16 Abril 2018
A "retaliação" contra Bashar Al Assad por parte dos EUA, Reino Unido e França. É claro o julgamento do Vaticano sobre os bombardeios na Síria na noite de sexta-feira, divulgado pelo editorial do Osservatore Romano deste domingo. "O presidente dos Estados Unidos afastou suas dúvidas e uma semana depois do alegado ataque químico contra a cidade síria de Douma, ordenou a retaliação em estreita coordenação com Londres e Paris", pode ser lido na abertura da manchete do jornal da Santa Sé estampada em página inteira "Mísseis sobre a Síria".
A informação é de Luca Kocci, publicada por Il manifesto, 15-04-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Nenhuma palavra do Papa Francisco, mas muito provavelmente irá se pronunciar hoje durante o Regina Coeli na Praça de São Pedro (Nota de IHU On-Line: Sim, o Papa se pronunciou sobre o ataque à Síria Veja aqui).
Além disso, no passado Bergoglio, além de denunciar as guerras em curso ("uma terceira guerra mundial em pedaços") e a proliferação de armas, manifestou-se muitas vezes sobre a Síria para condenar a repressão e a guerra, mas também para esconjurar um ataque militar contra Damasco.
A última vez foi no domingo passado, na Praça de São Pedro, no rescaldo do massacre de Douma: "Chegam da Síria notícias terríveis de bombardeios com dezenas de vítimas, muitas das quais são mulheres e crianças, de muitas pessoas atingidas pelos efeitos de substâncias químicas contidas nas bombas. Não existe uma guerra boa e uma má, e nada, nada pode justificar o uso de tais instrumentos de destruição contra pessoas e populações indefesas. Oremos para que os responsáveis políticos e militares escolham o outro caminho, o da negociação, o único que pode levar a uma paz que não seja a da morte e da destruição".
A primeira foi cinco anos atrás, quando parecia iminente uma intervenção militar ocidental contra a Síria: no verão escreveu aos líderes do G20 reunidos em São Petersburgo para pedir aos "grandes" para "abandonar toda vã pretensão de uma solução militar" na Síria; depois, promoveu um dia de jejum e vigília de oração pela paz na Praça de São Pedro (07 de setembro de 2013), em especial para a Síria. Na época, os bombardeiros não decolaram. Esta noite, porém, os mísseis partiram.
Se o Papa por enquanto está em silêncio, os bispos sírios elevaram suas vozes. "É surpreendente que o ataque tenha ocorrido justamente quando estava prestes a começar a missão dos inspetores da ONU chamados para investigar o uso de armas químicas atribuído ao regime de Damasco", disse no microfone da Rádio Vaticano e da rede TV2000 monsenhor Antoine Audo, bispo caldeu de Aleppo. Os países ocidentais, que alimentam "o comércio de armas", "atacam para demonstrar que a força e o poder estão em suas mãos".
Segundo o bispo de Aleppo, a Síria está pagando "os efeitos do conflito entre os EUA e a Rússia" e, a nível regional, "da guerra distante entre a Arábia Saudita e o Irã". Monsenhor Audo tem sérias dúvidas de que o ataque químico a Douma seja obra do regime sírio: "Como é possível que Assad – pergunta-se – tenha utilizado armas químicas justo quando o seu exército recuperou a região de Ghouta? Não é lógico". Ele espera que "a luz seja lançada sobre tudo e a verdade apareça, não como fizeram com o Iraque quando destruíram o país dizendo que havia armas químicas". Ele tem esperanças de que os EUA e a Rússia "cheguem a um acordo para uma verdadeira paz".
O Vigário Apostólico latino de Aleppo, monsenhor Georges Abou Khazen foi extremamente duro: "Com esses mísseis jogaram a máscara. Primeiro era uma guerra por procuração. Agora a lutar são os atores principais. Já são sete anos, começou o oitavo, que se combate em solo sírio, e agora que os atores menores foram derrotados entram em campo os verdadeiros protagonistas do conflito". Os especialistas deverão investigar "o suposto ataque químico em Douma, mas após essa investida será tudo mais difícil", constata monsenhor Abou Khazen. "Enquanto isso cresce o sofrimento da população que pede paz e em troca recebe bombas e mísseis. As pessoas esperavam algo assim e, infelizmente, aconteceu". O desejo do Vigário Apostólico de Aleppo é que "esses ataques não se alastrem também para outros lugares na região, porque seria muito perigoso e tudo poderia fugir das mãos. É preciso uma solução compartilhada a ser alcançada sem mentiras”.
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L'Osservatore Romano condena ataque à Síria: retaliação atlântica sem provas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU