30 Junho 2019
“A Itália sempre foi um país um pouco caótico. Porém, no fim, sempre consegue reencontrar o seu caminho...” A voz de Bento XVI é pouco mais do que um sopro. As palavras saem lentamente, mas o olhar atento e penetrante mostra uma lucidez e uma rapidez de pensamento invejáveis para qualquer um: ainda mais em um homem com mais de 90 anos que é o primeiro papa emérito da história da Igreja Católica.
O comentário é de Massimo Franco, publicado por Corriere della Sera, 27-06-2019. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Encontrar Joseph Ratzinger é um privilégio raro, mesmo no Vaticano. A sua última aparição pública remonta a três anos atrás, no dia 28 de junho de 2016, quando o Papa Francisco quis lhe dirigir uma saudação calorosa pelos 65 anos de sacerdócio. Nesta sexta-feira, são 68. E, para a ocasião, ele permitiu ir vê-lo junto com Emilio Giannelli, cujas charges ele aprecia. Ele sorri ao observar os três desenhos levados como presente.
Para interceptar Bento fora da sua ermida, o convento onde ele vive desde a renúncia ao pontificado em fevereiro de 2013, é preciso entrar nos jardins vaticanos desertos. Sentado em um banco com Dom Georg Gänswein, prefeito da Casa Pontifícia e homem de ligação entre Francisco e o seu antecessor, ele é um ponto branco emoldurado pelo verde escuro das árvores. Ele é discretamente vigiado por policiais à paisana.
Em algumas dezenas de metros, um carro de golfe branco, elétrico, está estacionado. Estranho destino, o dele. Quanto mais o papa emérito se tornou invisível, mais cada palavra sua encontrou um eco poderoso e inesperado. Talvez porque ele cruzou e mostrou as inquietações de uma Igreja desorientada. E acabou sendo uma margem e, acima de tudo, uma barreira contra impulsos centrífugos que afloram intermitentemente.
Em abril, quando ele publicou as suas anotações sobre a pedofilia, com o acordo de Francisco, vazou um nervosismo inesperado. Alguns chegaram a difamar que ele não as escreveu. Na realidade, ele anotou, fatigosamente, três páginas por mês, entre novembro de 2018 e fevereiro de 2019; e ditou o texto em alemão à sua histórica secretária, a Ir. Birgit Wansing.
Mas a tensão confirma a dificuldade da convivência entre “dois papas”, nunca regulamentada. O problema paira, assim como permanece a preocupação de Bento XVI pela unidade da Igreja. “O papa é um, Francisco”, repete Ratzinger aos nostálgicos do seu pontificado. E, para aqueles que se encontram com ele, ele costuma responder que “a unidade da Igreja está sempre em perigo, há séculos. Esteve durante toda a sua história. Guerras, conflitos internos, forças centrífugas, ameaças de cismas. Mas, no fim, sempre prevaleceu a consciência de que a Igreja está e deve permanecer unida. A sua unidade sempre foi mais forte do que as lutas e as guerras internas”.
O encontro com Bento XVI ocorreu no sábado, 22 de junho, no fim da tarde.
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Bento XVI: um fio de voz, mas com palavras lúcidas para tranquilizar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU