24 Mai 2019
"Tanto nas administrações eclesiais como em muitos grupos, parece que ninguém conhece jovens que, se tiverem uma vocação para o sacerdócio, a considerem vivível na atual igreja na Alemanha", escreve Eckhard Biegerin, padre jesuíta, em artigo publicado por Explizit.net, 21-05-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.
Na Igreja Católica na Alemanha, os padres estão desaparecendo. A curva dos ingressos deste ano nos seminários diocesanos e nos noviciados das congregações é bem próxima de zero. E, apesar disso, tanto os bispos quanto os laicos permanecem presos à imagem até agora dominante.
Para a Igreja Católica, os padres são as figuras-chave. Uma comunidade eclesial é dirigida por um pároco. Em última análise, ele é responsável pelos edifícios, pelos colaboradores, pela escola maternal, pelas celebrações litúrgicas e está muito envolvido no nível das relações humanas, no sentido que deve manter baixa a rivalidade, mediar os conflitos e manter na linha todas as pessoas que colaboram. Uma profissão exigente, para a qual são necessárias qualidades humanas e espirituais consideráveis. Uma profissão que exige o empenho total da pessoa - e precisamente por isso não pode atrair jovens da geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) fazendo com que superem a relutância que demonstram também em relação a outras profissões. Primeiro de tudo, eles não querem se sentir muito compromissados, porque "quem sabe o que o futuro vai trazer". Nem podem ser queimadas todas as reservas de energia no presente.
Ao pároco, centro de tudo, talvez não esteja sendo pedido um empenho excessivo e não suportável nas novas "unidades pastorais"? O que não era viável para as paróquias de 5000 pessoas, torna-se absolutamente impossível com 10 000 pessoas ou mais. De onde vem essa escolha, pela qual uma paróquia tenha que depender tanto do pároco a ponto que, com números cada vez mais reduzidos, não pareça ser possível outra coisa senão consolidar-se, para que em cada um dos âmbitos pastorais pelo menos um padre possa assumir o papel de pároco? Essa concepção segundo a qual um pároco tem que cuidar de tudo não vem da Igreja primitiva e nem mesmo da época barroca, mas apenas do século XIX, quando, após as guerras napoleônicas, apesar da ducha fria do ateísmo crescente, houve um ressurgimento de religiosidade.
Quando a população católica do campo transferiu seus muitos filhos para as áreas industriais, foram construídas igrejas em cidades em crescimento, tanto para valorizar os terrenos (aumentar seu preço) quanto para prevenir o abandono das pessoas. A vida pulsava ali porque os católicos encontravam na paróquia não apenas pontos de encontro, mas também creches para as crianças, freiras que ofereciam às mulheres a possibilidade de usar uma oficina de costura e, portanto, um lugar para conversar. Muitas vezes havia abrigos para os idosos e, às vezes, até mesmo um hospital.
Também nos EUA a paróquia era a estrutura local em que os recém-chegados eram registrados e tomados a cargo não só do ponto de vista burocrático, mas onde também encontravam um espaço para viver mais acolhedor do que o local de trabalho. Ali a paróquia não começou com a construção de igrejas, mas com a organização da escola básica, onde muitas vezes as professoras eram religiosas. Na RDA os grupos eclesiásticos tiveram que permanecer sob o radar do controle estatal. Eles se organizaram como círculos familiares que se reuniam nas casas de seus membros. Algumas paróquias também tinham uma escola maternal. Alguns hospitais católicos sobreviveram da época anterior à guerra. O pároco tornou-se o motor da vida da comunidade. A paróquia era a união de muitos grupos e instituições que se encontravam no domingo na missa.
Essas estruturas desapareceram ou se transferiram para a internet. À medida em que esses grupos perderam significado, maior se tornava o papel do pároco como motor e organizador da vida da comunidade. Com a diminuição dos capelães, coube ao pároco coordenar outras "forças" para a gestão da comunidade através de outras atividades pastorais. O fato de ainda existir atividades nas paróquias depende de quem trabalha lá em tempo integral. Assim, quase de forma imperceptível, a tarefa do pároco mudou. Ele não é mais um curador de almas, que acompanha as pessoas em sua jornada rumo ao céu, mas organizador daquela empresa de médio e grande porte que é a "unidade pastoral". De fato, esse tipo de pároco determinado pelas circunstâncias poderia fazer parte de uma associação de médios empreendedores, onde um gerente de supermercado, uma administradora comercial de uma cadeia de salões de beleza, um diretor de hospital, o chefe de um escritório de advocacia ou similar trocam suas experiências e se apoiam mutuamente na luta contra a burocracia, os problemas de pessoal, a mídia. Mas os párocos se tornaram padres para esse propósito? E as pessoas querem o padre como um empresário de sucesso? Não são apenas os jovens das gerações que deveriam se decidir pela profissão de padre que não querem esse papel.
Se o pastor é empurrado cada vez mais pela organização eclesial para o papel de gerente, as gerações abaixo dos cinquenta anos obviamente não precisam dessa paróquia, mas apenas aqueles cujos grupos e associações que continuam a funcionar apenas se forem sustentadas por quem trabalha em tempo integral na paróquia, melhor se for o pároco. Há também outro grupo de adultos, ou seja, os pais com filhos. Eles encontram na paróquia um lugar de convivência, onde seus filhos entram em contato com orientações de valor que não encontram na escola ou nas redes sociais.
Como esse espaço deve ser organizado para que homens jovens desejem se envolver? A reestruturação deriva da função prevista para o pároco. Em um sentido amplo, essa função deve ser o crescimento na fé, na esperança e no amor. Para que isso volte ao primeiro plano, e para que não sejam as necessidades da organização a dominar todo o resto, o padre deveria estar presente como teólogo. Uma pessoa que possa abrir horizontes para pessoas espiritualmente orientadas e oferecer fundamentos a pessoas religiosas em sua busca.
Chegou o momento de abandonar a ideia do pároco faz-tudo e imaginar uma figura sacerdotal para a qual os jovens possam novamente se decidir. Haverá certamente um período de tempo sem sacerdotes, porque não se pode esperar que, sem uma nova reflexão sobre o núcleo espiritual da vida eclesial, nasça e seja vivida uma imagem de padre que possa atrair os jovens. Tanto nas administrações eclesiais como em muitos grupos, parece que ninguém conhece jovens que, se tiverem uma vocação para o sacerdócio, a considerem vivível na atual igreja na Alemanha. É estranho também que as mulheres católicas se rebelem contra o pároco como único tomador de decisão, dado que, em breve, não haverá mais nenhum deles.
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Menos padres não significa menos Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU