12 Julho 2017
"Prefiro que as pessoas ordenadas tenham a opção do casamento. Essa opção abençoa muito mais a igreja do que a amaldiçoa".
O comentário é de Bill Tammeus, presbítero e ex-colunista de religião do jornal The Kansas City Star e autor de “The Value of Doubt: Why Unanswered Questions, Not Unquestioned Answers, Build Faith”, sem tradução ao português, publicado por National Catholic Reporter, 10-07-2017. A tradução é de Isaque Gomes Correa.
Há uns dez ou 12 anos, escrevi um artigo para o jornal The Kansas City Star sobre um padre casado radicado no sul do Kansas.
Ele vivia um conflito interno. Amava sua esposa e amava a Igreja Católica. Dizia que se sentia casado com ambas, mas que esta lealdade dividida não era fácil. Na verdade, ele me contou que se fosse uma figura católica com autoridade para aprovar o próprio pedido de conversão ao catolicismo e se ordenar padre, poderia muito bem dizer não.
Esta história me veio à lembrança dias atrás quando li, no National Catholic Reporter, sobre o bispo emérito de Portsmouth, na Inglaterra, dizendo que a ordenação de homens casados ao sacerdócio “precisa ser explorada abertamente dentro da Igreja na Inglaterra e no País de Gales, nos níveis nacional e diocesano”. Quanto a mim, já penso que o assunto deveria ser discutido em toda a Igreja universal.
Venho de um ramo do cristianismo que permite que homens casados sejam ordenados ao sacerdócio (ramo que, desde 1956, tem ordenado mulheres, as quais também podem ser casadas). Esta tradição de pastores/as casados/as tem sido maravilhosa para a Igreja Presbiteriana nos EUA? Não. Mas, no geral, serve a seus propósitos.
Portanto pode ser útil aos católicos conhecerem um pouco mais sobre a nossa experiência na medida em que refletem sobre a adoção (ou, mais precisamente, sobre a readoção) da prática de ter padres casados. Abaixo está o que penso ter dado certo:
• Quando prestam aconselhamento pré-matrimonial ou matrimonial, os nossos pastores casados (homens ou mulheres) podem trazer a própria experiência pessoal, inclusive as vezes que necessitaram de ajuda externa para resolver os próprios problemas. Geralmente isto é reconfortante aos que buscam um aconselhamento.
• A maioria dos nossos pastores casados entende as tribulações e as alegrias da paternidade porque eles próprios são pais. Os pais que buscam aconselhamento entendem que a pessoa que está ajudando também já esteve no lugar de pedir ajuda. E, como pais, os nossos pastores, ou pastoras, muitas vezes estão antenados com a forma de estruturar programas educacionais aos filhos de idades variadas.
• Pastores casados tendem a ter um sistema de apoio já em suas famílias, o que pode ser uma vantagem e uma desvantagem. Às vezes, eles não percebem que precisam de um aconselhamento profissional externo que seus familiares não estão capazes de prover. Mas na maior parte os entes próximos são uma fonte de amor e apoio.
• Nos primeiros anos depois da ordenação, os pastores/as casados/as podem contar com seus parceiros, ou parceiras, para que os ajudem a vencer os problemas na igreja, a amar e seguir firme quando isso é exatamente tudo o que precisam. E, no momento de se retirar do serviço ativo, na hora da aposentadoria, ter um parceiro com quem partilhar essa transição por vezes difícil é, muitas vezes, uma bênção.
Há mais o que dizer, porém abaixo listo o que pode ser problemático ao se ter um clero casado:
• Como sugeria o padre casado do Kansas de que acima falei, estar casado significa geralmente um afastamento difícil para com o trabalho de igreja. Cheguei à conclusão de que o pastor que é mais comprometido com o ministério pastoral do que com o próprio parceiro, ou parceira, acaba sendo nem bom pastor, nem bom marido.
• A tentação sexual não vai embora, seja para pastores casados, seja para padres celibatários. E isso pode prejudicar uma congregação. Na verdade, algo assim aconteceu em minha própria congregação e em minha própria vida, quando a minha primeira esposa teve um caso com o nosso pastor, o que acabou levando ele a sair, terminando com o meu casamento e criando um escândalo em nossa igreja.
• Sacerdotes casados simplesmente não são disponíveis tanto quanto os pastores solteiros devido a alguns aspectos da vida religiosa. Em minha congregação, sabemos que a nossa pastora solteira – não chegou aos 30 anos ainda – é mais propensa a aceitar um convite para um almoço ou jantar do que o nosso pastor sênior, homem casado, de 49 anos, com três filhos e uma esposa, e com uma carreira jurídica.
No fim, prefiro que as pessoas ordenadas tenham a opção do casamento. Essa opção abençoa muito mais a igreja do que a amaldiçoa.
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Padres casados: vantagens e desvantagens - Instituto Humanitas Unisinos - IHU