15 Agosto 2019
"Por seu incansável apostolado, Dom Helder é de fato um dom para a Igreja e como tal deve ser lembrado!", escreve Fábio Pereira Feitosa, historiador e especialista em Educação.
A década de 1960 foi um momento histórico marcado por conturbações políticas e sociais a nível de Brasil, bem como a nível internacional, eram os tempos da Guerra Fria, o mundo estava dividido em duas zonas de influência, de um lado tínhamos os Estados Unidos da América que liderava a ala capitalista, no outro extremo tínhamos a União das Repúblicas Soviéticas, líder do bloco comunista. Além dessa divisão, o mundo estava em constante alerta para o perigo eminente de uma guerra nuclear entre as duas principais potências mundiais.
Naquela conjuntura a Igreja Católica vivia o clima do Concílio Ecumênico Vaticano II (1962-1965), convocado por João XXIII e continuado por Paulo VI. Tal concílio é apontado como sendo a mais ampla reforma realizada no interior da Igreja, sendo ela responsável pelo estabelecimento de uma nova fase na história desta instituição, tendo esta como característica o diálogo com o mundo moderno.
Em virtude do caráter hierárquico da Igreja, o Vaticano II foi de suma importância para o reconhecimento e legitimação de certas vertentes presentes interior desta instituição, tais movimentos anteciparam o Concílio no que diz respeito ao diálogo com o outro, assim, estes grupos já buscavam uma Igreja aberta ao mundo ou como sempre fala o Papa Francisco “uma Igreja em Saída” e que abraça e se engaja em questões sociais.
Ao analisarmos os impactos das diretrizes conciliares, perceberemos que estas influenciaram profundamente a Igreja Latino-americana, sobretudo a do Brasil, na qual bispos como Dom Helder Câmara, Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Pedro Casaldáliga, Dom José Maria Pires, Dom Adriano Hipólito, Dom Luciano Mendes, Dom Fragoso e Dom Tomás Balduíno, além de pastores foram profetas e como tal incomodaram os donos do poder. Embora o leque seja rico, neste texto iremos abordar apenas a figura de Dom Helder Pessoa Câmara ou simplesmente: O Dom.
Dom Helder, nasceu em Fortaleza – CE, no ano de 1909 e ingressou no Seminário Diocesano em 1923 e recebeu o sacramento da ordem em 1931, com apenas 22 anos. No ano de 1936, padre Helder foi transferido para o Rio de Janeiro. Em 1952, por indicação de Dom Jaime Câmara, até então arcebispo do Rio de Janeiro, padre Helder foi eleito Bispo. Como bispo dom Helder fundou a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) e o CELAN (Conselho Episcopal Latino-americano).
Dom Helder Câmara é tido como um dos protagonistas da Igreja Católica no Brasil no século XX, e desde 1964 era convidado para realizar palestras ao redor do mundo, além de ser reconhecido como uma liderança na luta pelos Direitos Humanos e manutenção da Paz Mundial. O arcebispo de Olinda e Recife consolidou-se como sendo um dos principais inimigos do regime militar brasileiro ao denunciar na França em maio de 1970 a pratica da tortura nos calabouços do regime. Em virtude dessa denúncia, as campanhas contra Dom Helder só aumentaram.
Em virtude de sua intensa militância na luta em prol dos direitos humanos no Brasil, Dom Helder passou a ser um dos alvos mais frequente de ataques e ameaças diretas e indiretas por parte do regime militar, sendo o caso mais grave a morte de um de seus assessores, o Padre Antônio Henrique Pereira Neto, morto no ano de 1969.
Dom Helder recebeu três indicações ao Prêmio Nobel da Paz: 1970; 1971 e 1973, a fim de inviabilizar a sua vitória o governo brasileiro desenvolveu diferentes estratégias, como: difamá-lo nos meios de comunicação social. Ao longo de sua trajetória Dom Helder recebeu inúmeros Títulos e Prêmio, todos ligados ao seu compromisso com a Paz e a Justiça Social. Por seu incansável apostolado, Dom Helder é de fato um dom para a Igreja e como tal deve ser lembrado!
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Dom Helder Câmara, um dom para a Igreja do Brasil - Instituto Humanitas Unisinos - IHU