08 Agosto 2017
“Não é de se admirar que, na riquíssima e paupérrima Nigéria, ocorram tragédias como esta. Infelizmente, o terrorismo e a violência criminosa já fazem parte do cotidiano lá. Desta vez, parece que não se trata de terrorismo, mas sim de um acerto de contas entre grupos rivais do crime organizado, que, infelizmente, envolveu os participantes de uma missa”. É assim que o padre Giulio Albanese, comboniano, excelente conhecedor da Nigéria e diretor da Popoli e Missione, revista da Conferência Episcopal Italiana.
A reportagem é de Luigi Accattoli, publicada por Corriere della Sera, 07-08-2017. A tradução è de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Mas, se não era terrorismo, por que temos todos esses mortos?
Porque a invasão de homens armados na igreja, que parece voltada à morte de alguém que eles consideravam que estava escondido lá, ocorreu por volta das 6h da manhã, durante a primeira missa, quando as pessoas estavam em pé para o canto do Glória. Atiraram contra a multidão que cantava.
Como podemos excluir a matriz terrorista? A Nigéria não é um dos palcos do incêndio islamista?
O terrorismo islamista, há oito anos, põe sob ferro e fogo o norte da Nigéria, que é de maioria muçulmana, mas esse massacre ocorreu no sul, em um Estado onde os muçulmanos são poucos, e o extremismo fundamentalista não está enraizado.
Por que a Nigéria é um terreno fértil para o terrorismo e a violência organizada?
Por causa das incríveis desigualdades: menos de 1% da população detém mais de 75% dos recursos do país. É fácil recrutar adeptos às metralhadoras entre os desesperados, quer você queira armá-los para radicalizá-los, quer você busque mão de obra para o crime. Além disso, existe uma falta endêmica de segurança que predispõe a fazer justiça com as próprias mãos.
Muitos massacres não fazem crescer entre a população a demanda de segurança?
Sim, fazem crescer. Mas a corrupção política, até hoje, sempre conseguiu gerenciar a necessidade de segurança para seu próprio benefício.
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Nigéria: ''Atiraram contra as pessoas durante o canto do Glória'' - Instituto Humanitas Unisinos - IHU