A Santa Sé, os evangélicos e os pentecostais

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19 Outubro 2018

"É um trabalho silencioso, contínuo e de sacrifício que se estende ao mundo inteiro, mas muito fecundo para manter viva a chama do ecumenismo do lado católico", escreve Fernando Rodríguez Garrapucho, padre jesuíta e professor de ecumenismo em Salamanca, em artigo publicado por Settimana News, 16-10-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo. 

Como de costume, a cada dois anos, todos os membros do Conselho Pontifício para a Promoção da Unidade dos Cristãos (PCPCU) reuniram-se em Roma com o propósito de trocar ideias, conselhos, conhecimentos e propostas que ajudem na tarefa de promover o ecumenismo da Igreja Católica.

O tema escolhido para a reflexão desta sessão foi Pentecostais, carismáticos e evangélicos: impacto sobre o conceito de unidade. O tema é exigido pelo fato de que esses grupos pentecostais e evangélicos mostram hoje o maior crescimento em todo o mundo e se apresentam como caminhos de renovação dentro das várias Igrejas cristãs.

Um desafio ao diálogo

A plenária começou com a Eucaristia celebrada na Basílica de São Pedro, na capela lateral, a chamada "Capela do Coro" em que são conservadas as relíquias de São João Crisóstomo, bispo de Constantinopla, padre e mestre oriental celebrado e venerado em todas as Igrejas do Oriente. Foi presidida pelo cardeal Kurt Koch, presidente do PCPCU, e concelebrada pelos membros do Conselho, cardeais, bispos e presbíteros, com a presença de outros membros laicos do Conselho.

Depois de um café da manhã oferecido na sede do Pontifício Conselho, começaram as sessões com o discurso inaugural (palestra) do presidente cardeal Kurt Koch, que se focou na busca do próprio conceito de unidade, dada a multiplicidade de ideias de unidade representadas pelas diferentes Tradições e Igrejas presentes hoje no diálogo ecumênico. Ele destacou o desafio que trazem ao diálogo essas novas comunidades e as ações conjuntas à luz do que já foi alcançado com as Igrejas históricas da Reforma e as Igrejas Ortodoxas do Oriente. A variedade e a velocidade com que os novos movimentos crescem obrigam a elaborar critérios de discernimento e ação para uma evangelização que não seja um contra testemunho de divisão e de rejeição entre os cristãos.

Koch concluiu seu discurso convidando a continuar no caminho do testemunho comum de caridade, verdade e martírio já vivido em tantas partes do mundo.

Logo depois, o Secretário Brian Farrell apresentou um amplo "Relatório das Atividades" do PCPUC nos dois anos desde a última sessão até a presente data. O relatório foi completo e exaustivo e mostrou o enorme esforço que o Pontifício Conselho realiza, tanto na elaboração de documentos teológicos nas comissões mistas nacionais ou internacionais com cada uma das Igrejas, com as quais mantém um diálogo oficial, como nas viagens de visitas protocolares para atividades e celebrações de outras Igrejas, e como no acolhimento dos representantes e das hierarquias das Igrejas e comunidades eclesiais, quando chegam a Roma em visita oficial.

É um trabalho silencioso, contínuo e de sacrifício que se estende ao mundo inteiro, mas muito fecundo para manter viva a chama do ecumenismo do lado católico.

Os evangélicos e os pentecostais

Depois desse "relatório" foi a vez do padre Norbert Hofmann, salesiano, representante do Conselho para o Diálogo com o judaísmo e o mundo judaico.

Centrando-se no tema principal da sessão, a prof. Teresa Francesca Rossi, do Centro Pro Unione de Roma nos apresentou na origem e situação atual dos grupos evangélicos, pentecostais e carismáticos; uma apresentação muito pedagógica, acompanhada por esquemas e imagens que tornaram a identidade e a geografia desses grupos emergentes tão claras quanto possível.

Jorge Scampini, dominicano argentino, aprofundou a eclesiologia subjacente a esses grupos e os problemas e oportunidades que acarretam para os católicos.

Em meio a essas apresentações houve trocas nos grupos linguísticos, as apresentações pessoais na assembleia plenária e um compartilhamento de experiências muito rico, com a contribuição de membros de todas as partes o mundo.

O rev. Andrezj Choromanski apresentou os diálogos e as relações entre as Igrejas históricas e os novos grupos eclesiais que são tratados no âmbito do Global Christian Fórum, o único que por enquanto torna possível os encontros de todos os cristãos, incluindo as novas comunidades cristãs que nascem dos evangélicos e dos pentecostais.

O dominicano Hyacinthe Destivelle apresentou o novo site do PCPUC, destacando como este site deu um salto significativo de qualidade comparado ao anterior. Muito satisfeitos os presentes, pois se trata de um bom instrumento de trabalho e de difusão das atividades ecumênicas que a Igreja Católica promove com convicção e perseverança. O site é www.christianunity.va.

Um "Manual" para os bispos

Dom Juan Usma, envolvido com o PCPCU há muitos anos e detentor de uma vasta experiência nesse campo, falou da abordagem pastoral ecumênica com os "evangélicos" e os pentecostais, oferecendo critérios para aproximá-los e experiências pastorais que mostram como, em muitos casos, seja possível uma relação e uma colaboração com algumas dessas novas Igrejas, embora com outras não, uma vez que existem grupos muito radicais e anti-ecumênicos que desenvolvem um proselitismo agressivo e ofensivo contra as outras igrejas cristãs.

A última parte da plenária foi dedicada à apresentação de um Manual para os novos bispos que o PCPCU está preparando, em resposta aos pedidos que os bispos encaminharam ao Conselho. Antes de vir a Roma, os consultores tiveram em mãos um primeiro esboço, muito apreciado, para estudá-lo.

Com as contribuições e as sugestões dos consultores o Manual será melhorado e completado, a fim de ser um instrumento útil na orientação pastoral ecumênica dos bispos em suas igrejas locais. Houve um razoável consenso para que o Manual não seja oferecido apenas aos novos bispos, mas como uma ajuda para todo o episcopado católico presente atualmente no mundo, embora esta seja uma decisão a ser tomada mais adiante.

A sessão plenária terminou na sexta-feira, 28 de setembro, com uma audiência do santo padre Francisco.

No encontro, à luz de seus cinco anos de ministério petrino, ele mostrou-se muito satisfeito com o tema escolhido, por sua oportunidade e necessidade, e agradeceu pelo trabalho que o PCPCU está realizando. Ele disse estar confiante que a ação conjunta dos cristãos para as pessoas mais necessitadas constitua cada vez mais um testemunho confiável e um meio de fortalecer a nossa unidade.

O tom cordial da sua manifestação o levou, além do discurso escrito, a nos fazer algumas confidências pessoais e oferecer conselhos para superar os medos nesse campo, e nos encorajou a continuar os contatos pessoais e institucionais com os grupos pentecostais e evangélicos.

De fato, o seu exemplo através de diálogos contínuos com os líderes dessas comunidades, testemunha que o que parece muito difícil é possível, pois é o próprio Espírito que suscita a sede de Deus, a conversão e a necessidade de uma espiritualidade profunda de viver como cristãos no tempo que nos é dado.

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