26 Fevereiro 2018
Das 700 iniciativas de renovação, participação e transparência política mapeadas pelo Instituto Update em 21 países da América Latina, 266 (38%) estão no Brasil. Embora relevante, a expectativa é que esse número se apresente ainda maior em maio, com a conclusão da segunda fase do levantamento – e a inclusão de movimentos que nasceram ou ganharam relevância a partir de 2017, como RenovaBr, Agora!, Frente Favela Brasil e outros. O fenômeno aponta para busca de alternativas às formas tradicionais de engajamento e também às instituições partidárias.
A reportagem é de Gilberto Amendola, publicada por O Estado de S.Paulo, 25-02-2018.
Batizada de “Emergência Política”, a pesquisa é um retrato do período mais efervescente do processo de impeachment da presidente cassada Dilma Rousseff (entre 2015 e 2016). Ela indicou um equilíbrio entre as iniciativas que usam ferramentas digitas (aplicativos de acompanhamento e controle de mandatos parlamentares, por exemplo) e práticas não digitais como associações e movimentos de rua. A maior parte dessas ações (80%) buscam envolver a sociedade nos processos políticos de forma propositiva.
“Essas ações aumentam a crença na política como ferramenta de transformação. Mas também significam uma vontade de descobrir novos meios de participação. A sociedade está vivendo um momento muito especial”, disse Rafael Poço, pesquisador e cofundador do Instituto Update.
O leque de iniciativas passa pela ocupação cultural de um espaço público específico ao ativismo com foco na pressão ao poder público local; atingem um patamar nacional com ações de formação de lideranças políticas, como é o caso da Raps (Rede de Ação Política pela Sustentabilidade) e do RenovaBR; e são até embriões de futuros partidos, como é o caso da Frente Favela Brasil, que pretende se institucionalizar nos próximos anos.
Na base desse movimento estão as ações que, entre outras coisas, procuram traduzir ou explicar o funcionamento da política tradicional para o cidadão comum como propõe Ônibus Hacker, que nasceu do grupo Transparência Hacker. “Vamos de cidade em cidade ensinando, por exemplo, crianças como se faz um projeto de lei”, contou uma das coordenadoras do projeto, Evelyn Gomes.
O acúmulo de iniciativas de renovação estão convergindo para movimentos de atuação política direta – com presença nos partidos e nas próximas eleições. Inseridos nesses centros formadores também estão movimentos, como o Agora!, Acredito e a Frente Favela Brasil. O objetivo desses grupos é entrar no jogo eleitoral, elegendo representantes para o Legislativo. Na semana passada, o Agora! e o PPS assinaram uma carta-compromisso indicando que o partido pode receber os membros do movimento em seus quadros para disputar as eleições.
Para a cientista política Nara Pavão, da Universidade Federal de Pernambuco, essas iniciativas são o resultado natural de uma janela de oportunidade que se abre com a crise política. Contudo, ela alerta: “É importante lembrar que a bandeira da renovação nem sempre vai ter a força que tem hoje, então é possível que esses movimentos se enfraqueçam ou que seus quadros sejam naturalmente incorporados à política tradicional ao longo do tempo”.
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'Nova política' em ebulição no País - Instituto Humanitas Unisinos - IHU