17 Janeiro 2019
Deus é “pai” e também “mãe”, não “um tirano”. E tu poderás ser igual a “um delinquente”, carregar dentro de ti “tantas coisas ruins”, mas para Ele serás sempre um filho a ser amado, perdoado e ao qual permanecerá fiel. Na Audiência Geral de hoje, na Sala Paulo VI, a terceira de 2019, o Papa Francisco continuou o ciclo de catequese sobre o Pai Nosso e se concentrou em especial na palavra “Abba”, denominação aramaica usada no âmbito judaico antigo, transmitida aos cristãos, tão importante que não se traduz ao grego e ao latim, mas que se conserva intacta, em sua forma original.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican Insider, 16-01-2019. A tradução é de Graziela Wolfart.
“Abba”, que significa “pai”, é o nome com o qual nos dirigimos a Deus. “Para um cristão rezar significa simplesmente dizer “papai”, “abba”, como um menino”, disse Bergoglio, improvisando em sua catequese, depois da qual fez um chamado para a Semana de oração pela unidade dos cristãos que começa na sexta-feira, 18 de janeiro. “Depois de ter conhecido Jesus e escutado suas palavras, o cristão já não considera Deus como um tirano a quem se deve temer, já não tem medo, mas sente florescer em seu coração a confiança n’Ele: pode falar com o Criador, chamando-o de 'Pai'”, afirma o Pontífice.
Também Jesus, no Novo Testamento, dirige-se assim a Deus. “Na primeira palavra do Pai Nosso encontramos a radical novidade da oração cristã”, observa o Papa. “Não se trata só de usar um símbolo – neste caso a figura do pai – para se unir ao mistério de Deus; trata-se, ao contrário, de ter, por assim dizer, todo o mundo de Jesus derramado no próprio coração. Se fizermos isso podemos rezar com autenticidade o Pai Nosso”.
“Dizer 'Abba' – destaca Francisco – é algo muito mais íntimo, mais comovente que simplesmente chamar Deus de ‘Pai'”. É daí que tenha quem proponha traduzir esta palavra original do aramaico como 'papai'; ao invés de dizer 'Pai Nosso, dizer 'papai'. “Nós continuamos dizendo 'Pai nosso', mas somos convidados, de coração, a dizer 'papai'; ter com Deus uma relação como a de um menino com seu pai, que diz 'papai'”. São todas expressões que evocam “afeto, calor, algo que se projeta no contexto da idade infantil: a imagem de um menino completamente envolvido no abraço de um pai, que sente infinita ternura por ele”.
E esta expressão cobra ainda mais “sentido e cor” se usada depois de ter lido a palavra do pai misericordioso: “Imaginemos esta oração – disse o Pontífice – pronunciada pelo filho pródigo, depois de ter experimentado o abraço de seu pai que o havia esperado durante tanto tempo, um pai que não lembra as palavras ofensivas que ele havia lhe dito, um pai que agora lhe diz pura e simplesmente o quanto sentia falta dele. Então descobrimos como aquelas palavras ganham vida, ganham força. E nos perguntamos: É possível que Tu, ó Deus, conheças só o amor? Tu não conheces a vingança, a sede de justiça, a raiva por tua honra ferida?”.
“Naquela parábola temos um pai que lembra, em sua forma de ser, o espírito de uma mãe”. “São, sobretudo, as mães que desculpam seus filhos, que os acobertam, que nunca deixam de sentir empatia por eles, que continuam a querê-los, inclusive quando eles não mereceriam nada”, evidencia o papa. E, recordando um pensamento já expressado por João Paulo I, acrescenta: “Deus é como uma mãe que não deixa nunca de amar sua criatura. Por outro lado, há uma gestação que dura para sempre, além dos nove meses da gravidez física, e que gera um circuito infinito de amor”. “Deus te procura, mesmo se tu não o procuras”, insiste Papa Francisco. “Deus te ama, inclusive se te esquecestes d’Ele. Deus vê beleza em ti, inclusive se crês que desperdiçastes inutilmente todos teus talentos”.
Então “basta invocar só esta expressão – Abbá – para que se crie uma oração cristã”; nesta invocação “há uma força que atrai todo o resto da oração... Para um cristão, orar é simplesmente dizer 'Abbá'”.
No entanto, pode acontecer que inclusive quem crê acabe por “caminhos afastados de Deus, como aconteceu com o filho pródigo; ou cair em uma solidão que nos faz sentir abandonados pelo mundo; ou, novamente, nos enganar e paralisar por um sentimento de culpa. É nesses momentos difíceis, diz Bergoglio, que talvez “podemos encontrar a força para rezar, a partir da palavra ‘Abbá'. Ele não esconderá seu rosto de nós”.
“Lembrem-se bem – acrescenta Francisco, improvisando – que talvez alguém tenha dentro de si coisas ruins, coisas que não sabe como resolver, tanta amargura por ter feito isto ou aquilo... Ele (Deus) não ocultará seu rosto. Ele não se fechará no silêncio: tu lhe dirá: 'pai' e Ele responderá: tu tens um pai; “Sim, mas sou um delinquente”... Mas tens um pai! Comece a rezar assim e no silêncio Ele te dirá que jamais te perdeu de vista, sempre esteve ali. Não se esqueçam nunca de dizer pai”.
Como conclusão de sua catequese, depois de saudar os peregrinos em várias línguas, o papa Francisco fez um apelo em vistas da Semana de oração pela unidade dos cristãos que começa na sexta-feira, 18 de janeiro, com a celebração das vésperas na Basílica de São Paulo Extramuros. Dedicada ao tema “Tentai ser verdadeiramente justos”, a Semana de oração será concluída no próximo dia 25 de janeiro. “Também este ano – disse o Papa – somos chamados a rezar para que todos os cristãos voltem a ser uma única família, coerentes com a vontade divina que quer que “todos sejam um. O ecumenismo não é algo opcional. A intenção será a de amadurecer um testemunho comum e uniforme para afirmar a verdadeira justiça e o apoio aos mais frágeis, através de respostas concretas, apropriadas e eficazes”.
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Papa: Deus é pai e mãe e ama sempre, inclusive os delinquentes - Instituto Humanitas Unisinos - IHU