27 Março 2019
"A terra foi dada para todos, diziam os santos padres, primeiros escritores do cristianismo de modo que Deus deu a terra para todas as pessoas e não somente para alguns. A terra é para todos, é dom de Deus para que todos usufruam de seus bens", escreve Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA).
A região amazônica é palco de novo de mortes, de sangue que corre por causa de barragens de água e de terras. Como cristãos e pessoas que acreditam em Jesus Cristo e na Igreja, e como membro da CPT, CNBB Norte 2 denunciamos a morte de três pessoas no Assentamento Salvador Allende, região de Tucuruí, Pará. Dilma Ferreira da Silva era coordenadora do MAB, Movimento dos Atingidos por Barragens, seu esposo, Claudinor Costa da Silva e Hilton Lopes, foram mortos na residência do casal na sexta feira passada, dia 22 de março, num assentamento da zona rural de Baião, no Sul do Pará. São mortes de trabalhadores, trabalhadoras atingidos por barragens, fator que revela a violência dos poderosos em relação aos pequenos, ao povo do campo, trabalhadores e trabalhadoras que querem vida e não a morte.
As usinas estão destruindo muitas famílias e também estão perseguindo as pessoas com mortes.
O MAB é um movimento importante que coloca atenção sobre os atingidos pelas barragens, porque as famílias são deslocadas, tornando-se uma multidão de pessoas muitas vezes vulneráveis e fazem com que muitas vezes não tenham mais terras. Por isso o governo deve olhar com carinho as famílias atingidas pelas barragens, dando-lhes terra com dignidade e dar-lhes vida no campo. Tucurui é a terceira maior hidrelétrica do Brasil, perdendo por Itaipu e Belo Monte.
Devemos dizer que se as mortes forem confirmados em contexto agrário, de conflitos de terra, essas mortes serão consideradas um dos primeiros massacres no campo, neste ano de 2019, segundo os dados da CPT.
O MAB destacou a figura da Dilma Ferreira que lutou muito em favor das famílias atingidas pelas barragens sendo sempre uma pessoa estimada por todos. A fazenda Piratininga, local do Assentamento Salvador Allende foi local de muitos conflitos agrários, sendo hoje ocupado há 12 anos por mais de 400 famílias sem-terra.
A terra foi dada para todos, diziam os santos padres, primeiros escritores do cristianismo de modo que Deus deu a terra para todas as pessoas e não somente para alguns. A terra é para todos, é dom de Deus para que todos usufruam de seus bens.
Acontece que o capital, a ganância de poucos querem ter sempre mais terras, e vão expulsando sempre mais as pessoas de suas propriedades de modo que há a concentração da terra nas mãos de poucos e muitas vezes as mortes ocorrem no campo. É lamentável que haja mais estas mortes que impossibilitam a fraternidade e o amor entre as pessoas, sobretudo no campo. Isso espalha medo, sofrimento, sangue que corre na terra.
Exigimos como cristãos e pessoas da sociedade a apuração desses crimes, que sejam reforçadas medidas para os assentados em barragens, porque a água deve ser para a vida e não para a morte.
O sangue que corre na terra se tornará fonte de vida. Lutemos pela vida em Jesus Cristo, pelas águas e na terra dada para todas as pessoas.
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Mortes em assentamento na Região de Tucurui, Pará. Artigo de D. Vital Corbellini, bispo de Marabá - Instituto Humanitas Unisinos - IHU