20 Fevereiro 2015
A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 1,12-15 que corresponde ao Primeiro Domingo de Quaresma, Ciclo B, do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto.
Eis o texto
Fonte: http://www.periodistadigital.com/religion/ |
Marcos apresenta a cena de Jesus no deserto como um resumo da Sua vida. Assinalo algumas pistas. Segundo o evangelista, “o Espírito empurra Jesus para o deserto”. Não é uma iniciativa Sua. É o Espírito de Deus que o desloca até o colocar no deserto: a vida de Jesus não vai ser um caminho de êxito fácil; antes pelo contrário, esperam-No provações, insegurança e ameaças.
Mas o “deserto” é, ao mesmo tempo, o melhor lugar para escutar, em silêncio e solidão, a voz de Deus. O lugar onde se tem de voltar em tempos de crise para abrir caminhos ao Senhor no coração do povo. Assim se pensava na época de Jesus.
No deserto, Jesus “é tentado por Satanás”. Nada se diz do conteúdo das tentações. Só que provêm de “Satanás”, o Adversário que procura a ruína do ser humano destruindo o plano de Deus. Já não voltará a aparecer em todo o evangelho de Marcos. Jesus o vê atuando em todos aqueles que o querem desviar da Sua missão, incluindo Pedro.
O breve relato termina com duas imagens em forte contraste: Jesus “vive entre feras”, mas “os anjos servem-No”. As “feras”, os seres mais violentos da criação, evocam os perigos que ameaçam sempre Jesus e o Seu projeto. Os “anjos”, os melhores seres da criação, evocam a proximidade de Deus que abençoa, cuida e defende Jesus e a Sua missão.
O cristianismo está vivendo momentos difíceis. Seguindo os estudos sociológicos, falamos de crise, secularização, rejeição por parte do mundo moderno... Mas talvez, desde uma leitura de fé, temos de decidir algo mais: Não será Deus quem nos está empurrando para este “deserto”? Não necessitaríamos de algo semelhante para nos libertarmos de tanta vanglória, poder mundano, vaidade e falsos êxitos acumulados inconscientemente durante tantos séculos? Nunca teríamos elegido nós estes caminhos.
Esta experiência de deserto, que irá crescendo nos próximos anos, é um tempo inesperado de graça e purificação que temos de agradecer a Deus. Ele continuará a cuidar do Seu projeto. Apenas se nos pede que recusemos com lucidez as tentações que nos podem desviar uma vez mais da conversão a Jesus Cristo.
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Empurrados para o deserto - Instituto Humanitas Unisinos - IHU