23 Janeiro 2018
Escutando as respostas do Papa Francisco durante a coletiva de imprensa no avião, retornando da América do Sul, sobre a complexa e dramática questão dos abusos no Chile e no Peru, em particular sobre o caso do bispo de Osorno, o chileno Juan Barros, esclarecem-se diversas passagens que, até hoje, tinham sido percebidas, contadas e ampliadas de modo radicalmente diferente.
A nota é de Luis Badilla, publicada no blog Il Sismografo, 22-01-2018. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Aquilo que aconteceu nessa peregrinação internacional do papa deveria ser estudado a fundo, e, acima de tudo, os especialistas e responsáveis pela comunicação vaticana deveriam tirar as lições oportunas.
O Vaticano e os bispos chilenos se calaram por muito tempo, sem nenhum motivo, sobre a questão de Barros. E, ao escutar as respostas do papa, surpreende esse silêncio injustificado e autodestrutivo da Igreja. Se algumas coisas estão, ou estavam, da forma como foram contadas pelo papa, não se entende por que se silenciou por tanto tempo. Parece um comportamento autodestrutivo.
Escutando o papa, que pela primeira vez explica e esclarece com detalhes pontuais, precisos e de autoridade momentos decisivos do caso dos sacerdotes do Chile associados no passado ao carisma do padre Fernando Karadima (processado e condenado no Chile e no Vaticano por abusos e outros crimes), logo vem à mente uma reflexão quase óbvia, que podemos propor assim: por que não se contou imediatamente como as coisas estavam no momento oportuno? Por que foram inventados “segredos” desnecessários e por que se considerou necessário ser pouco transparente? E, acima de tudo, por que se optou por marginalizar o laicato de Osorno, mesmo sabendo que ele podia fazer uma contribuição essencial para governar o caso? Por que se continuou acreditando que, em 2018, e na era da rede, a Igreja pode se comunicar como há 50 anos ou mesmo como nos séculos passados?
Pensar assim é um anacronismo que danifica seriamente a imagem da Igreja como vimos nessas décadas com a história dos abusos ocultados.
Nessa delicada história, determinadas passagens se tornaram tão complicadas, confusas e ocultas, que hoje o Papa Francisco, em resposta às perguntas, teve que se justificar. E para fazer isso viu-se forçado a contar coisas que, se tivessem sido publicadas ou explicadas adequadamente por parte do Vaticano ou da Igreja chilena no momento necessário, certamente a história não teria tomado o andamento que conhecemos.
Talvez essa experiência e essas vicissitudes dolorosas para todos os membros da comunidade eclesial, embora não esclarecidas definitivamente, podem ensinar que o ocultamento e a não transparência hoje não valem a pena e sempre se voltam contra.
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Quando a não transparência cria problemas para a Igreja: o caso chileno - Instituto Humanitas Unisinos - IHU