08 Março 2016
Os polinizadores, que são fundamentais para um terço dos alimentos que comemos, recebem uma atenção especial, após um histórico informe divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU), que alerta para o perigo que as atividades humanas representam para muitas das 20 mil espécies que transportam o pólen.
A reportagem é de Sumon Dey, publicada por IPS e reproduzida por Envolverde, 04-03-2016.
Pela primeira vez, uma pesquisa realmente global estudou as abelhas, os abelhões (ou mamangabas) e as borboletas, tanto do ponto de vista de sua sobrevivência como em relação ao seu papel na hora de reforçar o valor nutricional de alguns alimentos. Uma parte enorme do trabalho realizado se concentrou na Ásia, onde as exportações de mel duplicaram na década passada, segundo o FAOStat, serviço de estatísticas da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO).
O informe da Plataforma Intergovernamental de Política Científica sobre Biodiversidade e Serviços dos Ecossistemas (IPBES) coincide com a publicação de outra pesquisa realizada por vários especialistas da FAO, que tem sua sede em Roma. Os dois estudos destacam que quase todas as plantas de floração dependem das abelhas e de seus parentes. Isso inclui 75% dos cultivos para a alimentação, de uma amêndoa a um quiabo.
Os meios de comunicação ocidentais publicam regularmente artigos sobre a redução dos enxames de abelhas na América do Norte e Europa. Entretanto, seu número duplicou no último meio século no mundo, inclusive quando o volume da produção obtida graças a elas tenha quadruplicado. Por causa da grande vulnerabilidade das abelhas europeias, uma variedade muito aplicada disposta a se concentrar em um só cultivo antes de passar a outro, cabe destacar que há dezenas de milhares de outros animais que podem participar da reprodução das plantas.
“Pássaros, raposas voadoras (uma variedade de morcego), lêmures e até caracóis e lagartixas podem e cumprem uma função”, explicou o professor Dharam P. Abrol da Universidade de Tecnologia e Ciências Agrícolas de Sher-e-Kashmir e autor de um novo livro sobre polinização, que se concentra nas principais espécies e cultivos da Índia.
A apicultura é uma atividade econômica alternativa nos países em desenvolvimento, porque o mel é um alimento não perecível e sua produção não requer terras, sendo necessário apenas um equipamento básico, e, inclusive, promove a biodiversidade. Além disso, as colmeias de abelhas europeias administradas não são tão efetivas como um enxame de polinizadores silvestres e, embora a zona dos trópicos lhes proporcione um fornecimento mais amigável de néctar todo o ano, as abelhas também requerem mais energia ali, em comparação com as zonas temperadas, segundo cientistas da FAO.
Para além da preocupação pela sobrevivência das abelhas, é importante a qualidade dos serviços de polinizadores para melhorar os sistemas alimentares humanos, especialmente para atender o problema da “fome oculta”: a generalizada falta de micronutrientes.
Outro estudo concluiu que a ingestão de ferro, zinco, fosfato e cálcio em meninos e meninas depende principalmente de outro tipo de alimento, enquanto a vitamina A tem uma grande dependência das frutas visitadas pelas abelhas, o que se mostrou especialmente verdadeiro em Bangladesh.
Ruhul Amin e seus colegas estudaram o comportamento de insetos forrageiros em uma área cultivada com manga e concluíram que a riqueza de polinizadores realmente estava por trás das pestes, além de outros insetos, como cigarras ou formigas. Felizmente, havia uma grande variedade de polinizadores, o que foi um elemento importante no efeito sobre as frutas. É um fato que necessita de maior fundamentação, mas é importante.
Uma conclusão-chave, demonstrada por uma investigação britânica, é que as plantas tendem a ter maior produção de sementes quando crescem em hortas urbanas, onde as flores tendem a ser variadas e abundantes, em comparação com as terras agrícolas, neste caso principalmente a colza em modalidade de monocultura.
De alguma maneira, embora seja irônico, as zonas urbanas também tinham maior probabilidade de oferecer melhores refúgios para os insetos do que os campos com monocultivos, sujeitos à ação das máquinas na lavoura.
Por isso, muitos agricultores procuram cada vez mais reservar os limites de suas terras para outras plantas e assim cultivar a biodiversidade, uma prática que se assemelha a “dar cama e desjejum aos polinizadores”, em contraposição a um operário migrante, citou como exemplo Goeff Coates, especialista em agricultura sustentável da corporação Syngenta.
As abelhas têm, de fato, um efeito marginal na produção de frutas, enquanto outros polinizadores silvestres têm o dobro de impacto, segundo um estudo de 41 sistemas de cultivos em todos os continentes dedicados à agricultura.
“Melhorar a diversidade e a densidade de polinizadores, assegurando que cada vez mais variedades diferentes de abelhas e insetos visitem seus cultivos, tem um impacto direto sobre a produção”, segundo Barbara Gemmill-Herren, coautora do informe da FAO. Ela e seus colegas estimam que uma ecologia com uma polinização mais diversificada, isto é, mais variedades de flores, reduzirão em um quarto a brecha de rendimento dos pequenos agricultores.
Os inseticidas químicos em geral são considerados prejudiciais para as abelhas, mas uma pesquisa realizada em Bangladesh, que estudou o algodão em Dinajpur, concluiu que os polinizadores silvestres eram muito superiores às abelhas europeias domesticadas, mas sugere que se use inseticida à noite. As flores se abrem pela manhã, se tornam rosadas à tarde e se fecham à noite, para não voltar a abrir mais.
A polinização humana não é um mito, mas seu uso está muito exagerado. O exemplo clássico é o das plantações de maçãs em Maoxian, na China, onde foi praticada muito durante a década de 1990, devido às circunstâncias locais. Mas é muito cara, obviamente, uma pessoa sozinha pode polinizar entre cinco e dez árvores por dia, e as maçãs já não são o principal cultivo no vale, segundo Uma Partap, cuja pesquisa foi a primeira a lançar luz sobre essa prática.
Os insetos polinizadores eram escassos na região devido ao generalizado uso de inseticidas e pela reticência dos agricultores em reservar terreno para diferentes variedades de árvores menos rentáveis para manter vivos os polinizadores. Os agricultores locais se voltaram para as ameixas, vendidas a um preço dez vezes superior ao das maçãs. Mas é irônico que os que mudaram de variedade também adotaram a prática de cultivos mistos para melhorar sua renda, o que melhorou o habitat dos polinizadores.
Os agricultores norte-americanos preocupados pelo apocalipse das abelhas também experimentaram a polinização mecânica. E, embora soprar pólen seja mais barato, cerca de US$ 300 o acre – o custo de apenas 15 maçãs na China –, não funciona porque as flores das amêndoas não estão sempre abertas, segundo Elizabeth Fichtnerm, da Universidade da Califórnia.
Mas pode depender da variedade de fruta. Uma pesquisa realizada no Estado norte-americano de Washington encontrou um método sofisticado de borrifar as maçãs com pólen. E outro estudo sul-africano concluiu que a polinização manual, como na China, rendia mais do que o trabalho das abelhas, mas os polinizadores silvestres eram melhores que ambos.
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Polinizadores atuam em 75% dos alimentos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU