03 Outubro 2019
"A Associação de Teólogas e Teólogos João XXIII estima como oportuno, adequado e necessário o pensamento teológico do papa Francisco sobre uma igreja de saída às periferias, que põe em valor a acolhida, a misericórdia, o perdão, a pluralidade e a igualdade diferente, e não a norma, o templo como casa exclusiva dos clérigos, a condenação a quem pensa diferente, o anátema contra as realidades novas".
A carta de solidariedade ao papa Francisco é da Associação de Teólogas e Teólogos João XXIII, publicada em 30-09-2019. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
A Associação de Teólogas e Teólogos João XXIII não pode ser indiferente ante os ataques injuriosos e, com frequência, infundados, ao papa Francisco por parte de certos cardeais, bispos, clérigos e de setores eclesiais conservadores. Se pode estar em desacordo com o que diz e faz o papa Francisco, um ser humano com responsabilidade eclesial como qualquer outro com responsabilidades civis ou eclesiais, porém deve se fazer desde o encontro e a fraternidade cristã, como ressaltou ele mesmo na conferência de imprensa no avião de volta da sua viagem pela África, e, sobretudo, desde uma sólida argumentação teológica de acordo com a mensagem e a prática de Jesus de Nazaré; mais na linha do Vaticano II e menos na do Vaticano I e da encíclica Vehmenter Nos, de Pio X.
O papa Francisco foi chamado de herege, de luterano, de olhar para outro lado no caso da pedofilia nos EUA, de que acolhe os homossexuais, lésbicas, migrantes, pessoas refugiadas, etc. Sem dúvidas, a pós-verdade subjaz a essas posição e, principalmente, uma eclesiologia fundamentada na norma, no direito canônico, que para muitos dos clérigos antipapa são “normas e leis divinas”, onde se ressalta a supremacia dos clérigos e não nas vivências crentes de uma Igreja que, como testemunha do Ressuscitado, se consideram um Nós, uma Comunidade de iguais onde há pluralidade de carismas. O papa Francisco insiste nessa linha teológica em seus diferentes escritos, como na carta ao cardeal Ouellet: “O clericalismo se esquece que a visibilidade e a sacramentalidade da Igreja pertencem a todo o Povo de Deus (cf. LG 9-14). E não somente a alguns poucos eleitos e iluminados”.
A Associação de Teólogas e Teólogos João XXIII estima como oportuno, adequado e necessário o pensamento teológico do papa Francisco sobre uma igreja de saída às periferias, que põe em valor a acolhida, a misericórdia, o perdão, a pluralidade e a igualdade diferente, e não a norma, o templo como casa exclusiva dos clérigos, a condenação a quem pensa diferente, o anátema contra realidades novas (com razão dizia Teilhard de Chardin que as novas realidades sociais e culturais são para a Igreja como heresias), como os anátemas do Syllabus do papa Pio IX. É nesse território onde se situam os que rechaçam aberta ou caladamente tudo o que o papa Francisco diz ou faz. Atuam, sem dúvidas, desde uma miopia teológica e, sobretudo, de costas ao Evangelho de Jesus de Nazaré, que acolhia as pessoas marginalizadas, desvalidas, às mulheres prostitutas, aos leprosos, aos publicanos.... colocando em destaque que o teste do “exame final” não será outro, senão que perguntar se deu de comer ao faminto, se acolheu ao peregrino e ao estrangeiro, se cuidou do doente e do necessitado... (Mt 25, 35-39) e não se cumpriram as normas de ir à missa todos os domingos, confessar e comungar pela Páscoa florida, não comungar se está divorciado, submeter-se a tratamento psicológico no caso da homossexualidade, rezar o rosário todos os dias...
A Associação de Teólogas e Teólogos João XXIII, estimando que a crítica dentro da Igreja é enriquecedora, conveniente e necessária, sempre que se faça desde posições de encontro e da fraternidade, quer ressaltar seu apoio solidário ao papa Francisco por seus esforços em que a Igreja seja o Reino de Deus na terra, aberta a todos os homens e mulheres que têm como referência Jesus de Nazaré, onde imperem os valores evangélicos das bem-aventuranças e não a lei a norma, por muito divina que a considere, posto que “o sábado foi feito para o ser humano e não o ser humano para o sábado” (Mc 2, 27).
Valorizamos muito positivamente as encíclicas Evangelii Gaudium e Amoris Laetitia, assim como a crítica do papa Francisco ao modelo econômico atual injusto em sua raiz e gerado de população excedente, a defesa do cuidado da Casa Comum na encíclica Laudato Si’. Sobre o cuidado da Casa Comum e a convocatória do Sínodo sobre a “Amazônia, novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”.
Madri, 30 de setembro de 2019.
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Apoio solidário ao Papa desde o mundo teológico - Instituto Humanitas Unisinos - IHU