga em frente’”.
No fim da missa, o papa se dirigiu às Grutas da Basílica Vaticana para um momento de oração em particular, pelos pontífices falecidos.
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“Seguros nas mãos de Deus”: a primeira vez do papa em uma catacumba - Instituto Humanitas Unisinos - IHU