27 Fevereiro 2019
Os metalúrgicos da Ford de São Bernardo do Campo, no ABC, decidiram em assembleia manter a greve por tempo indeterminado. Os trabalhadores e trabalhadoras pararam as atividades após a montadora anunciar, no último dia 19, que vai fechar a fábrica e encerrar a venda de caminhões.
A reportagem é de Érica Aragão, publicada por Central Única dos Trabalhadores - CUT, 26-02-2019.
Uma negociação entre representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e a direção da Ford foi agendada para o dia 7 de março, em Detroit, nos Estados Unidos, onde fica a matriz da montadora. O objetivo é apresentar propostas contra o fechamento da fábrica e a manutenção de milhares de empregos.
Além da negociação com a matriz da Ford, os metalúrgicos participarão de uma reunião nesta quarta-feira (27), às 10h, com o prefeito de São Bernardo do Campo, Orlando Morando (PSDB), que já anunciou que o município pode perder R$ 18,5 milhões em arrecadação de impostos com o fechamento, além de um aumento do desemprego que pode ameaçar 27 mil postos de trabalho no setor.
“Amanhã o prefeito nos receberá na prefeitura para negociarmos alternativas para garantir empregos e manter a Ford em São Bernardo do Campo”, anunciou o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Wagner Santana, o Wagnão.
“Não desistiremos de lutar. Essa é a oportunidade que temos de mostrar que, coletivamente, conseguimos encontrar alternativas. Vamos continuar lutando e provar para a Ford que estão errando ao abandonar essa cidade”.
Uma nova assembleia está prevista para esta quinta-feira (28), no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Na assembleia que deliberou pela continuidade da greve, lideranças históricas dos metalúrgicos, que já passaram por situações semelhantes, garantiram que é possível reverter a demissão em massa de trabalhadores e trabalhadoras.
Foi o que aconteceu em dezembro de 1998, relembrou Luiz Marinho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC à época.
“Era véspera de Natal e a Ford anunciou que 2.800 operários perderiam seus empregos por causa do declínio na produção da fábrica da região do ABC”.
Segundo Marinho, a união dos trabalhadores e a atuação do sindicato, que negociou e lutou até o final, foi o que impediu que tantos trabalhadores fossem demitidos.
“Há 21 anos, nesta mesma época e neste mesmo lugar, foi anunciado a demissão de milhares de trabalhadores e conseguimos reverter com a solidariedade e unidade de todos, até mesmo da igreja e da população. Juntos conseguimos no passado e conseguiremos reverter essa decisão outra vez”, disse.
É o que defende o atual deputado estadual, Teonilio Barba, que também era metalúrgico da Ford quando ocorreu o anúncio de demissão em massa em 1998. “A Ford só não fechou naquela época porque teve luta, resistência, mobilização. E agora não pode e não será diferente”, defendeu.
“Será uma luta histórica e a Ford precisa ter compromisso social. Iremos até o fim pra manter os empregos na região”.
Essa não é a primeira nem a segunda vez que a Ford anuncia o fechamento de unidades no Brasil. No governo do ex-presidente Fernando Collor, a montadora também anunciou o encerramento de atividades.
Durante 50 dias, entre junho e julho de 1990, os trabalhadores da Ford protagonizaram umas das mais simbólicas greves da história dos metalúrgicos do ABC. A luta da categoria ficou conhecida como o movimento ‘dos golas vermelhas’, em alusão ao uniforme dos trabalhadores da manutenção.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos à época, Vicente Paulo da Silva, o “Vicentinho", lembrou que viajou aos Estados Unidos como representante dos trabalhadores para tentar garantir a permanência das montadoras no Brasil.
Atualmente parlamentar da Câmara dos Deputados, Vicentinho garantiu aos trabalhadores, na assembleia da categoria, que tanto ele quanto a bancada progressista do Congresso Nacional estarão com os trabalhadores da Ford neste momento na luta pela manutenção dos empregos.
“A Ford levou milhares de reais do governo, lucrou muito e não pode fazer isso com vocês. Nós vamos reverter, mas não tem outro caminho a não ser lutar”, disse.
O metalúrgico e secretário-geral da CUT, Sergio Nobre, falou da importância dos trabalhadores se manterem mobilizados e disse que essa luta não é uma luta isolada dos metalúrgicos, mas de todos os trabalhadores brasileiros que sofrerão com as consequências do processo de desindustrialização e do impacto na cadeia produtiva da indústria automobilística.
“Esse ato é de fundamental importância não só para os trabalhadores da Ford porque a luta por emprego é a luta de todos os trabalhadores brasileiros. Quando uma empresa do tamanho da Ford fecha, existe toda uma cadeia de produção que começa lá na mineração, passando pelo vidro, borracha, que sofre os impactos dessa decisão. É uma grande tragédia”, lamentou.
Há uma semana em greve, os funcionários da multinacional exigem que a Ford no Brasil volte atrás sobre o fechamento da planta. Para pressionar a empresa, os trabalhadores iniciaram uma campanha pedindo para que ninguém compre nenhum veículo da montadora até, pelo menos, o próximo dia 7, quando representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC vão negociar com a matriz, nos Estados Unidos, medidas que garantam a permanência da Ford e os empregos no ABC.
“Enquanto a Ford estiver destruindo sonhos ela não vai vender mais nada no Brasil”, afirmou o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos (CNM), Paulo Cayres.
“A campanha #NãoCompreUmFord vai durar até a empresa dizer que ficará em São Bernardo do Campo. Enquanto isso, pressão até o dia 7. Queremos nosso emprego de volta”, concluiu.
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É possível reverter fechamento da Ford e garantir empregos, dizem sindicalistas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU