30 Julho 2019
“O decrescimento teoriza o óbvio. Basicamente, que em um planeta finito é biofisicamente impossível que a economia cresça constantemente”, resume Luis I. Prádanos, Iñaki, como é chamado este professor de Humanidades Ambientais da Miami University (Ohio), especialista em decrescimento e a respeito do qual publicou o livro ‘Postgrowth Imaginaries’ [Imaginários do pós-crescimento, em tradução livre].
Conforme recorda Iñaki, o IPCC advertiu que contamos com 10 ou 12 anos para evitar as piores consequências. “Cada vez, as pressões pioram”.
A entrevista é de Pepa García, publicada por La Verdad, 24-07-2019. A tradução é do Cepat.
Por que urge a mudança?
Porque quanto mais rápido cresce a economia global, mais rápido os sistemas vivos planetários entram em colapso. O sistema econômico se baseia em energia e materiais, e em gerar lixo. Manter esse metabolismo e o ampliar cada vez a mais regiões é absurdo. De fato, se todos os habitantes da Terra usassem a energia e materiais das sociedades consumistas, necessitaríamos de 4 a 6 planetas. Quanto mais a lógica do crescimento constante se expande, menos possibilidades há de sobreviver de maneira digna no futuro. O que o decrescimento busca é que saiamos desse imaginário dominante para poder desenhar sistemas sociais e ecológicos viáveis, justos e mais desejáveis, que possam se manter no tempo.
Como seria essa mudança?
É muito complexo. Alguns conselhos são: relocalizar a economia para reduzir a dependência energética, retirar o sistema alimentar da dependência do petróleo, gerar modelos urbanos baseados na mobilidade ecológica, que não exista a publicidade para gerar necessidades inexistentes, e criar comunidades coesas, para viver melhor com menos, e autossuficientes, que seja assegurado o mínimo (água e alimento).
Mas, como sobreviveremos sem um crescimento constante?
Produzir mais é suicida, mas é parte do pensamento dominante. Caso se continue crescendo, colocamos os ecossistemas em colapso e afundamos ecologicamente em um planeta inabitável. E se não há crescimento, vem a recessão e entramos em colapso social. Neste sistema, aconteça o que acontecer, não podemos ganhar. É preciso gerar um sistema social, econômico e cultural que não seja viciado em crescimento. É preciso apostar em uma economia circular, com um metabolismo que melhore os ecossistemas em vez de deteriorá-los, que não gere desigualdade em seu funcionamento, que produza comida saudável sem gerar CO2. Sabemos fazer tudo isso, mas é preciso mudar o paradigma, e já está emergindo certa sensibilidade que questiona a lógica do crescimento.
Seria necessário transformar a economia completamente?
A mudança precisa ser também cultural. Seriam interessantes transformações políticas que gerem mudanças educacionais. Por exemplo, deixar de crescer exigiria repartir o trabalho para evitar o desemprego. Isto reduziria o consumo e o uso de carro, e teríamos mais tempo para o importante. Geraria uma espiral virtuosa. Mas, agora, quando você fala disso, é chamado de preguiçoso.
Mas, repartir o trabalho, implicará em maior precarização...
Claro, mas isso em um contexto que precariza o sistema trabalhista ou que não paga os custos ecológicos para que os lucros cresçam. A primeira coisa é redistribuir. Um estudo de 2017, revelou que 8 pessoas controlam mais riqueza que 50% da população global. Acho engraçado que digam que saem caros os auxílios aos dependentes. Estatisticamente, não é real. Caro é manter essas 8 pessoas. O mais simples é tributar o capital e as transações financeiras. E é o que não se faz.
Como se chega ao decrescimento?
Não sei, a solução deve ser coletiva, mas devemos tentar. Biofisicamente, podemos mudar de maneira transicional e socialmente justa ou esperar que entre em colapso e desemboque em ecototalitarismos, nos quais as elites manterão seus privilégios à custa de precarizar cada vez mais o restante em um contexto de colapso.
Tranquilize-nos. Já se está em ação?
As pessoas trabalham em soluções de maneira precária porque o sistema fomenta o contrário, como subsidiar a energia fóssil para a tornar artificialmente barata. O problema é que a realidade biofísica está se degradando, mas não enxergamos porque estamos olhando as telas. Pode ser que estejamos muito perto do ponto crítico da mudança. As pessoas estão cada vez mais cansadas deste hedonismo triste e deprimente.
Tudo diz que a mudança, se houver, será traumática e não tranquila.
O que é necessário é preparar as sementes o mais rápido possível, para que quando estivermos em situação limite, tenhamos certo acúmulo para avançar no desenvolvimento desejável.
Já entramos em pânico?
O medo paralisa, mas o tecno-otimismo não será a solução. A pensadora Yayo Herrero disse: “O medo só paralisa se você não sabe para onde correr”. Por isso, é necessário preparar o caminho para o qual correr. No pior dos casos, você será mais feliz porque terá uma comunidade mais coesa. No melhor, terá acúmulo para enfrentar a mudança.
O que fazemos, então?
Temos que assumir que, mudando tudo ou nada, iremos morrer da mesma forma. A diferença é evitar 80% de sofrimento desnecessário. O que queremos? Correr como idiotas para produzir mais até que entremos em colapso ou desfrutar deste tempo precioso.
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“Neste sistema, aconteça o que acontecer, não podemos ganhar”. Entrevista com Luis I. Prádanos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU