“Com a certeza de que o Senhor não abandona a sua Igreja”. Mensagem de Bento XVI por ocasião da morte do cardeal Meismer

Cardeal Joachim Meisner (Fonte: Wikipédia)

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18 Julho 2017

Abaixo, na íntegra, a mensagem – a original foi escrita em alemão – enviada no dia 15 de julho pelo “Papa emérito” Bento XVI à Arquidiocese de Colônia, na Alemanha, por ocasião do funeral do cardeal Joachim Meisner, um dos assinantes das dubia submetidas ao Papa Francisco, no ano passado, e que ainda não receberam resposta.

A mensagem é publicada por Sandro Magister, no blog Settimo Cielo, 17-07-2017. A tradução é do Cepat.

Eis o texto.

“... ainda que, às vezes, a barca está a ponto de naufragar”

Nestas horas em que a Igreja de Colônia e os crentes de todas as partes se despedem do cardeal Joachim Meisner, também eu estou com eles em meu coração e em minha mente e, por isso, cumpro com prazer o desejo do cardeal Woelki de dirigir a vocês algumas palavras de reflexão.

Quando na quarta-feira passada recebi por telefone a notícia do falecimento do cardeal Meisner, minha primeira reação foi de incredulidade, já que no dia anterior havíamos conversado por telefone. Através de sua voz ressoava o agradecimento pelo fato de que agora estava de férias, após ter participado, no domingo anterior, da beatificação do bispo Teofilius Martulionis, em Vilnius. O amor às Igrejas nos países vizinhos do Leste, que haviam sofrido sob a perseguição comunista, bem como o agradecimento por ter se mantido firmes durante os sofrimentos dessa época, lhe marcaram ao longo de sua vida. Por isso, não é por acaso que a última visita, em sua vida, foi para render homenagem a um dos confessores da fé nesses países.

O que me impressionou, especialmente na última conversa com o falecido cardeal, foi a serenidade quieta, a alegria interior e a confiança que ele havia encontrado. Sabemos que para ele, pastor e padre apaixonado, foi difícil deixar seu ofício, justamente em uma época na qual a Igreja necessita, de forma especialmente urgente, de pastores convincentes que resistam a ditadura do espírito da época e vivam e pensem decididamente a fé. Contudo, comoveu-me muito mais perceber que neste último período de sua vida ele havia aprendido a se soltar e vivia cada vez mais da profunda certeza que o Senhor não abandona a sua Igreja, ainda que, às vezes, a barca está a ponto de naufragar.

No último tempo, houve duas coisas que o deixavam cada vez mais alegre e convencido:

- Por um lado, contava-me, por vezes, como ficava cheio de uma alegria profunda ao experimentar no sacramento da penitência a forma em que justamente homens jovens – antes de tudo, também varões jovens – vivem a graça do perdão – o presente de ter realmente encontrado a vida que só Deus pode lhes dar.

- Por outro lado, o que o comovia e alegrava era o silencioso crescimento da adoração eucarística. Na Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, este foi para ele um ponto central: que haja adoração, um silêncio no qual só o Senhor fala aos corações. Alguns especialistas em pastoral e em liturgia opinavam que não se pode alcançar um silêncio tal, quando se contempla o Senhor em meio a uma quantidade tão grande de pessoas. Alguns também opinavam que a adoração eucarística como tal está superada a partir do momento em que o Senhor quer ser recebido no pão eucarístico e não quer ser olhado. Mas, não se pode comer este pão como qualquer alimento e “receber” o Senhor no sacramento eucarístico requer todas as dimensões de nossa existência... que o receber deve ser adoração se tornou, enquanto isso, muito claro. Desse modo, o momento da adoração eucarística na Jornada Mundial da Juventude, em Colônia, se converteu em um acontecimento interior que não só foi inesquecível para o cardeal: para ele, este momento se manteve sempre presente e se tornou uma grande luz.

Quando em sua última manhã o cardeal Meisner não apareceu na Missa, foi encontrado morto em seu quarto. O Breviário teria escapado de suas mãos: ele faleceu rezando, aos olhos do Senhor, em diálogo com o Senhor. O modo de morrer que lhe foi concedido ressalta, mais uma vez, como ele viveu: aos olhos do Senhor e em diálogo com ele. Por isso, podemos encomendá-lo, confiando sua alma à bondade de Deus.

Senhor, nós vós agradecemos pelo testemunho de seu servo Joachim. Permita-lhe ser, agora, intercessor para sua Igreja de Colônia e para todo o mundo.

Requiescat in pace!

Bento XVI, Papa emeritus

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