21 Fevereiro 2018
Carlo Carretto, padre e escritor que viveu setenta e oito anos (1910-1988), consagrando pelo menos cinco décadas de sua vida terrena à busca e à aceitação do caminho designado para ele pela vontade de Deus. Seu pensamento teocêntrico cultivou experiências que passo a passo o levaram à certeza de uma radiante teologia pessoal centrada na bondade de Deus, que jamais abandona o homem.
A reportagem é de Pasquale Maffeo, publicada por Avvenire, 20-02-2018. A tradução é de Luisa Rabolini.
Foi professor e testemunha da espiritualidade cristã, sempre esteve em busca de Cristo. Não foi um titular de paróquia, mas pelo amor tributado ao Pai sempre se sentiu parte integrada na verdade eclesial.
Após cinco décadas de militância na Azione Cattolica, sua chamada interior levou-o a viver no deserto na companhia de uma luz que nunca se apaga. A propósito, anotou em sua agenda: "Se Deus é meu Pai, eu posso ficar tranquilo e viver em paz: estou garantido para a vida e para a morte, para o tempo e para a eternidade". Seu credo é entregue a aforismos repentinos. Lemos: "Enquanto esperas o reino, faça o reino.
Enquanto esperas justiça e paz, faça justiça e da paz. Se quiseres ser perdoado, perdoa. Se quiseres ser alimentado, alimenta. Se quiseres ser libertado, liberta".
A premissa biográfica nos leva a mergulhar nas páginas de seus escritos. A obra Padre mio mi abbandono a te (Meu Pai, abandono-me a você) que agora chega às bancas é uma reedição, enriquecida pelo prefácio de Pablo d'Ors, um texto publicado em abril de 1975, na série 'Meditazioni' da mesma editora (Città Nuova).
Para resumir, o livro traz um comentário à oração de Charles de Foucauld, morador do deserto que atraiu com tanta força a alma de Carretto.
A estrutura da obra está dividida em uma 'Premissa', uma 'Parte primeira’, uma 'Parte segunda’, uma 'Conclusão' e um apêndice sobre 'Evangelização e compromisso político'. Mais que percorrer os títulos dos capítulos, o que vale ao leitor e testar e meditar os arroubos de fé que os alicerçam. Tomando como axioma que o medo é a marca do homem ou da mulher que não se deixa guiar pelo Espírito, Carretto se direciona totalmente ao Pantocrator com uma oração:
"Pai, eu me entrego a Ti.
Faz de mim o que desejares.
Seja o que for que fizer de mim, eu agradeço.
Estou pronto a tudo, aceito tudo
desde que tua vontade seja feita em mim
e todas as tuas criaturas.
Eu não desejo nada mais, meu Deus.
Entrego a minha alma nas tuas mãos,
Para ti a doo, meu Deus,
com todo o amor do meu coração.
Porque eu te amo.
E é para mim para mim uma exigência de amor a minha doação
entregar-me em tuas mãos sem restrição
e com confiança infinita, porque Tu és meu Pai".
Agora vamos escolher um trecho da 'Parte primeira’: "Deus me fez como um fragmento de estrela e me deu a vida, depois me desenhou como uma flor e me deu a forma, e em seguida, novamente infundiu-me a consciência e me fez amor. Tudo isso significa fazer um filho, porque um filho é vida da mesma vida do Pai, é a liberdade da mesma liberdade do Pai, é comunicação para comunicar com o Pai".
Na 'Parte segunda' nós encontramos uma proclamação esfuziante: "Se Deus é meu pai, eu sou seu filho. Para entender o que significa ser o seu filho é preciso olhar para o Filho Primogênito, Jesus. Ele veio entre nós, morou entre nós, vivendo a sua aventura de Filho de Deus: o Cristo. O caminho para nós, então, é a imitação de Cristo".
Mas não vamos nos confundir. Os traços que se irradiam em todo o volume nada perderam da clássica imitação de Cristo atribuída a Thomas de Kempis. A distinção é importante para compreender a amplitude e profundidade de teologia que desencadeiam em Carretto o desejo de mergulhar para imitar Cristo vivo Redentor.
A 'Conclusão', cheia de expectativa, examina as aberturas da Igreja de hoje e do futuro: “Com o Concílio nasceu uma Igreja muito mais madura que a Igreja da nossa infância. Uma Igreja, onde o pluralismo está em casa, onde há respeito por todos, incluindo aqueles que não acreditam. Uma Igreja em que a caridade e solidariedade com o irmão são mais importantes do que o culto e as purezas legais”. É a Igreja constituída segundo Carretto. Não nos resta que desejar uma participante e total adesão a que se aproximar dele.
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A Igreja segundo Carlo Carretto: deserto, escuta, caridade - Instituto Humanitas Unisinos - IHU