02 Outubro 2018
Momentos antes do Comitê Jurídico do Senado declarar seu voto positivo à nomeação de Brett Kavanaugh à Suprema Corte americana, a Reverenda Susan Hayward recebeu uma mensagem enquanto se dirigia ao escritório da Senadora Susan Collins, republicana do Estado de Maine vista como um voto decisivo contra Kavanaugh. O processo de nomeação do juiz segue agora para o Senado completo.
A reportagem é de Jack Jenkins, publicada por Religion News Service, 01-10-2018. A tradução é de Victor D. Thiesen.
Hayward, pastora da Igreja Unida de Cristo em Washington, D.C., possui alguns amigos em Maine, muitos dos quais se opõem à indicação de Kavanaugh. Seus amigos não conseguiram chegar ao escritório de Collins, mas Hayward planejava manter a chamada no celular até que chegasse ao gabinete da senadora, para que eles pudessem explicar suas preocupações via chat de vídeo.
Hayward disse que vários membros do clero que protestaram contra a indicação de Kavanaugh são vítimas de violência sexual, incluindo ela mesma.
"Este processo tem sido uma degradação para a justiça divina, a verdade, as mulheres em geral e o abuso de sobreviventes de todos os gêneros", disse Hayward.
Do outro lado do átrio do edifício do Senado, a Rev. Katie Romano Griffin segurava uma placa que dizia: "Se sentindo ofendida? Estou aqui para lhe dar apoio!"
A ministra Unitária Universalista disse que várias pessoas já foram até ela durante e após os protestos para falar sobre suas experiências com abuso.
"Por mais que eu tenha me envolvido em outros aspectos deste trabalho hoje - em oração, em testemunho - este é o núcleo do meu ministério", disse ela.
"Existem muitas pessoas que estão lutando e derramando suas lágrimas por coisas que ocorreram há 40, 50, 60 anos. Muitas vezes falta o apoio pastoral nessas ocasiões delicadas”, completou.
Em uma manifestação no edifício do Senado na sexta-feira de manhã, mais de 20 líderes religiosos ficaram de fora do Comitê Jurídico do Senado durante a chegada dos legisladores para a votação. Depois, se reuniram junto de uma multidão no átrio do edifício. O grupo, liderado pelo Conselho Nacional de Mulheres Judias e outros grupos religiosos, orou por vítimas de agressão sexual.
"Estou aqui como pastora e como mulher. Sei como é se sentir impotente, sozinha e desacreditada", disse a reverenda Amber Henry Neuroth, pastora da Igreja Unida de Cristo em Alexandria, Virgínia.
"Se você é uma daquelas mulheres que acredita no amor divino, estamos com você, e ficaremos ao seu lado até que essa injustiça seja anulada", acrescentou Neuroth.
As audiências desta semana pareciam ter levado mulheres para além de Washington D.C. a testemunharem suas próprias experiências sobre abusos sexuais.
Em uma Igreja liberal num bairro residencial de Greensboro, na Carolina do Norte, um serviço de oração foi convocado para lamentar a cultura da violência às mulheres e para dar apoio a vozes muitas vezes silenciadas.
Um grupo de oito mulheres, incluindo a pastora, sentaram-se em um semicírculo na capela da Igreja Unida de Cristo.
"Fazemos uma pausa neste dia para reconhecer que há muitos entre nós que foram feridos pela violência, exploração, coerção e manipulação", disse a Rev. Julie Peeples, para a pastora da Igreja, lendo uma liturgia impressa.
"Há muitas entre nós que estão sofrendo", respondeu o grupo.
Uma das mulheres falou sobre ter sido estuprada quando adolescente por um amigo de seus pais - uma história que ela compartilhou anteriormente apenas com o marido.
"Estou muito zangada e tentando fazer reflexões tranquilas, mas tudo está fervendo dentro de mim", disse ela, pedindo para que seu nome não seja revelado.
Outra, recordou o abuso sexual de sua irmã, cometido por um professor da escola dominical anos atrás. A Igreja recusa a confrontá-lo.
Um altar com velas ficava piscando no final da sala, diante de uma ilustração acolchoada de uma pomba branca.
"Eu me sinto exausta fisicamente. Eu não quero odiar, não quero ter esse ódio dentro de mim", disse Deborah Suess, comentando à audiência do Comitê Jurídico do Senado.
Durante a liturgia final, as mulheres rezaram o refrão: "Derrame sua cura e esperança".
"Para o futuro das minhas netas", disse uma delas.
"Para os sem voz", disse outra.
E finalmente, "para o dia seguinte da Dra. Ford [Christine Blasey Ford, que acusa Kavanaugh de agressão sexual, nde]", disse uma terceira.
Em Washington, na sexta-feira, uma das poucas ativistas proeminentes que ainda se colocava à disposição dos repórteres era Linda Sarsour, organizadora da Marcha das Mulheres do ano passado e ativista muçulmana norte-americana.
"Minha fé como muçulmana me ensina que devo estar ao lado dos oprimidos, e a indicação de Brett Kavanaugh é, de fato, uma afronta às pessoas mais marginalizadas e oprimidas neste país: negros, imigrantes e refugiados, mulheres e comunidades LGBTs", disse Sarsour.
"Estou aqui porque conheço o desastre que será derramado em nosso povo se houver uma maioria conservadora nas próximas quatro décadas", acrescentou.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
EUA. Nomeação de Kavanaugh à Suprema Corte é motivo de oração - Instituto Humanitas Unisinos - IHU