15 Setembro 2017
Cientistas brasileiros e de diversos países estarão reunidos de 16 a 18 de outubro para discutir e propor alternativas para evitar a perda de colônias de abelhas. O encontro, promovido pela Embrapa, vai ocorrer em Teresina, Piauí, no “Simpósio sobre Perda de Abelhas no Brasil”. Durante o evento serão discutidas as principais causas de perdas de enxames de abelhas no Brasil, suas consequências, estratégias e direcionamentos de pesquisa para reduzir as perdas das colônias e os efeitos causados com o declínio de polinizadores.
A reportagem Eugênia Ribeiro, publicada por Embrapa Meio-Norte, 11-09-2017.
A importância das abelhas para a preservação da vida, iniciativas para conservação de polinizadores, a criação de corredores ecológicos e o uso de ferramentas computacionais para monitorar colmeias e identificar fatores que provocam a perda de colônias são alguns dos temas a serem tratados no simpósio.
Na área da agricultura, o impacto do uso de agrotóxicos, o monitoramento dos polinizadores em ambientes naturais e agrícolas e o efeito das culturas transgênicas para as abelhas também farão parte da programação.
Além de painéis e palestras, no dia 19 de outubro a Embrapa irá realizar com seus pesquisadores um workshop para elaborar o mapa de resultados, plano de monitoramento e avaliação de impactos das pesquisas com abelhas da instituição.
As abelhas são responsáveis pela polinização de centenas de árvores frutíferas. Algumas espécies vegetais são tão dependentes desses insetos para se reproduzirem que a extinção das abelhas pode levar à extinção da planta. Como muitos animais se alimentam de frutos e utilizam as árvores para abrigar ninhos, com a redução da quantidade de abelhas há um impacto negativo em todo o meio ambiente, podendo haver uma extinção em massa de várias espécies animais.
“A conservação das abelhas é de extrema importância para a preservação ambiental e da biodiversidade, garantia de produção de alimento e geração de renda para apicultores”, explica a pesquisadora Fábia de Mello Pereira, líder de um projeto sobre conservação de recursos genéticos de insetos polinizadores.
Na produção agrícola, esses insetos são considerados o agente polinizador mais importante e eficiente, sendo responsáveis pela polinização de aproximadamente 73% das espécies cultivadas em todo o mundo. Além dos impactos ambientais, também a segurança e diversidade alimentar, a garantia da nutrição humana e preços dos alimentos são estritamente relacionados à atuação dos agentes polinizadores. A produção de mel, própolis, pólen apícola, geleia real, apitoxina e as próprias colônias de abelhas, representam importante fonte de renda, especialmente na agricultura familiar.
O desaparecimento das abelhas preocupa especialistas, organizações governamentais e não governamentais em todo o mundo. Uma das causas dessa perda é o fenômeno da Desordem do Colapso das Colônias (DCC), ainda não registrado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Brasil. “Os problemas relacionados à perda de enxames e mortalidade de colônias no país possuem como causa a seca, desmatamento e uso indiscriminado de agrotóxico”, esclarece a pesquisadora.
Esse fenômeno foi inicialmente relatado em 2006 nos Estados Unidos, quando vários apicultores começaram a observar que colônias fortes estavam tendo uma redução grande na população de operárias sem que houvesse alguma causa específica. Esta redução na população, em geral, é atribuída à falta de alimento, perda de rainha, mortalidade causada por uso de agrotóxicos, doenças ou ataque de inimigos naturais, mas nenhum destes problemas foi observado pelos apicultores, o que deixou os pesquisadores intrigados.
Em 2007, também nos Estados Unidos, pesquisadores de instituições federais, universidades, representantes da indústria apícola e dos produtores identificaram um conjunto de sintomas que caracterizava a síndrome que ficou conhecida como Desordem do Colapso das Colônias.
A causa da DCC ainda não foi definida. Acredita-se que uma interação de fatores pode interferir no sistema imunológico das abelhas e causar o problema. As infestações com o ácaro Varroa destructor e com o microsporídio Nosema ceranae estão relacionadas à síndrome, porém não são causas únicas. As abelhas são especialmente suscetíveis aos agrotóxicos e estudos demonstram que muitos agrotóxicos podem interagir com esses agentes patogênicos, potencializando os sintomas e levando à DDC. O estresse causado pelo transporte durante a migração e problemas nutricionais das colônias também são apontados como causas da Síndrome.
Embora no Brasil não existam dados oficiais sobre a redução da população de abelhas, apicultores e pesquisadores têm observado nos últimos anos a perda de abelhas causada principalmente por desmatamento, uso indiscriminado de agrotóxicos e períodos prolongados de seca.
Várias instituições governamentais e não governamentais brasileiras estão trabalhando para conservar as abelhas. Além disso, várias pesquisas são realizadas com o objetivo de conhecer melhor a distribuição e biologia destes insetos, o que é fundamental para podermos protegê-los. A
Embrapa tem também bancos de germoplasma em várias regiões do País onde são conservadas colônias de mais de 20 espécies de abelhas-sem-ferrão, apis melífera e abelhas solitárias.
Ações voltadas para conscientização sobre a importância das abelhas, resgate de enxames em risco e incentivo à criação de abelhas em ambientes urbanos têm sido realizadas por diversas organizações não governamentais a exemplo da Bee or not to be e da SOS Abelhas Sem Ferrão.
Além destas ações, várias outras devem ser realizadas para proteger as abelhas. A principal delas, segundo Fábia Pereira, é a preservação ambiental. “O Brasil possui mais de 70 milhões de hectares de áreas de preservação federal, mas há também as áreas de preservação estadual, municipal e particulares. Contudo, muitas destas áreas estão isoladas e, com o tempo, os recursos genéticos existentes acabam se perdendo. A conexão destas áreas por meio de corredores ecológicos é imprescindível e vem sendo estimulada no país”, ressalta.
O controle do uso de agrotóxicos e o estímulo à substituição destes por defensivos biológicos também podem contribuir para reverter essa situação. “Estimular a produção familiar e o consumo de produtos orgânicos também é importante”, acrescenta.
Mas, para a pesquisadora, entre tantas ações que podem ser realizadas, talvez a principal seja a educação. “Conscientizar a população da importância das abelhas e da preservação ambiental é fundamental, já que muitas ações podem ser realizadas em casa
e exigem a mudança dos hábitos diários da população, como redução do lixo, uso racional da água, manter um jardim com plantas atrativas para polinizadores e até mesmo a manutenção de colmeias de abelhas-sem-ferrão em casa”, conclui.
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Cientistas preocupados com a perda de colônias de abelhas - Instituto Humanitas Unisinos - IHU