09 Outubro 2017
O Comitê Nobel norueguês anunciou que o Prêmio Nobel da Paz de 2017 será concedido à Campanha Internacional de Abolição de Armas Nucleares "por seu trabalho para chamar a atenção para as catastróficas consequências humanitárias de qualquer uso de armas nucleares e por seus esforços inovadores para alcançar uma proibição de tais armas baseada em tratados", de acordo com um comunicado de imprensa do comitê, no dia 6 de outubro.
A reportagem é de James Dearie, publicada por National Catholic Reporter, 06-10-2017. A tradução é de Luísa Flores Somavilla.
A Campanha Internacional de Abolição de Armas Nucleares é uma coalizão, com sede em Genebra, de centenas de organizações não governamentais de cerca de 100 países que trabalham pelo desarmamento nuclear.
Este é o 98º Prêmio da Paz concedido pelo Comitê Nobel da Noruega desde seu primeiro ano, 1901. A atribuição oficial do prêmio ocorrerá no dia 10 de dezembro, o aniversário da morte de Alfred Nobel, em Oslo, na Noruega.
O comitê considera a organização "o principal ator da sociedade civil no esforço pela proibição de armas nucleares com base no direito internacional", citando seu papel em ajudar a promover o Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares nas Nações Unidas.
"É uma grande honra ter sido premiado com o Nobel da Paz de 2017, em reconhecimento ao nosso papel na realização do Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares", declarou, em um comunicado em seu site, a Campanha Internacional de Abolição de Armas Nucleares.
"É um momento de grande tensão global, em que a retórica inflamada poderia facilmente nos levar, inexoravelmente, a um horror indescritível", acrescentou a organização. "O espectro do conflito nuclear se aproxima novamente. Se houve algum momento para as nações declararem sua oposição inequívoca às armas nucleares, o momento é agora."
A Irmã de Maryknoll Jean Fallon, de 87 anos, ativista antinuclear de longa data, disse ao NCR que estava "emocionada" com a notícia, uma vitória para todos os que participaram ativamente dos movimentos pela eliminação de armas nucleares, que culminaram na Ação das Nações Unidas, no início deste ano. "É para todos", disse ela.
"Tantas pessoas envolveram-se com esse problema por tantos anos."
"É muito significativo", disse.
"É providencial", disse a Irmã Stacy Hanrahan, que representa a Congregação de Notre Dame nas Nações Unidas e há muito tempo está envolvida nos esforços de desarmamento nuclear da ONU. "É um momento tão favorável, tudo o que tem acontecido nas Nações Unidas".
Hanrahan disse que o fato de uma organização não governamental ter recebido o prêmio foi um reconhecimento da força dos esforços de base e uma homenagem aos "que têm trabalhado [na questão nuclear] há anos".
Ela acrescentou que a recente guerra retórica entre os governos dos Estados Unidos e da Coreia do Norte é assustadora, mas recolocou o foco na possibilidade real de uma guerra nuclear. "Ele chamou a atenção de todos. É sério. Esta guerra [nuclear] pode acontecer e colocar-nos num lugar onde ninguém quer estar", disse.
A ativista antinuclear de longa data, Irmã Dominicana Carol Gilbert, juntamente com a colega ativista e Irmã Dominicana Ardeth Platte, esteve no Colorado, em 6 de outubro, para uma campanha de conscientização pública sobre o tratado da ONU. Além de visitar a escolas e igrejas, as duas dominicanas entregariam cópias do tratado aos silos onde as ogivas nucleares estão alojadas.
A campanha das irmãs havia sido planejada antes do anúncio de hoje a respeito do Prêmio Nobel, mas Gilbert disse que era uma "bela" coincidência que reforça o trabalho.
"Estamos muito felizes - na verdade, emocionadas", disse Carol Gilbert.
O Padre Jesuíta Drew Christiansen, pesquisador do Centro Berkeley de Religião, Paz e Assuntos Internacionais (Berkley Center for Religion, Peace, and World Affairs), da Universidade de Georgetown, diz que o sucesso da Campanha Internacional de Abolição de Armas Nucleares demonstra o efeito que as organizações não governamentais podem ter quando têm a oportunidade de trabalhar dentro da ONU.
"No futuro, provavelmente haverá mais alianças desse tipo entre sociedade civil e os estados na ONU", disse ele ao NCR.
O Tratado sobre a Proibição de Armas Nucleares impediria os países de "comprometer-se a desenvolver, testar, produzir, fabricar, adquirir, possuir ou armazenar armas nucleares ou outros dispositivos explosivos nucleares, bem como o uso ou ameaças de uso dessas armas", de acordo com um comunicado de imprensa da ONU. Se obtiver a assinatura e a ratificação de 50 Estados, seria o primeiro tratado juridicamente válido a proibir armas nucleares.
Em julho, 122 países da ONU votaram a favor da versão final do tratado e dezenas o assinaram, em 20 de setembro, na abertura do período de assinaturas. Até agora, 53 países já assinaram o tratado, três dos quais já o ratificaram.
A Santa Sé está entre os Estados que assinaram e ratificaram o tratado. O papa Francisco há muito tempo defende o desarmamento nuclear, dizendo à ONU que há "necessidade urgente de trabalhar por um mundo livre de armas nucleares", durante sua visita aos Estados Unidos em 2015.
Quando o projeto final foi anunciado, a França, o Reino Unido e os Estados Unidos disseram, em um comunicado de imprensa, que "não pretendiam assinar, ratificar ou fazer parte do tratado. Portanto, não haverá mudanças nas obrigações legais em nossos países em relação às armas nucleares. ... Esta iniciativa ignora claramente as realidades do ambiente de segurança internacional. A adesão ao tratado é incompatível com a política de dissuasão nuclear, que tem sido essencial para manter a paz na Europa e no norte da Ásia há mais de 70 anos."
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Organização que trabalha para abolir armas nucleares ganha Prêmio Nobel da Paz - Instituto Humanitas Unisinos - IHU