07 Janeiro 2019
Em 2019 há duas datas e dois tópicos, marcados em vermelho, que darão uma marca definitiva, e para além dos gestos realizados até agora, ao pontificado do Papa Francisco e ao futuro imediato da Igreja.
O comentário é de Martínez Gordo, doutor em Teologia Fundamental, padre, professor do Instituto Diocesano de Teologia e Pastoral de Bilbao e membro do Centro ‘Cristinisme i Justícia’ de Barcelona, publicado por por Settimana News, 01-01-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Entre 21 e 24 de fevereiro, são convocados ao Vaticano pela primeira vez na história os presidentes de todas as conferências episcopais do mundo para enfrentar a tragédia da pedofilia na Igreja.
Francisco já disse desde o início, e reiterou nos últimos votos de Natal para a Cúria do Vaticano, que a pedofilia, além de ser um pecado, é um crime e que aqueles que o cometeram irão acabar nas mãos da justiça.
Poucas mudanças estão previstas nos protocolos vigentes para a proteção dos menores e a reparação dos danos causados. As discussões, muito provavelmente, serão para definir qual é a causa que mais determina a pedofilia: o "clericalismo" ou abuso de poder, como o Papa defende, ou a ''homossexualidade predatória" e uma “imoralidade desenfreada", como sustentam os seus críticos.
E, considerando inclusive o que aconteceu no Chile e com o ex-cardeal estadunidense McCarrick (Washington), haverá outra discussão sobre quem irá gerir os casos de bispos acusados de má conduta ou negligência das normas contra os abusos: o papa, através da Congregação para os Bispos ou a Secretaria de Estado ou, talvez, as comissões de especialistas independentes encarregados de investigar os padres acusados?
Esta é a primeira data marcada em vermelho para Francisco. E, com ele, para Igreja.
No próximo mês de outubro será celebrado o Sínodo sobre a Amazônia, com o propósito de encontrar "novas formas", em primeiro lugar, para uma '' ecologia integral". Este bioma, em que vivem três milhões de indígenas, que representam quase 390 nações e nacionalidades diferentes e entre os 110 e os 130 Povos indígenas em isolamento voluntário (PIAV) ou "povos livres", é objeto – conforme consta no documento preparatório do Sínodo - de uma “mentalidade extrativa" que, além de ameaçar sua rica biodiversidade, busca anular a sua pluralidade étnica, cultural e religiosa.
O cuidado deste "espelho de toda a humanidade" passa por um modelo de desenvolvimento "alternativo, integral e solidário", que, não sujeito a "poderes econômicos e tecnológicos, inclui uma autêntica "ecologia natural e humana", baseada na destinação universal dos bens.
Resta a ser visto como irão reagir os centros de decisão econômicos e os cidadãos do chamado Primeiro Mundo que devem seu bem-estar a essa autodeterminação a que poderiam acessar, não é um exagero, aqueles que pertencem a “outras periferias”.
Mas a Igreja também quer buscar "novos caminhos" para promover o protagonismo dos povos indígenas, a interação entre eles e a inculturação.
Cresce o número de comunidades que não podem ser assistidas por sacerdotes de acordo com o modelo de padre atualmente em vigor na Igreja Latina. Por essa razão, muitas deles estão constantemente observando a diferença entre os católicos e os evangélicos e, consequentemente, tendem a passar para o seu lado.
A necessidade de abrir "novos caminhos" emerge fortemente, para que muitas comunidades dispersas na Amazônia tenham "melhor e mais frequente acesso à eucaristia"; é uma clara alusão ao sacerdócio dos casados, os chamados "viri probati".
Francisco confirmará esta decisão caso seja aprovada pelo sínodo? Há aqueles que têm dúvidas, dada a beligerância que a direita eclesial continua a apresentar depois que os divorciados e civilmente recasados puderam ter acesso à comunhão. E se fosse ratificá-la, seria válida apenas para a Amazônia ou para a Igreja universal? Qualquer coisa que ele decida ou silencie, isso também marcará seu pontificado; e, com ele, toda a comunidade católica.
Existem, finalmente, dois temas previsíveis que dizem respeito às posições do papa em 2019; acesso (ou não) das mulheres ao diaconato. Se for aberta esta porta, será um ministério que permitiria o acesso ao sacerdócio e ao episcopado, quando for oportuno, ou será simplesmente, como sugerido pelo cardeal W. Kasper, um serviço eclesial que a fecha, mesmo que temporariamente?
E há também a ansiosa expectativa da reforma da cúria do Vaticano. Será necessário ver se será ou não dado um passo em frente neste problema. Saberemos isso quando, pela leitura do texto, será possível verificar, entre outros pontos, se esta cúria pode continuar a funcionar - como foi durante os pontificados anteriores - como um diafragma entre o papa e os bispos ou, inversamente, se permanecem bem definidas suas competências e sua relação de dependência a esse respeito.
Francisco entrou no ano da verdade. E com ele a Igreja Católica. Esperamos poder dizer no final que ele merece uma avaliação cum laude, porque ele deixou pelo menos, entreabertas essas portas.
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2019: o ano da verdade para Francisco - Instituto Humanitas Unisinos - IHU